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Gerenciamento de dados: o caminho da LGPD no Brasil para empresas de tecnologia

Com a aproximação das aplicações de multas e sanções da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o mercado brasileiro iniciou uma corrida contra o tempo e esbarrou em problemas para implementá-la. Na prática, ao envolver processos jurídicos complexos, os pequenos players, infelizmente, ainda não estão totalmente preparados e nem contam com o suporte necessário de especialistas para ajudá-los nessa transição.
É importante frisar que a recuperação econômica no pós-pandemia está diretamente ligada à economia digital, ainda mais nos dias atuais em que o mundo está dominado pelas tecnologias de informação e internet das coisas. Empresas de tecnologia lidam com milhares de dados diariamente e devem ser uma das principais pontas dessa cadeia para garantir que apenas usuários que concordaram em compartilhar seus dados sejam contatados.
Algumas ferramentas podem servir de suporte neste processo para permitir que as empresas protejam os usuários contra o uso não autorizado em qualquer forma de coleta e/ou armazenamento. Consequentemente, a consciência ampla sobre ela e a sua atuação ativa contribui para o amadurecimento do mercado de tecnologia brasileiro, traçando novos caminhos para a LGPD no país.
Os líderes também devem ter a percepção que a adaptação à LGPD está além do simples cumprimento da Lei. Adequar-se internamente é fundamental, mas propiciar que seus clientes tenham acesso a uma ferramenta pronta para ser inserida em seu contexto expande o relacionamento com os consumidores e propicia um aumento das prospecções.
Um dos motivos para isto é o resultado da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) com empresas do setor de tecnologia, mídia e telecomunicações, serviços financeiros, farmacêuticos e hospitalar, publicada em outubro de 2020, que revelou uma baixa maturidade quanto à percepção dos requisitos exigidos pela lei.
O cenário no Brasil reflete um grande descaso para adaptação da lei. Uma pesquisa feita pela Akamai Technologies, empresa americana de serviços e performance de tráfego global na internet, realizada entre os meses de junho e julho de 2020 com mais de 400 organizações que atuam no Brasil, apontou que 64% das empresas não estavam em conformidade com a LGPD, ainda.
Vale ressaltar também que as empresas de tecnologia, principalmente as que trabalham com o fornecimento de serviços de WiFi, precisam ficar cada vez mais atentas às normas da Lei 12.965, ou seja, do Marco Civil da Internet, que obriga a todos os estabelecimentos a terem registro de quem navega no WiFi para garantir a identificação de potenciais agentes de atos criminosos em ambientes virtuais.
*Katie Pierozzi – CEO da Mambo WiFi e empreendedora no mercado de tecnologia e redes de wireless.
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O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

*Vinicius Martinez
Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.
Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.
Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.
A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.
O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.
Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.
O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.
Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.
*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK
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Agências independentes na contramão: autonomia em tempos de transformação

*Juliene Nigro
A Inteligência Artificial não está apenas transformando a operação das agências: está provocando um reposicionamento estrutural no mercado global. Durante a edição deste ano do Web Summit Lisboa, líderes como Tiffany Rolfe, diretora global de criação da R/GA, e Ajaz Ahmed, fundador da AKQA (agora Studio One), reforçaram um movimento que já vinha ganhando força: a volta das agências independentes ao centro do mercado
Após anos dentro das holdings, os executivos deixaram claro que estruturas hipercomplexas não acompanham mais o ritmo da tecnologia.
Por décadas, grandes grupos justificaram sua relevância por meio da economia de escala. Isso não se sustenta mais. A criatividade, agora com a IA, não prospera sob camadas de aprovação, processos engessados e medo, por parte dos colaboradores, de reestruturações constantes.
Com a IA, a automação e os novos fluxos, escala passou a ser definida pela qualidade das ideias, e pela capacidade tecnológica de amplificá-las. Não pelo tamanho da equipe.
Vivemos em um momento paradoxal: por um lado, há uma forte tendência de consolidação no setor de agências, fusões, aquisições, holdings cada vez maiores. Por outro, surgem vozes que afirmam que o crescimento não deve sacrificar a agilidade, a criatividade e a capacidade de adaptação.
A independência, nesse sentido, emerge como uma alternativa estratégica: não se trata apenas de “ser pequeno”, mas de ser livre para reinventar o próprio modelo de negócio.
Claro, o movimento não é isento de riscos. Manter-se independente exige disciplina financeira, governança sólida e visão clara para gerir o fundo de inovação. Há também a pressão por resultados novíssimos, não apenas para clientes, mas para investidores. E, mais ainda, existe o desafio cultural: mudar o mindset interno para operar sob novas regras de contratação, remuneração e performance.
O debate no palco do Web Summit Lisboa, neste ano, foi um manifesto. Um manifesto de que, na era da IA e da inovação contínua, as agências precisam mais do que tamanho: precisam de autonomia para decidir, testar e transformar.
Enquanto tantas apostam na consolidação, outras vão na contramão, acreditando que a verdadeira vantagem competitiva se constrói com liberdade, cultura ágil e visão de longo prazo.
É um movimento ousado, arriscado, mas cheio de significado: porque mostra que, para algumas agências, a independência não é apenas uma condição de mercado; é, sobretudo, uma estratégia de sobrevivência e relevância no futuro da criatividade.
* Juliene Nigro – Vice-presidente de operações da Mootag









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