Naty Sanches
Existe verdade nas redes sociais?

Por Naty Sanches
Nossas interações nas redes sociais podem se assemelhar a um quebra-cabeça complexo, cujas peças nem sempre se encaixam de forma harmônica. Afinal, tudo que postamos em nossas páginas pessoais é de fato o que acontece ou o pedaço que queremos mostrar? Por isso, na era digital, onde as plataformas on-line dominam o cenário virtual, surge a indagação: há verdade nas redes sociais? Tal pergunta não só desafia nossa concepção da realidade, como também evidencia a necessidade imperativa de entender e estruturar cuidadosamente nossa presença na web.
Ao mergulhar nesse universo, descobrimos quão importante é estar presente nas redes sociais, mas também estar ciente da necessidade de entender seu funcionamento e as pessoas por trás delas. Em um mundo onde os influenciadores digitais, empresas e marcas desempenham papéis significativos na sociedade, a capacidade de navegar por esse cenário com autenticidade, discernimento e cuidado torna-se essencial.
Muitas notícias recentes têm destacado os desafios e perigos que podem surgir quando a presença on-line não é cuidadosamente planejada e executada, tanto para nós, simples mortais, quanto para grandes corporações. Casos de influenciadores que se viram em situações delicadas devido a parcerias controversas ou empresas que se pautam apenas no número de seguidores de uma personalidade para negociar o famoso “publi” alertam para os riscos inerentes à falta de compreensão das dinâmicas das redes sociais.
Quem não se lembra do recente caso de Renato Cariani, influenciador fitness, que foi alvo de operação da Polícia Federal contra o tráfico de drogas? Ou de um grupo de criadores que se envolveram num escândalo por divulgar uma plataforma digital de jogos de apostas denunciada por realizar serviços considerados ilegais no país? A chamada creator economy chama atenção, pois os próprios personagens fazem questão de divulgar suas vidas repletas de luxo, festas e alegria. Mas por trás das câmeras de um celular, a vida é essa mesmo?
Em 2022, a bolha da internet presenciou um caso que virou fenômeno e é exemplo de como as redes sociais podem ser, de fato, perigosas. Kat Torres, uma influenciadora digital com milhões de seguidores, foi acusada de tráfico de pessoas e segue presa no Rio de Janeiro. A história, inacreditável, foi narrada por Chico Felitti, no podcast “A Coach”. Nele, o jornalista conta toda a trajetória da então influenciadora e modelo internacional, e como ela usava as redes sociais para criar seus personagens e enganar mulheres.
Porém, associar uma marca a um criador de conteúdo pode parecer uma maneira confiável de impulsionar as vendas de um produto ou divulgar uma empresa, uma vez que os potenciais compradores estão concentrados na audiência do influenciador. Em outras palavras, é uma escolha estratégica e, tem potencial para, economicamente ser mais vantajosa do que anunciar em meios de comunicação tradicionais. No entanto, se o influenciador escolhido se envolver em alguma controvérsia, os danos podem ser significativos, afetando também a reputação da empresa.
E o inverso também é verdadeiro. Se a empresa estiver envolvida em notícias negativas, o influenciador representando a marca pode ser cancelado por seus seguidores. Isso pode resultar na redução de outros contratos comerciais.
Mas qual pode ser a alternativa?
Apesar dos exemplos negativos, nem tudo são tempestades. Há exemplos brilhantes de sucesso onde o planejamento meticuloso foi o diferencial. Um caso que merece destaque é o da parceria recente entre a farmacêutica Cimed e Larissa Manoela e Maisa Silva, que em apenas 20 minutos venderam mais de R$ 40 milhões em protetores labiais em uma live na internet. Aqui, o conhecimento profundo das necessidades do público-alvo, aliado a uma compreensão clara dos objetivos da marca, resultou em uma colaboração autêntica e bem-sucedida, impulsionando a visibilidade (e o lucro rs) tanto da marca quanto de Larissa e Maisa.
Outro exemplo de conexão entre marca, criadores e narrativas de valor é a série Origens, publicada pelo UOL, em que empresas de mapeamento genético, como o meuDNA, dão condições para que grandes personalidades pretas do nosso País descubram mais sobre a sua ancestralidade, histórias que são narradas em diferentes episódios e que estimulam que o serviço se torne uma trend nas redes sociais. Este é um grande exemplo de como usar o marketing de influência para diminuir o investimento em tráfego pago ao abrir caminho para o alto volume de conteúdo gerado pelo usuário (User-generated content), que é assunto para outro dia!
Analisando casos de sucesso é possível perceber que tudo precisa ser planejado. Uma agência dedicada ao gerenciamento de presença on-line não é apenas uma equipe de especialistas em mídia social; é um parceiro estratégico que entende a intrincada teia de conexões e influências que moldam esse universo. Esses profissionais não apenas planejam campanhas, mas também realizam análises detalhadas de dados e perfis identificando tendências, segmentando públicos-alvo e criando conteúdo autêntico e impactante.
Portanto, o ponto central não é se há verdade ou não nas redes sociais (até porque sabemos que nem tudo são flores), mas sim como podemos cultivar uma presença on-line legítima e eficaz em meio a um cenário digital em constante evolução. Isso requer não apenas estar ciente das armadilhas e desafios, mas também aproveitar as oportunidades oferecidas por uma compreensão profunda e um planejamento estratégico. É somente através desse compromisso com a autenticidade e a inteligência estratégica que podemos navegar com sucesso pelas complexidades das redes sociais e encontrar um efetivo valor em nossa presença on-line.
Naty Sanches
Entre o deslumbre e a responsabilidade: o papel das marcas diante da Inteligência Artificial

Por Naty Sanches
A cada novo avanço tecnológico, especialmente os mais visíveis para o público, como a criação de imagens por IA generativa, assistimos a uma reação quase coreografada: encantamento, replicação massiva e, só depois, reflexão. É assim com filtros de vídeo, com novos formatos de conteúdo e, mais recentemente, com o uso quase automático de ferramentas de IA para surfar trends. Mas enquanto o fascínio é inevitável, a responsabilidade deveria ser inegociável, especialmente para marcas.
Recentemente, uma tendência tomou conta das redes: imagens de pessoas ou cenários reimaginados no estilo dos filmes do Studio Ghibli, o renomado estúdio japonês por trás de obras como A Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro. A estética suave, os traços nostálgicos e o universo encantado gerado por IA rapidamente ganharam a simpatia do público. Mas havia um ponto cego: o próprio Studio Ghibli é notoriamente avesso ao uso de inteligência artificial em processos criativos, defendendo há décadas a animação feita à mão como parte indissociável de seu compromisso artístico — e, mais recentemente, também ambiental.
Como profissionais de comunicação, nosso papel vai além de reconhecer tendências. Cabe a nós interpretar o contexto, fazer curadorias éticas e orientar as marcas sobre o impacto real de suas decisões criativas. É aqui que o uso indiscriminado da IA começa a pedir um freio de consciência.
Enquanto muitas marcas celebram o uso da IA como sinônimo de inovação, poucos consideram o que acontece “debaixo do capô”. Estimativas recentes da Universidade de Massachusetts Amherst apontam que o treinamento de um único modelo de linguagem pode emitir mais de 284 toneladas de CO₂ — o equivalente a cinco carros rodando a vida inteira. A geração de imagens também tem seu custo: servidores trabalhando em alta potência, consumo energético elevado e uso de água em datacenters para resfriamento.
Seja por diretrizes ESG ou simplesmente por coerência de discurso, o uso da IA precisa estar alinhado com os valores da marca. A questão não é ser contra a tecnologia, mas sim como — e por que — ela está sendo usada.
O apelo ao “novo” é parte da natureza humana. Mas, do ponto de vista das marcas, seguir qualquer novidade sem considerar contexto, autenticidade e impacto pode ser uma armadilha. A inovação não está em replicar rapidamente o que está em alta, mas em fazer disso algo com propósito.
Quando marcas entram em trends como a do Ghibli por IA, mas ignoram o simbolismo por trás do estúdio e sua filosofia, correm o risco de desrespeitar a cultura que inspirou aquela estética, e pior, de transmitir incoerência.
Comunicação com consciência
A provocação que fica é: estamos sendo profissionais da comunicação ou apenas replicadores rápidos de tendências? Com um público cada vez mais atento e um cenário de consumo mais crítico, talvez a diferença entre relevância e ruído esteja justamente no tempo que dedicamos para pensar antes de agir.
A IA vai continuar evoluindo. Mas o papel humano, esse sim insubstituível, está em filtrar, interpretar e dar sentido ao que fazemos com ela.
Naty Sanches
Nada se cria, tudo se copia: a Geração Z está alucinada pela nostalgia

*Naty Sanches
A Geração Z pode ter nascido na era digital, mas tem mostrado um interesse crescente por experiências analógicas. O resgate do passado manifesta-se em diversas áreas do comportamento e do consumo, impulsionado pelo desejo de reconexão com épocas marcantes. Hábito de garimpar peças em brechós, colecionar CDs e vinis, fotografar com câmeras analógicas e reviver estéticas dos anos 2000 são exemplos dessa nostalgia moderna.
Nas plataformas digitais, especialmente no TikTok, essa tendência reflete-se em desafios que recriam coreografias icônicas, filtros que simulam produções de décadas passadas e vídeos que resgatam músicas e referências culturais. Além disso, o retrofuturismo combina elementos vintage com inovações tecnológicas, criando um olhar nostálgico sobre o futuro.
Outra forte influência desse movimento é o retorno do consumo de mídia física, como livros e fitas cassete, valorizando experiências mais tangíveis. A moda Y2K continua conquistando marcas e consumidores, enquanto cresce o interesse por peças artesanais e personalizadas. Atividades analógicas, como bordado e scrapbook, também acompanham essa busca por conexões mais autênticas, mostrando que a nostalgia segue influente na forma como as pessoas se expressam e consomem cultura.
Esse fenômeno tem nome: “anemóia”. É aquele desejo nostálgico de voltar a um tempo passado, mesmo que a pessoa nem tenha vivido nele. Para a Geração Z, que cresceu em um mundo acelerado e hiperconectado, a nostalgia funciona como uma espécie de escapismo. Diferente do futuro, que é incerto e pode assustar, o passado traz conforto e previsibilidade. Mais do que isso, revisitar essas referências cria um senso de pertencimento e identidade, conectando essa geração a momentos que, mesmo não vividos diretamente, influenciam a cultura atual.
O retorno da revista Capricho ao formato impresso, após uma década exclusivamente digital, é um reflexo desse movimento. Com o conceito “Manifeste, desobedeça, seja você”, a publicação aposta na experiência tátil e no desejo da Geração Z por um equilíbrio entre o digital e o analógico. As próximas edições sairão em julho e dezembro, reforçando esse novo posicionamento.
Mesmo com a hegemonia do digital, que facilita o consumo de conteúdo de forma rápida e acessível, cresce o interesse por formatos que proporcionem uma experiência mais duradoura e desconectada das telas. O impresso passa a ter um valor especial, oferecendo sensações de pertencimento e exclusividade que explicam o sucesso desse retorno.
A primeira edição dessa nova fase da Capricho traz Bianca Andrade na capa, reforçando essa narrativa. A influenciadora tem falado bastante sobre a necessidade de desacelerar, algo que se conecta diretamente com os dilemas da Geração Z. A mensagem é clara: fazer pausas, refletir e viver o momento.
Ao mesmo tempo, observa-se um movimento curioso na comunicação: a influência do digital sobre os meios tradicionais. Figuras da internet estão migrando para a televisão, como Bruno Carneiro (Fred) no Globo Esporte e Virgínia Fonseca no SBT. Isso mostra que, em vez de uma disputa entre digital e tradicional, o que acontece é uma fusão entre os dois formatos, criando um mercado onde ambos coexistem e se impulsionam mutuamente.
As marcas também perceberam o poder da nostalgia e vêm explorando esse conceito em suas campanhas com esse público. Por exemplo, a MTV Brasil relançou programas icônicos como “Beija Sapo” com Tinder e dinâmicas reformuladas e “Luau MTV” com Corona e uma combinação de Falcão e Lenon, adaptando-os para o público atual e resgatando a estética dos anos 2000. Essas iniciativas buscam conectar-se emocionalmente com os jovens, oferecendo conteúdo que mistura o familiar com o novo.
É importante que a Geração Z também olhe para frente. Moda, arte e cultura sempre buscaram referências no passado, mas o verdadeiro desafio é transformar essas inspirações em algo novo e relevante para o presente. O futuro pode ser incerto, mas a criatividade e a reinvenção continuarão sendo peças-chave para criar novas tendências e narrativas.