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DNA da diversidade: a diferença entre aprender uma cultura e nascer com ela

Publicado

em

* Paulo Farnese

Imagine que você está comendo em um determinado restaurante pela primeira vez. Em certo momento, um dos garçons trata você com grosseria. Em seguida, é corrigido por outro colega, pede desculpas a você e tudo volta ao normal.

A reação foi correta, você aceita as desculpas, tudo está certo. Mas certamente teria sido melhor se sua refeição jamais tivesse sido interrompida por uma experiência ruim, não é?

Vamos ainda mais longe: imagine que você trabalha nesse restaurante, e que esse tipo de situação acontece com você de tempos em tempos, vinda não só daquele garçom, mas de outras pessoas, inclusive da chefia. Talvez também haja correções, mas de vez em quando alguém escorrega e comete o mesmo erro. É complicado vivenciar um dia a dia no qual você nunca sabe se deve se preparar para um problema ou não.

Novamente, a reação pode ser correta. Ainda assim, seria melhor não enfrentar nada disso em primeiro lugar.

É o que quero dizer quando falo sobre empresas que nascem com diversidade em seu DNA.

Veja, cultura organizacional não é uma simples lista de “visão, missão e valores”. Isso é um papel ou uma página na web com palavras bonitas e frequentemente genéricas. Cultura é o que está acontecendo na vida real, diariamente, atrás das cortinas.

Quantos negócios afirmam que possuem, entre seus valores, “empatia” ou “integridade”, mas basta perguntar a um colaborador para descobrir que o cotidiano é recheado de brigas e ofensas?

Quantos afirmam que valorizam a diversidade, mas não sabem nem mesmo o que ela significa?

Não quero dizer que ninguém pode errar, muito menos que as pessoas não devem se esforçar para melhorar. É claro que devem. É isso que demonstra uma evolução, e como qualquer outro empreendedor, eu também prezo pelo avanço e pelo crescimento — em diversos sentidos.

O que estou dizendo é que toda cultura é mais facilmente aplicada quando ela já nasce alinhada, ao invés de precisar ser reajustada.

Mudanças de rota são difíceis. Todo mundo enfrenta algum nível de adversidade ao descobrir algo novo, seja uma tecnologia, seja um ideal, seja uma opinião. É natural, portanto, que alterar pontos-chave na cultura de um grupo de pessoas dê trabalho.

A diversidade é uma matéria de extrema importância, mas que começou a ser discutida tarde demais. A História nos mostra isso: faz apenas pouco mais de 30 anos que a homossexualidade deixou de ser considerada uma patologia pela OMS. Faz apenas 135 anos que a escravidão foi abolida no Brasil, deixando consequências para o povo negro que são fortemente sentidas até hoje.

Então, sim, é natural que muitas pessoas precisem de um empurrão para alterar hábitos nocivos que vêm de berço; ou que precisemos todos de um baita empurrão para modificar essa estrutura imensa e solidificada que transforma pessoas diversas em minoria social. Há muito a fazer.

Da mesma forma, é igualmente natural que essas pessoas estejam fartas de se repetir. Que exista pouca paciência para falta de respeito ou de consideração; para desigualdade no ambiente de trabalho e nos salários; para representações que só retratam o mesmo grupo de novo e de novo.

Por isso, quando uma cultura precisa ser reajustada, ainda que seja muito positivo, também pode ser cansativo. Principalmente para quem está aguardando os acertos.

Quando uma cultura já nasce diversa, por outro lado, todo reajuste de rota é mais rápido e menos complicado. Vive-se uma variedade de ideias que é intrínseca à diversidade, o que traz criatividade e senso crítico como em nenhum outro lugar. Erros ainda podem acontecer, mas são identificados em alta velocidade. Oportunidades, então, são vistas de longe.

Uma cultura organizacional que já nasce diversa reconhece todo o trabalho que precisamos fazer como sociedade, e se propõe imediatamente a ajudar. É o caso de lutar por representatividade real na mídia, ou de ter políticas internas firmes contra a discriminação, ou mesmo ter programas de treinamento e/ou contratação próprias para as minorias que estão, ainda, sofrendo as consequências de decisões tomadas tarde demais.

É um orgulho muito grande fazer parte de uma cultura assim. Acredito, inclusive, que é nosso papel colaborar para que mais culturas sejam transformadas, cada vez com mais facilidade, para que um dia a diversidade não seja mais questão de mudança, e sim de constância.

Se você precisa fazer alterações para incluir a diversidade na sua empresa, esse não é um problema. É um processo. Só é um problema quando não há avanço.

Agora, se você vai começar um negócio ou ainda está na fase em que consegue instituir uma nova cultura do zero, cuide para já ter a diversidade como base. Assim, as pessoas se preocuparão mais em fazer um bom serviço e menos em como existir, sendo quem são, no horário comercial. 

Acredite: dá muito trabalho existir quando só isso já é razão para desconfiança, desrespeito e injustiça. As pessoas voam muito mais longe quando podem ser à vontade.

*Paulo Farnesi – CEO e sócio-fundador da EAÍ!? Content Experience

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A COP30 e o rótulo como instrumento de política pública: O papel das marcas nessa construção

Publicado

em

*Valmir Rodrigues

Enquanto o mundo comenta os avanços e o que poderia ter sido melhor na COP30, milhões de pequenos produtores e povos indígenas seguem invisíveis nas embalagens – e também no dinheiro que circula pelas cadeias de consumo. No fim, não são governos nem organismos internacionais que definem o ritmo de uma transição justa, mas o cidadão comum, que exerce poder diariamente por meio de suas escolhas de compra.

Quando o assunto é clima, o imaginário coletivo se volta quase sempre ao petróleo e às florestas. No entanto, quem realmente mexe o ponteiro, todos os dias, é o sistema de consumo, começando pelo alimento, responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. Cada vez que alguém enche o carrinho no supermercado, decide não apenas o que vai comer, mas quais produtores, territórios e modelos de negócio vai financiar.

O documento final da COP30, em Belém, aponta para um mundo em transição: triplicação do financiamento para adaptação, reforço da justiça climática e maior centralidade da Amazônia no debate. É um passo relevante. Mas permanece sem resposta a pergunta essencial: como essa ambição chega ao prato do consumidor e, sobretudo, às mãos de quem produz o que está nesse prato?

No Brasil, essa questão ganha nome e endereço. Segundo o Censo Agropecuário, cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar representam 77% de todas as propriedades agrícolas do país e respondem por grande parte da comida consumida diariamente. Ao lado deles, as Terras Indígenas ocupam aproximadamente 13% do território nacional e concentram algumas das áreas mais bem preservadas do país. As imagens de satélite mostram isso de forma inequívoca: onde há terra indígena demarcada, a floresta permanece; onde não há, a pressão avança rapidamente.

São justamente esses grupos – pequenos produtores e povos indígenas – que figuram nos discursos da COP30, mas continuam à margem das principais decisões e quase ausentes das embalagens, dos rótulos e do fluxo econômico das cadeias de consumo.

Fora das salas de negociação, as pesquisas mostram que metade ou mais dos consumidores já aceita pagar um valor maior por produtos considerados sustentáveis, e que itens com alegações ambientais e sociais crescem mais em vendas do que concorrentes “neutros” na mesma gôndola. Não falta boa vontade do consumidor; falta transparência, linguagem acessível e modelos de negócio que garantam que esse valor adicional chegue à base da cadeia – às famílias agricultoras e às comunidades indígenas que o Pacote de Belém promete proteger.

É nesse ponto que surge o grande desafio, mas também uma enorme oportunidade para a indústria de alimentos e para as marcas de forma geral: transformar o Pacote de Belém em produtos e embalagens capazes de falar a linguagem do consumidor e criar uma ponte direta com quem produz. Isso significa abandonar o “green talk” genérico e adotar informações que conectem o público ao território de origem, apresentem propriedades, cooperativas, comunidades e terras indígenas, e expliquem de maneira simples como cada escolha contribui para manter a floresta em pé ou fortalecer um pequeno produtor. Também significa incorporar indicadores claros de justiça na cadeia, mostrando de forma objetiva qual parcela
do valor pago chega ao campo e substituindo selos abstratos por transparência concreta e compreensível.

A embalagem pode se tornar, mais do que um recurso de marketing, uma ferramenta de política pública. Ela pode aproximar produção e consumo quando fizer sentido, especialmente em alimentos frescos, onde transporte e cadeia fria têm grande peso nas emissões, ajudar a reduzir desperdício ao oferecer informações claras sobre porções, conservação e uso integral, e mostrar, com números simples e histórias reais, como aquela compra financia territórios e modos de produção específicos, e não apenas uma marca
distante da realidade do campo.

Depois da COP30, a disputa não se limita ao texto de documentos internacionais, mas se estende à confiança na ponta da cadeia. As marcas que conseguirem demonstrar, com dados acessíveis e linguagem clara, que transformam a vontade do consumidor em renda e proteção para pequenos produtores e povos indígenas vão sair na frente.

Algumas já dão os primeiros passos: utilizam QR codes que mostram a fazenda, a cooperativa ou o território de origem; simplificam embalagens para contar histórias concretas em vez de slogans genéricos; e testam modelos nos quais uma parcela do preço é vinculada diretamente a projetos em comunidades rurais. A maioria, porém, ainda permanece no slide da COP, distante da gôndola.

No fim, a pergunta central não é se o Pacote de Belém foi ambicioso o suficiente. A verdadeira questão, para o Brasil e para o mundo, é outra: o pacote que o consumidor leva para casa continuará mudo sobre quem produz, quanto recebe e que impacto gera, ou finalmente passará a contar a verdade que uma transição justa exige?

*Valmir Rodrigues – Fundador da My Trusted Source (MyTS) .

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Imersão além do jargão: o que as marcas precisam entender agora

Publicado

em

*Alexis Anastasiou

Nos últimos anos, palavras como “imersivo”, “360°” e “cenografia imersiva” se tornaram quase um clichê no mercado de brand experience. Conceitos originalmente associados a projetos de alta complexidade criativa passaram a ser usados para qualquer evento com LED ou projeção. O resultado é previsível: quando tudo é imersivo, nada realmente é.

Mas existe uma confusão central nesse debate. Imersão não é estética, é propósito.

É a capacidade de tirar o público do óbvio, deslocando percepção, criando significado e permitindo que ele experimente uma realidade que só existe naquele encontro. Sem narrativa consistente, sem transformação sensorial e sem um território simbólico claro, o que resta não passa de decoração tecnológica.

A boa notícia é que o próprio público já percebeu isso. Ele não se deixa impressionar apenas por estímulos visuais. Ele busca vivência, não vitrines. E o mercado começa a reconhecer que o rótulo “imersivo” só faz sentido quando a ideia encontra um suporte capaz de levar a história adiante.

Por isso, a discussão agora vai além do “como deixar bonito” e entra no “como criar presença”. É nesse ponto que iniciativas permanentes de produção tecnológica, como laboratórios de artes imersivas e espaços dedicados à pesquisa de formatos, vêm provocando uma mudança real no setor. Ao permitir testar, iterar e produzir storytelling com menos desperdício e mais profundidade, esses modelos deslocam o foco de um espetáculo de superfície para uma mídia que dialoga com tempo, memória e subjetividade.

Algumas experiências recentes em projetos culturais e lançamentos de marca já mostram os efeitos dessa virada: o público deixa de ser plateia para se tornar protagonista; a revelação de um produto deixa de ser um truque para virar jornada; a cenografia deixa de ser cenário e passa a ser narrativa.

Imersão, portanto, não é um efeito especial: é uma gramática.

Se o mercado estiver realmente disposto a estudá-la, deixaremos de confundir novidade com inovação e começaremos a entregar experiências que têm algo a dizer. As marcas que se anteciparem a essa maturidade terão, inevitavelmente, vantagem competitiva, porque a memória não se forma apenas pela imagem, mas pelo sentido que ela carrega.

E, no fim das contas, é isso que fica: a história. A tecnologia só importa quando ajuda a contá-la.

Alexis Anastasiou – Diretor e fundador do Visualfarm Gymnasium

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