Dilma Souza Campos
Hackeamos o Canvas! Incluímos ESG no Business Model Canvas
Por Dilma Campos
Se alguém me dissesse há 10 anos que eu estaria no palco do Rio Innovation Week no mesmo dia da palestra prática de Alex Osterwalder, o inventor do Business Model Canva, apresentando um modelo hackeado dessa ferramenta de gestão que o mundo inteiro utiliza para ampliar a ferramenta com o olhar do ESG, eu provavelmente não acreditaria.
Quando eu olho para a foto do Alex nos parabenizando por essa inovação, percebo que de fato a economia regenerativa se apresenta como o caminho mais viável para a sobrevivência dos negócios e do planeta e que a conscientização dessa necessidade evoluiu muito nesses 10 anos. Mas ainda há muito a fazer!
Por isso, para ajudar as empresas nessa jornada de transformação, lançamos no dia 5 de outubro o Business Model (Re)Generation Canvas (BMREG), releitura do Modelo Canvas, em um dos maiores eventos de inovação e tecnologia da América Latina, que recebe mais de 100 mil pessoas no Píer Mauá, Rio de Janeiro.
O BMREG foi desenvolvido de forma colaborativa pela comunidade de prática #ESGpraJÁ, da qual faço parte. Somos um Grupo de Estudos Avançados em ESG e Estratégia Criativa com o objetivo de impulsionar as práticas ambientais e sociais dos negócios e marcas. Nosso objetivo é buscar soluções concretas e práticas para trazer o ESG para a realidade das empresas.
Para operacionalizar essa ideia, entendemos que era necessária uma ferramenta que ajudasse a desenvolver novos modelos de negócio com base nessas premissas sustentáveis. Recorremos então à grande referência mundial, o Business Model Canvas de Osterwalder, apresentado no best-seller Business Model Generation, livro que já foi traduzido para mais de 30 idiomas e é uma das ferramentas mais usadas do mundo.
Com uma referência tão consolidada globalmente, não fazia sentido desenvolver outra do zero. Decidimos então hackear a ferramenta e acelerar um reframing do Canvas com a proposta de tornar os negócios lucrativos e regenerativos ao mesmo tempo.
Quadrantes do Canvas e Economia Regenerativa
O que o BMREG faz é propor uma adequação dos 9 quadrantes do Canvas original às novas necessidades de negócio dos tempos atuais.
Vamos entender como isso funciona na prática: quando o Canvas se refere ao quadrante de Segmento de Clientes, ele propõe uma investigação criativa das dores dos clientes que estão no foco do negócio. No BMREG, o escopo é ampliado para todos os stakeholders: além dos clientes, é preciso ampliar a visão e pensar nas dores dos fornecedores, colaboradores, acionistas, da sociedade e do planeta.
O mesmo exercício se aplica ao quadrante Proposta de Valor do Canvas tradicional, que é a resposta da empresa – em forma de produtos, serviços ou experiências – para as dores e desejos dos clientes. No BMREG, devemos pensar no Propósito de Valor do negócio, que é muito mais abrangente. O propósito de valor mescla o propósito do negócio – motivo pelo qual aquele negócio existe e porque seria bom para todos os seus stakeholders que ele continuasse existindo – ao valor que pode ser gerado para todos os stakeholders.
Em Relacionamento com clientes, a proposta do BMREG é de que esse quadrante fale de Relacionamentos Regenerativos. A construção relacional é um capítulo super estratégico para a experiência do cliente como um todo e para o sucesso do negócio. Ou seja, o relacionamento com todos os stakeholders deve ser baseado em práticas saudáveis, transparentes e de impacto positivo. Saúde mental dos colaboradores e marketing regenerativo são propostas aplicáveis deste quadrante.
Dessa forma, os 9 quadrantes do Canvas foram repensados para refletir a abrangência e a complexidade dos negócios em uma época que precisamos encontrar soluções práticas para os desafios ambientais e sociais do planeta.
De uma forma simplificada, como podemos saber se uma marca ou empresa está plenamente alinhada com os novos tempos? A resposta é que ela precisa ser lucrativa e regenerativa ao mesmo tempo.
Essa é uma jornada de transformação gradual e contínua, que começa com uma simples decisão. A decisão de querer fazer parte da construção de um mundo sustentável para todos os que habitam nele: todos os stakeholders do negócio, o meio ambiente e a sociedade.
O BMREG é nossa contribuição colaborativa e open source (gratuita), disponível para todas as pessoas e empresas que decidiram fazer parte desse novo mundo. Junte-se a nós na missão de tornar nosso planeta um lugar mais sustentável!
Dilma Souza Campos
Seis motivos para aumentar a representatividade de líderes negros nas empresas
Por Dilma Campos
Os negros representam 56,1% da população brasileira (IBGE), mas ocupam apenas 4,7% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do país, segundo levantamento do Instituto Ethos. No recorte de gênero, as mulheres negras representam apenas 0,4% dessas posições.
Basta uma rápida olhada nestes números para constatar que, apesar do avanço nas discussões sobre práticas ESG e D&I (Diversidade e Inclusão) nas organizações, há ainda um longo caminho a ser percorrido. O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, estima que “se o avanço da representatividade continuar nesse ritmo, só teremos a equidade demográfica em todos os níveis hierárquicos daqui a 100 anos”.
Uma fala que nos choca e impulsiona a ter intenção e ação para mudar esse cenário.
No mês da Consciência Negra, resolvi reunir seis motivos que demonstram a importância de aumentar a representatividade de líderes pretos nas organizações.
Em primeiro lugar, para que outros profissionais que estejam em funções hierárquicas mais baixas tenham uma referência que mostre que é possível chegar lá. Parece algo simples, mas só quem é negro sabe a importância disso na carreira.
Antes de empreender e ser CEO da Nossa Praia, cheguei à posição de diretora executiva de um grande grupo de comunicação, mas era a única líder preta nessa função.
O segundo motivo é permitir uma inclusão real de pessoas negras na empresa. Não adianta criar vagas afirmativas e aumentar o número de colaboradores pretos na organização se no dia a dia vieses inconscientes os excluem das oportunidades e do lugar de fala, bem como das promoções e oportunidades de crescimento que surgem. Infelizmente, situações de constrangimento e preconceito ainda são uma realidade em muitas empresas. A presença de executivos negros ajuda a combater preconceitos e estereótipos raciais na cultura organizacional e amplia as oportunidades de outras pessoas pretas.
O terceiro motivo é financeiro. O relatório “Why diversity matters”, da McKinsey, mostra que, para cada 10% de aumento na diversidade racial e étnica dos executivos seniores, o Ebitda da organizações aumenta 0,8%. Isso se explica, em parte, pelo quarto motivo que vem a seguir.
Lideranças diversas contribuem para o bem-estar e a felicidade no trabalho: 64% dos colaboradores indicam que estão felizes na empresa, em comparação com apenas 31% das empresas que não são comprometidas com a diversidade! Funcionários de empresas comprometidas com a diversidade têm 152% maior probabilidade de propor novas ideias e tentar novas formas de fazer as coisas, e probabilidade 73% maior de relatar uma cultura de liderança em prol do trabalho em equipe, o que afeta positivamente a forma como as pessoas se comportam. Impacto positivo na sensação de pertencimento e na produtividade da equipe resumem essa equação.
Motivo número 5: Diversidade e inovação caminham lado a lado. O estudo da McKinsey aponta que os funcionários de empresas percebidas como comprometidas com a diversidade são 66% mais propensos a relatar que seus líderes promovem a inovação. Aliás, a relação entre inovação e diversidade já foi tema de um outro artigo que escrevi aqui na Revista Live Marketing.
Múltiplos olhares para as necessidades do consumidor em um mundo globalizado e dinâmico é o sexto motivo para ter líderes diversos no quadro executivo das empresas. A velocidade das mudanças e o impacto da tecnologia exigem times que enxerguem várias possibilidades e cenários, além de soluções para os desafios que surgem. Para simplificar: enquanto times homogêneos enxergam um problema por apenas um ângulo, equipes heterogêneas e diversas têm uma visão ampliada por diferentes pontos de vista, o que facilita a solução criativa.
Deixo aqui uma reflexão final: diante de tantas vantagens, faz sentido continuar perpetuando o mesmo modelo de liderança do passado? Ou sua empresa está pronta para abraçar todas essas oportunidades que a diversidade no quadro de liderança proporciona?
Dilma Souza Campos
Sua marca está pronta para o mundo da colaboração?
Por Dilma Campos
Você se lembra da época em que “conhecimento era poder”? Que as empresas, com sua estrutura hierárquica, acabavam estimulando a competição interna entre equipes, pares e gestores? Uma época em que elas submetiam os fornecedores a práticas abusivas de negociação, pagando-os pelos seus serviços apenas 120 dias depois da entrega? Em que as pessoas eram vistas como máquinas de produtividade e quem não colocasse a empresa como prioridade era malvisto? Ou quando somente o lucro financeiro importava?
Essa é uma época que já acabou.
Certo, vocês podem até dizer que algumas dessas práticas ainda acontecem nas organizações. Só que esse é o jeito antigo de fazer negócios, um mundo de competição. No mundo da colaboração, no qual já estamos vivendo, esse tipo de empresa deixa de ser relevante, não atrai talentos, nem investidores que estejam dispostos a arriscar em um negócio com grande potencial de causar danos ao meio ambiente, à sociedade e à reputação da marca.
Tenho participado, como palestrante ou mediadora, em diversos eventos – seja sobre o futuro do varejo (Retail Experience) ou sobre gestão de pessoas (CONCARH 2023) – e não se fala em outra coisa: O mundo agora é o da COLABORAÇÃO!
Como isso está acontecendo na prática?
O reinado do ESG e a Economia Circular:
Em primeiro lugar, na produção e na maneira de fazer negócios. Não é mais viável estar em uma empresa que não adote práticas ESG, nem levem em conta o impacto ambiental e social do negócio.
Em 28 de julho de 2023, atingimos o Dia de Sobrecarga da Terra, data em que esgotamos os recursos naturais disponíveis para o ano. Nosso estilo de vida é insustentável para o planeta e só irão sobreviver as marcas que de fato se responsabilizarem por seu impacto no mundo e fizerem algo a esse respeito.
Neutralizar as emissões de carbono da produção, adotar a reciclagem e a energia limpa na operação, estabelecer uma relação ética e de parceria com fornecedores, clientes, colaboradores e comunidade, esses são alguns dos princípios do novo reinado ESG.
A Economia Circular é um modelo de negócios cada vez mais adotado pelas empresas e um de seus pilares é o compartilhamento, cujo principal propósito é resolver algum problema do usuário ou da sociedade.
Em resumo: O processo só é bom se gera impacto positivo para TODOS os atores da cadeia.
Do “comando e controle” à liderança inspiradora:
Com a velocidade da internet, nunca tivemos tanto acesso à informação como nos tempos atuais. O volume é tão gigantesco que precisamos da tecnologia para ajudar a filtrar os conteúdos mais relevantes.
Nas empresas, mesmo que quisessem, os gestores não conseguem mais saber de tudo que acontece no mundo. Não são mais os donos da razão, nem detentores do conhecimento. A era do “eu mando e você obedece”, ou do “comando e controle”, está dando vez à liderança inspiradora, que facilita o trabalho de sua equipe e contrata pessoas diversas, com habilidades complementares à sua e a dos colegas. O resultado vem da colaboração. Empatia, autonomia e preocupação legítima com a saúde mental dos colaboradores são algumas das boas práticas de marcas empregadoras inspiradoras.
Sem diversidade não há inovação:
O mundo hoje é volátil, ambíguo, não-linear e incompreensível. Em poucos anos, os hábitos de consumo mudaram completamente, a digitalização foi acelerada e os valores da sociedade são outros. Não é mais possível encarar os desafios de negócio sem um olhar múltiplo para ele.
Não é à toa que as empresas têm investido em programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), visando aumentar o número de mulheres, negros e outras minorias sub-representadas nas empresas, especialmente em cargos de gestão ou em conselhos de administração. Diversos estudos comprovam que a diversidade aumenta os resultados financeiros das organizações, a inovação e a felicidade no trabalho.
Até mesmo Cannes, o principal Festival de Criatividade do mundo, decretou: Não existe criatividade sem diversidade!
A única saída é o mundo da colaboração
Percebe como a colaboração permeia todas as relações corporativas? Seja entre pessoas da mesma empresa, entre empresa e sociedade, empresa e meio ambiente, ou entre marcas e comunidades?
Não existe outra saída. O mundo precisa ser colaborativo. Trocar boas práticas faz parte da inteligência coletiva e somente esse movimento permitirá a construção de um mundo mais forte, integrado, ético e, principalmente, gerador de novas oportunidades para todos os envolvidos. Sua marca está pronta para o mundo da colaboração?