Dilma Souza Campos
Mulheres negras impulsionam mudanças na sociedade
Por Dilma Campos
Em 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data que propõe a união dessas mulheres e visa conscientizar as pessoas e a sociedade sobre o racismo e machismo enfrentados por elas não só nas Américas, mas em todo o mundo.
Nessa data, logo me vem à lembrança a frase da ativista norte-americana Angela Davis, que abre esse texto. No Brasil, embora os negros representem 56,1% da população de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), essa representatividade não é refletida na liderança das empresas. Ocupamos apenas 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país. No recorte das mulheres negras, ocupamos apenas 0,4% dessas posições.
Por estarmos na base da pirâmide social no que se refere à renda e oportunidades de trabalho, devido à uma herança histórica de preconceito, discriminação e racismo estrutural, quando alçamos posições de liderança, mudamos a base do capitalismo. Tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide. E a revolução está em curso!
É inegável que temos muitos avanços para comemorar. Pra começar, pela primeira vez na história o país tem quatro ministras de Estado negras, fato absolutamente inédito no país. Recomendo a leitura de um artigo publicado na Folha de SP, assinado por elas, que mostra bem o impacto que essa decisão do atual governo pode causar às mudanças estruturais que precisamos fazer no país.
No capítulo das políticas públicas, o Ministério da Igualdade Racial, representado pela ministra Anielle Franco, iniciou as primeiras ações concretas contra o racismo estrutural brasileiro e a inclusão racial, como um decreto para ocupar 30% das vagas em cargos comissionados da administração pública federal para negros e 8% das vagas em contratações públicas na administração federal para mulheres vítimas de violência. Ela também sancionou a Lei 14.132/23 que torna a injúria racial um crime inafiançável e imprescritível, equiparado ao racismo, com pena de 2 a 5 anos de prisão.
Nas empresas, diversos programas e iniciativas estão começando a ampliar a participação feminina e negra nos quadros de liderança e quero destacar alguns deles:
– O Conselheira 101 (C101), criado em 2020 por um coletivo de mulheres, conta com o apoio da KPMG e da Women Corporate Directos (WCD) é uma iniciativa que visa ampliar a participação de mulheres negras em Conselhos de Administração. Das participantes do programa, 47% ingressaram em conselhos consultivos, fiscais, eméritos e administrativos;
– A iniciativa da B3, que criou novas regras relacionadas à diversidade e inclusão para as empresas listadas na Bolsa. Elas devem eleger pelo menos uma mulher e um integrante de minorias (pessoas pretas e pardas, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência) nos conselhos de administração e diretoria estatutária das companhias abertas até 2026;
– O Movimento Raça é Prioridade, iniciativa do Pacto Global da ONU em parceria com o CEERT e ONU Mulheres, quer alcançar 1.500 empresas comprometidas em ter 50% de pessoas negras em posição de liderança até 2030
Esse movimento em direção a postos de liderança é um diferencial, pois somente nessas posições conseguiremos agir proativamente em relação à diversidade nas organizações. Aliás, o Panorama Mulheres 2023, estudo conduzido pelo Talenses Group e o Insper, que ouviu 381 empresas brasileiras, traz dados super interessantes que comprovam isso.
O estudo revelou que quando a presidência de uma companhia é exercida por uma mulher há maiores chances de se ter uma alta gestão com mais diversidade, em relação a gênero e composição étnico-racial.
“Em empresas com presidentes homens,
apenas 4,1% das diretoras mulheres são negras.
Quando a presidência é feminina,
esse percentual cresce para 17,9%”
[Dados do estudo Panorama Mulheres 2023]
Apesar de comemorar todos esses avanços, tenho convicção de que existe ainda um longo caminho a percorrer. O importante é que o movimento está em curso e cada vez mais acelerado. Convido você que está lendo esse texto, independente de gênero, raça, ou classe social, que se una a nós e contribua para a mudança que queremos ver na sociedade do futuro!
Dilma Souza Campos
Seis motivos para aumentar a representatividade de líderes negros nas empresas
Por Dilma Campos
Os negros representam 56,1% da população brasileira (IBGE), mas ocupam apenas 4,7% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do país, segundo levantamento do Instituto Ethos. No recorte de gênero, as mulheres negras representam apenas 0,4% dessas posições.
Basta uma rápida olhada nestes números para constatar que, apesar do avanço nas discussões sobre práticas ESG e D&I (Diversidade e Inclusão) nas organizações, há ainda um longo caminho a ser percorrido. O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, estima que “se o avanço da representatividade continuar nesse ritmo, só teremos a equidade demográfica em todos os níveis hierárquicos daqui a 100 anos”.
Uma fala que nos choca e impulsiona a ter intenção e ação para mudar esse cenário.
No mês da Consciência Negra, resolvi reunir seis motivos que demonstram a importância de aumentar a representatividade de líderes pretos nas organizações.
Em primeiro lugar, para que outros profissionais que estejam em funções hierárquicas mais baixas tenham uma referência que mostre que é possível chegar lá. Parece algo simples, mas só quem é negro sabe a importância disso na carreira.
Antes de empreender e ser CEO da Nossa Praia, cheguei à posição de diretora executiva de um grande grupo de comunicação, mas era a única líder preta nessa função.
O segundo motivo é permitir uma inclusão real de pessoas negras na empresa. Não adianta criar vagas afirmativas e aumentar o número de colaboradores pretos na organização se no dia a dia vieses inconscientes os excluem das oportunidades e do lugar de fala, bem como das promoções e oportunidades de crescimento que surgem. Infelizmente, situações de constrangimento e preconceito ainda são uma realidade em muitas empresas. A presença de executivos negros ajuda a combater preconceitos e estereótipos raciais na cultura organizacional e amplia as oportunidades de outras pessoas pretas.
O terceiro motivo é financeiro. O relatório “Why diversity matters”, da McKinsey, mostra que, para cada 10% de aumento na diversidade racial e étnica dos executivos seniores, o Ebitda da organizações aumenta 0,8%. Isso se explica, em parte, pelo quarto motivo que vem a seguir.
Lideranças diversas contribuem para o bem-estar e a felicidade no trabalho: 64% dos colaboradores indicam que estão felizes na empresa, em comparação com apenas 31% das empresas que não são comprometidas com a diversidade! Funcionários de empresas comprometidas com a diversidade têm 152% maior probabilidade de propor novas ideias e tentar novas formas de fazer as coisas, e probabilidade 73% maior de relatar uma cultura de liderança em prol do trabalho em equipe, o que afeta positivamente a forma como as pessoas se comportam. Impacto positivo na sensação de pertencimento e na produtividade da equipe resumem essa equação.
Motivo número 5: Diversidade e inovação caminham lado a lado. O estudo da McKinsey aponta que os funcionários de empresas percebidas como comprometidas com a diversidade são 66% mais propensos a relatar que seus líderes promovem a inovação. Aliás, a relação entre inovação e diversidade já foi tema de um outro artigo que escrevi aqui na Revista Live Marketing.
Múltiplos olhares para as necessidades do consumidor em um mundo globalizado e dinâmico é o sexto motivo para ter líderes diversos no quadro executivo das empresas. A velocidade das mudanças e o impacto da tecnologia exigem times que enxerguem várias possibilidades e cenários, além de soluções para os desafios que surgem. Para simplificar: enquanto times homogêneos enxergam um problema por apenas um ângulo, equipes heterogêneas e diversas têm uma visão ampliada por diferentes pontos de vista, o que facilita a solução criativa.
Deixo aqui uma reflexão final: diante de tantas vantagens, faz sentido continuar perpetuando o mesmo modelo de liderança do passado? Ou sua empresa está pronta para abraçar todas essas oportunidades que a diversidade no quadro de liderança proporciona?
Dilma Souza Campos
Hackeamos o Canvas! Incluímos ESG no Business Model Canvas
Por Dilma Campos
Se alguém me dissesse há 10 anos que eu estaria no palco do Rio Innovation Week no mesmo dia da palestra prática de Alex Osterwalder, o inventor do Business Model Canva, apresentando um modelo hackeado dessa ferramenta de gestão que o mundo inteiro utiliza para ampliar a ferramenta com o olhar do ESG, eu provavelmente não acreditaria.
Quando eu olho para a foto do Alex nos parabenizando por essa inovação, percebo que de fato a economia regenerativa se apresenta como o caminho mais viável para a sobrevivência dos negócios e do planeta e que a conscientização dessa necessidade evoluiu muito nesses 10 anos. Mas ainda há muito a fazer!
Por isso, para ajudar as empresas nessa jornada de transformação, lançamos no dia 5 de outubro o Business Model (Re)Generation Canvas (BMREG), releitura do Modelo Canvas, em um dos maiores eventos de inovação e tecnologia da América Latina, que recebe mais de 100 mil pessoas no Píer Mauá, Rio de Janeiro.
O BMREG foi desenvolvido de forma colaborativa pela comunidade de prática #ESGpraJÁ, da qual faço parte. Somos um Grupo de Estudos Avançados em ESG e Estratégia Criativa com o objetivo de impulsionar as práticas ambientais e sociais dos negócios e marcas. Nosso objetivo é buscar soluções concretas e práticas para trazer o ESG para a realidade das empresas.
Para operacionalizar essa ideia, entendemos que era necessária uma ferramenta que ajudasse a desenvolver novos modelos de negócio com base nessas premissas sustentáveis. Recorremos então à grande referência mundial, o Business Model Canvas de Osterwalder, apresentado no best-seller Business Model Generation, livro que já foi traduzido para mais de 30 idiomas e é uma das ferramentas mais usadas do mundo.
Com uma referência tão consolidada globalmente, não fazia sentido desenvolver outra do zero. Decidimos então hackear a ferramenta e acelerar um reframing do Canvas com a proposta de tornar os negócios lucrativos e regenerativos ao mesmo tempo.
Quadrantes do Canvas e Economia Regenerativa
O que o BMREG faz é propor uma adequação dos 9 quadrantes do Canvas original às novas necessidades de negócio dos tempos atuais.
Vamos entender como isso funciona na prática: quando o Canvas se refere ao quadrante de Segmento de Clientes, ele propõe uma investigação criativa das dores dos clientes que estão no foco do negócio. No BMREG, o escopo é ampliado para todos os stakeholders: além dos clientes, é preciso ampliar a visão e pensar nas dores dos fornecedores, colaboradores, acionistas, da sociedade e do planeta.
O mesmo exercício se aplica ao quadrante Proposta de Valor do Canvas tradicional, que é a resposta da empresa – em forma de produtos, serviços ou experiências – para as dores e desejos dos clientes. No BMREG, devemos pensar no Propósito de Valor do negócio, que é muito mais abrangente. O propósito de valor mescla o propósito do negócio – motivo pelo qual aquele negócio existe e porque seria bom para todos os seus stakeholders que ele continuasse existindo – ao valor que pode ser gerado para todos os stakeholders.
Em Relacionamento com clientes, a proposta do BMREG é de que esse quadrante fale de Relacionamentos Regenerativos. A construção relacional é um capítulo super estratégico para a experiência do cliente como um todo e para o sucesso do negócio. Ou seja, o relacionamento com todos os stakeholders deve ser baseado em práticas saudáveis, transparentes e de impacto positivo. Saúde mental dos colaboradores e marketing regenerativo são propostas aplicáveis deste quadrante.
Dessa forma, os 9 quadrantes do Canvas foram repensados para refletir a abrangência e a complexidade dos negócios em uma época que precisamos encontrar soluções práticas para os desafios ambientais e sociais do planeta.
De uma forma simplificada, como podemos saber se uma marca ou empresa está plenamente alinhada com os novos tempos? A resposta é que ela precisa ser lucrativa e regenerativa ao mesmo tempo.
Essa é uma jornada de transformação gradual e contínua, que começa com uma simples decisão. A decisão de querer fazer parte da construção de um mundo sustentável para todos os que habitam nele: todos os stakeholders do negócio, o meio ambiente e a sociedade.
O BMREG é nossa contribuição colaborativa e open source (gratuita), disponível para todas as pessoas e empresas que decidiram fazer parte desse novo mundo. Junte-se a nós na missão de tornar nosso planeta um lugar mais sustentável!