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Como a geração Z transforma atletas em ícones da internet?
*Flávio Santos
O encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 não só marcou o fim de mais um ciclo de competições, mas também revelou uma transformação significativa na maneira como esses jogos são vividos e discutidos, especialmente entre a Geração Z. Este grupo, tradicionalmente mais desconectado do universo esportivo, encontrou uma nova forma de engajamento que não pode ser ignorada.
Foi a Olimpíada das redes sociais, das novas transmissões como a Cazé TV, e da internet criando novos ídolos. Esse público que passa em média 10 horas do dia conectado, ajudou a impulsionar e dar força aos jogos e esse comportamento consequentemente está moldando o mercado da creator economy no cenário nacional. A digitalização desses jogos foi um fator crucial para essa mudança, já que anteriormente as Olimpíadas eram vistas como um evento de massa, assistido em grande parte por meio da televisão e da mídia tradicional.
No entanto, a integração das redes sociais e o aumento da produção de conteúdo por parte de atletas permitiram uma conexão mais direta e personalizada com o público jovem. A geração Z, conhecida por sua afinidade com o digital e por suas preferências por experiências interativas, mergulhou de cabeça nos jogos de uma maneira inédita.
Cada um com sua presença e autenticidade, os esportistas não apenas compartilham suas conquistas e treinos, mas também interagem de forma autêntica com seus seguidores, oferecendo uma visão íntima de sua jornada olímpica. Seus posts, vídeos e stories criam uma narrativa que ressoa com o público jovem, refletindo a combinação de talento esportivo com uma habilidade excepcional para conectar-se por meio das plataformas digitais.
E além desse tipo de conteúdo, os memes foram grandes protagonistas das conversas geradas nas mais diferentes redes como Instagram, Tik Tok e X, passando por formatos como estáticos, gifs e montagens. E esses virais não ampliaram apenas o alcance do evento, mas também humanizaram os atletas, tornando assim o esporte mais acessível e divertido para um público que antes não se sentia atraído pela competição olímpica. Além disso, a personalização desses memes, muitas vezes adaptados para refletir humor e referências culturais dessa geração com imagens dos atletas, como por exemplo Rebeca Andrade falando sobre as receitas que salva no Instagram, ou o famoso ‘tá gravando Netflix?’ quando Simone Biles entrava em cena na ginástica, ajudou a criar uma onda de engajamento que dominou e cresceu as redes desses esportistas.
Acabamos de viver as Olimpíadas mais digitais da história, onde os formatos ‘’vertical first’’ ganharam protagonismo. É válida a reflexão que este ano não apenas marcaram um momento de grande desempenho atlético e o resgate do nosso patriotismo, mas também um ponto de reflexão na maneira como essa geração interage diretamente com o esporte. À medida que avançamos, é interessante pensar nas possibilidades e nas inovações que poderão surgir para manter a chama olímpica acesa para o que vem por aí.
Olhando para o futuro, as Olimpíadas de Los Angeles 2028 têm a promessa de continuar essa transformação. Com a cidade californiana conhecida por sua inovação e influência na cultura pop, podemos esperar uma integração ainda mais profunda das Olimpíadas com o digital e o social.
Flávio Santos – CEO da MField
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O futuro falou alto no Digitalks 2025 e as marcas precisam ouvir

*Claudio Santos e Daniel Rosa
O Digitalks 2025 deixou claro que o mercado de comunicação vive um momento decisivo. Entre tecnologia, cultura pop, criatividade e profundos ajustes no comportamento do consumidor, algumas tendências se destacaram pela força com que estão moldando e acelerando a transformação do setor. Cinco tendências, um mesmo recado.
De IA a Sonic Branding, passando pela força da Globo, pela reinvenção criativa do SBT e pelas colaborações culturais do porte de Stranger Things.
1. IA como infraestrutura, não mais como ferramenta
O painel de Pyr Marcondes foi categórico: a inteligência artificial deixou de ser acessório e passou a ser o motor central dos novos modelos de negócio.
Segundo ele, startups e empresas que não forem AI-first se tornarão obsoletas em meses, não em anos. A visão é incômoda, mas necessária: enquanto as Big Techs continuam investindo pesado em grandes modelos de linguagem, a verdadeira revolução está acontecendo nas aplicações específicas, nas microtarefas que resolvem dores reais e aceleram produtividade. O Digitalks mostrou que IA já não é diferencial competitivo. É requisito básico para existir no mercado.
2. Sonic Signature: o som como identidade de marca
A apresentação da Mastercard trouxe um conceito que ainda é pouco explorado no Brasil: a força das marcas sonoras. Em um ambiente saturado de informação visual, a Sonic Signature, um conjunto de sete notas que representa a marca globalmente e reforça uma tendência: criar vínculos emocionais usando estímulos que fogem do óbvio.
O funil de compra deixou de ser linear; o contato com a marca é fragmentado e disperso. Nesse contexto, símbolos auditivos tornam-se âncoras de memória. A era do Quantum Marketing aposta menos em dados brutos e mais em conexões sensoriais. A Mastercard entendeu isso antes da maioria e essa tendência deixou claro que outras marcas precisam seguir o exemplo.
3. Globo: a força de um ecossistema crossmedia e transgeracional
A fala de Gabriela Sicito, da GloboAds, reforçou um ponto que muitos players digitais tentam ignorar: a Globo ainda é e continuará sendo o maior ecossistema de comunicação do país. Com alcance de 98% da população brasileira, o grupo combina TV aberta, streaming e plataformas digitais com uma naturalidade que poucas empresas no mundo conseguem replicar.
A TV Globo mantém enorme força entre o público 40+, enquanto o Globoplay reúne jovens abaixo dos 30. Publicidade segmentada por cidade ou estado, ações de performance local e indicadores robustos completam a equação. Se há uma tendência consolidada, é esta: o futuro não será apenas digital; será crossmedia, transgeracional e guiado por dados.
4. SBT e o retorno da criatividade que prende e não apenas que atrai
No painel do SBT, uma ideia simples ressoou com força: mesmerization captura o olhar; criatividade mantém a atenção. Não basta gerar cliques, é preciso gerar conversa.
O resgate das câmeras escondidas exemplifica essa tese. O case global da Menina Fantasma, que ultrapassou 300 milhões de views, mostrou que formatos clássicos podem renascer quando reinterpretados para novas gerações. Hoje, versões imersivas aparecem em eventos como a CCXP, mostrando que entretenimento bem construído continua sendo uma das linguagens mais eficientes para marcas.A tendência é clara: o conteúdo que vence é o que combina engenharia do olhar com inteligência narrativa.
5. Stranger Things + Valda: nostalgia como estratégia de marca
O painel sobre marcas e entretenimento apresentou um dos cases mais simbólicos do evento: a collab Valda + Stranger Things. A força da ação não veio apenas da visibilidade, mas da conexão genuína. Ambos os universos carregam estética e memória afetiva dos anos 80 e foi exatamente essa sintonia que gerou relevância.
Mas o debate trouxe também um alerta importante: viralizar é fácil; manter relevância é difícil. A verdadeira tendência aqui não é a nostalgia em si, mas a capacidade de transformá-la em continuidade de narrativa, algo que poucas marcas conseguem sustentar.
O futuro da comunicação será híbrido, sensorial, inteligente e profundamente cultural. E, se o Digitalks antecipou alguma coisa, é que quem não acompanhar esse movimento ficará para trás — mais rápido do que imagina.
*Claudio Santos – Presidente do Next Group
*Daniel Rosa – CEO do Digitalks Indie Summit
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O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

*Vinicius Martinez
Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.
Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.
Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.
A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.
O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.
Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.
O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.
Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.
*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK








