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Alexis Pagliarini

ESG em Eventos: em que estágio estamos?

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Por Alexis Pagliarini

À medida em que nos aproximamos de 2030, cresce a pressão da sociedade para que todas as instituições se engajem, não só às práticas de sustentabilidade ambiental, mas também aos critérios de responsabilidade social e de governança ética e transparente, que são as variáveis fundamentais por trás do acrônimo ESG.

O ano de 2030 é o deadline do Pacto Global, firmado em 2015 por 195 países e ratificados por 147 (inclusive o Brasil). Foi o famoso Acordo de Paris, onde foram também estabelecidos os 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. É uma busca coletiva para literalmente salvar a Terra de um aquecimento global irretornável.

Segundo estudiosos do clima, se superarmos 1,5°C de aquecimento global – em relação ao início da era industrial – poderemos atingir um ponto de inflexão sem retorno. Ou seja, nosso planeta pode partir para um processo de degradação insuperável. Há diversos sinais evidentes da gravidade do momento. O derretimento acelerado de geleiras, as catástrofes climáticas por todo o mundo, com enchentes bíblicas de um lado e secas crescentes em outro.

Nunca foi tão evidente a urgência. É preciso que todos – pessoas jurídicas e físicas – tomemos consciência e adotemos medidas para mitigar os efeitos severos do aquecimento global. Pelo lado social, há medidas igualmente urgentes a serem tomadas. A desigualdade no mundo só aumenta. Perto de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo! Há também um recrudescimento nas relações sociais com um aumento da xenofobia e o preconceito racial, sexual e religioso.

Precisamos avançar de forma acelerada nessas questões! Resta ainda a reflexão sobre ética e transparência. O Brasil amarga uma incômoda 94ª posição no ranking da Transparency International, que mede o nível de transparência e combate à corrupção pelos governos. Enfim, numa visão macro, passou da hora de encararmos com mais seriedade as questões ESG.

E como estão os eventos no meio disso tudo? Bem, os eventos não são uma bolha estranha a tudo o que acontece ao redor. Ao contrário, pela sua visibilidade e envolvimento de muitas pessoas, os eventos são alvos de muito escrutínio e de potenciais críticas. O setor, portanto, deveria liderar as discussões para alinharem suas atividades aos critérios ESG. E como estamos? Há algumas iniciativas louváveis. O tema já é objeto de um Think Tank da CBIE – Câmara Brasileira da Indústria de Eventos, do qual sou um dos líderes, e, recentemente, a UBRAFE também criou um grupo de trabalho, o qual também assessoro, para um esforço concentrado em relação ao assunto.

Há ainda uma mobilização de clientes mais conscientes que provocam uma reação em cadeia junto a todos os players. Tenho sido procurado por gestores de venues e organizadores para contribuir com a implementação de um programa consistente. E sempre digo: “o importante é começar!” Antes que você seja “obrigado” pelo mercado a fazê-lo. Sim, são mais variáveis a serem acrescentadas ao já extenso check-list dos organizadores de eventos. Mas muitas delas já estão em prática. Com pragmatismo e dedicação, conseguiremos avançar sem muitas dores. Ao contrário, o prazer de trilhar uma jornada pautada no bem-estar de todos é gratificante e justifica plenamente o esforço.

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Alexis Pagliarini

COP30: Momentos de tensão

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Por Alexis Pagliarini

Este é o terceiro artigo sobre a COP30 que escrevo por aqui. Desde o primeiro, já alertava sobre o risco iminente de colapso estrutural da cidade de Belém para receber um evento dessa magnitude. O que vemos agora é que a realização da COP30 em Belém, marcada para novembro de 2025, enfrenta um risco real — não pelas pautas climáticas, mas por uma crise humanamente previsível: a falta de hospedagem acessível e estruturada na cidade-sede. O que deveria ser uma oportunidade histórica para o Brasil se transformar em cenário de controvérsia por números: enquanto a expectativa é reunir cerca de 50 a 45 mil participantes, Belém dispõe de apenas cerca de 18 000 leitos formais.

O que já é um gargalo logístico transforma-se em crise quando se observa os valores praticados: hospedagens sendo oferecidas a até US$ 700 por diária — 10 a 15 vezes acima do preço normal — ou chegando a cifras surreais como R$ 100 000 por noite ou imóveis por R$ 2 milhões no período. Em uma comparação que beira o absurdo, uma acomodação passou de cerca de US$ 11 para US$ 9 320 por dia.

Diante desse colapso, o alarmante veio à tona com uma reunião de emergência realizada pela ONU em julho de 2025, quando delegações — sobretudo dos países em desenvolvimento — expressaram indignação e alertaram para possíveis cortes ou boicotes à conferência, se não houvesse resposta rápida. Alguns chegaram a pedir formalmente a transferência da COP30 para outra sede.

O governo brasileiro, confrontado com essa situação, se mobilizou. Firmou acordos com hotéis, articulou o uso de navios de cruzeiro com cerca de 6 mil leitos, ampliou alternativas como escolas, motéis, igrejas e a temida “Vila COP”, e manifestou o compromisso de apresentar um plano de mitigação até 11 de agosto.

Apesar disso, os efeitos permanecem preocupantes: consultas à nova plataforma de reservas mostram valores entre US$ 360 e US$ 4 400 por noite, além de quase 2 000 pessoas em lista de espera. O temor de exclusão de países e da sociedade civil cresce: se apenas os setores mais ricos conseguirem garantir hospedagem, a COP30 corre o risco de se tornar um evento elitizado, prejudicando sua legitimidade e o protagonismo brasileiro na agenda ambiental global.

Esse contexto é ainda mais delicado dado o cenário político internacional — com os Estados Unidos retirando-se do Acordo de Paris —, o que torna essencial que o Brasil conduza a COP30 de maneira simbólica e eficaz. Se falhar em garantir acesso equitativo, pode implicar em retrocessos diplomáticos e ambientais, perdendo uma oportunidade decisiva de reafirmar sua liderança e compromisso climático.

Em síntese, a COP30 já enfrenta um adversário real antes mesmo de começar: a incapacidade logística de oferecer hospedagem digna e acessível. Se os riscos — desde desertores até críticas globais — não forem contidos, o evento pode falhar em sua intenção mais básica: ser uma plataforma inclusiva para o futuro climático.

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Alexis Pagliarini

Sem o “G” não há ESG

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Nos últimos anos, tornou-se comum ver empresas declarando adesão aos princípios ESG. Sustentabilidade passou a fazer parte da narrativa institucional e muitos executivos citam a sigla com frequência em painéis, relatórios e apresentações corporativas. Mas, para além do discurso, é na prática cotidiana que se revela o verdadeiro compromisso — ou a sua ausência.

E entre os três pilares do ESG, é justamente o “G” de Governança que costuma receber menos atenção. Enquanto a pauta ambiental (E) e as ações sociais (S) ganham mais visibilidade, a governança — que diz respeito à ética, transparência, conformidade e responsabilidade nas relações — ainda é tratada por muitos como um item técnico ou burocrático. Isso é um erro estratégico e moral.

Governança é a base. Sem ela, os compromissos ambientais e sociais se tornam frágeis, oportunistas ou incoerentes. Um exemplo claro disso está na forma como algumas empresas, mesmo se dizendo “sustentáveis”, tratam seus fornecedores. É comum a imposição de prazos abusivos de pagamento — 120, 150 dias — que comprometem o fluxo de caixa de pequenos negócios e colocam em risco a sustentabilidade da cadeia produtiva. Essas práticas revelam uma lógica de curto prazo e lucro a qualquer custo, que vai na contramão dos princípios do Capitalismo Consciente, segundo o qual todos os stakeholders devem se beneficiar da atividade econômica, não apenas o contratante.

No setor de eventos, esse desafio se intensifica. A informalidade ainda predomina em muitos bastidores, com profissionais contratados sem registro formal, pagamentos por fora, jornadas exaustivas e ausência de condições mínimas de trabalho. Há, infelizmente, casos que se aproximam de regimes análogos à escravidão, especialmente na montagem e desmontagem de estruturas. A busca por redução de custos não pode ser usada como justificativa para negligência ética.

Além disso, vemos frequentemente práticas de concorrência desleal, favorecimento em processos de seleção de fornecedores, e, em casos mais graves, corrupção institucionalizada nos bastidores de grandes eventos. Não se trata apenas de “dar um jeitinho”. Trata-se de práticas que violam os fundamentos do ESG e perpetuam um modelo empresarial excludente, opressor e insustentável.

A verdadeira Governança exige:

Transparência nas relações comerciais;
Conformidade com as leis trabalhistas e fiscais;
Respeito aos direitos humanos e aos limites da dignidade no trabalho;
Processos concorrenciais justos e auditáveis;
Compromisso com a integridade, mesmo nos detalhes invisíveis ao público.

Sem isso, qualquer ação “verde” ou “social” perde força. ESG não é um rótulo, é um sistema de valores que se traduz em decisões cotidianas — inclusive (e sobretudo) nas que ninguém está vendo.

É hora de o setor de eventos — e o meio empresarial como um todo — amadurecer sua compreensão sobre o “G”. Não avançaremos na construção de uma nova economia se continuarmos aceitando o velho modo de fazer negócios: informal, desigual e, muitas vezes, imoral.

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