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Alexis Pagliarini

Esperança

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Estive na Bienal do Livro. Desta vez, foi especial: fui coautor de um livro sobre ESG (ESG nos Eventos) e tivemos nossa noite de autógrafos lá. Chic, não? O livro é uma iniciativa da Conecta Eventos, do incansável Sergio Junqueira, que reuniu cabeças complementares, conseguindo viabilizar um livro bem completo sobre o tema.

A mim, coube tratar dos conceitos e história da sigla ESG, até chegar na aplicação em eventos. Mas, neste artigo, gostaria de me ater ao evento Bienal do Livro, em si. Tenho uma relação especial com a Bienal. Anos atrás, contratado pela RX e a própria Bienal do Livro, liderei um processo de Design Thinking para o evento. Reunimos os principais stakeholders do evento para, em um dia, realizar um profundo brainstorming, ao estilo Design Thinking. No final do dia, tínhamos insights preciosos, que consolidei para apresentar à diretoria da Bienal, visando melhorar a experiência do público no evento. As melhorias foram aplicadas e o evento continua atraindo um público enorme.

E aí vem a minha reflexão principal deste texto. Quem bom ver um evento dedicado ao livro ter tanto sucesso no Brasil. Não há dúvidas de que o caminho para elevação da qualidade de vida de uma sociedade é a educação. Ver crianças, jovens e adultos lotando os corredores do evento é, portanto, uma sensação alvissareira. Não podemos nos enganar. A Bienal, apesar do grande público presente, é uma amostra pequena.

Ainda temos problemas crônicos com o desenvolvimento educacional no Brasil. Ao longo dos últimos anos, ao invés de progredir, regredimos nos indicadores internacionais relacionados à educação no Brasil, como um todo. Mas é reconfortante ver esse interesse pela leitura. Uma das compradoras do nosso livro, que foi pegar seu autógrafo, estava com a filha de 13 anos, que diz ter lido nada menos de 30 livros este ano. Wow! Confesso que estou muito aquém disso.

No dia a dia, temos tanta leitura profissional a cumprir, que não resta muito tempo para uma leitura não obrigatória, prazerosa. Tenho um backlog de leitura enorme, com livros que pretendo ler, mas vou adiando. Mas, de qualquer maneira, cumpro um ritual de aprimoramento constante, que me obriga a ler estudos, artigos e referências todos os dias. Então, leio muito, embora restrito ao campo profissional.

Mas, hoje, estou com uma sensação de esperança. A esperança de ver brasileiros lendo mais, esquecendo a polarização ridícula que vem nos assolando e simplesmente se aculturando, deixando de ser vítimas de influência perniciosa da opinião de oportunistas, que se aproveitam dessa falta de educação (no sentido mais amplo do termo) para incutir falsas verdades. Vou nutrir essa minha esperança, dando minha modesta contribuição, escrevendo e ampliando conhecimento em temas que me especializo. A esperança está na educação!

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Alexis Pagliarini

COP30: Momentos de tensão

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Por Alexis Pagliarini

Este é o terceiro artigo sobre a COP30 que escrevo por aqui. Desde o primeiro, já alertava sobre o risco iminente de colapso estrutural da cidade de Belém para receber um evento dessa magnitude. O que vemos agora é que a realização da COP30 em Belém, marcada para novembro de 2025, enfrenta um risco real — não pelas pautas climáticas, mas por uma crise humanamente previsível: a falta de hospedagem acessível e estruturada na cidade-sede. O que deveria ser uma oportunidade histórica para o Brasil se transformar em cenário de controvérsia por números: enquanto a expectativa é reunir cerca de 50 a 45 mil participantes, Belém dispõe de apenas cerca de 18 000 leitos formais.

O que já é um gargalo logístico transforma-se em crise quando se observa os valores praticados: hospedagens sendo oferecidas a até US$ 700 por diária — 10 a 15 vezes acima do preço normal — ou chegando a cifras surreais como R$ 100 000 por noite ou imóveis por R$ 2 milhões no período. Em uma comparação que beira o absurdo, uma acomodação passou de cerca de US$ 11 para US$ 9 320 por dia.

Diante desse colapso, o alarmante veio à tona com uma reunião de emergência realizada pela ONU em julho de 2025, quando delegações — sobretudo dos países em desenvolvimento — expressaram indignação e alertaram para possíveis cortes ou boicotes à conferência, se não houvesse resposta rápida. Alguns chegaram a pedir formalmente a transferência da COP30 para outra sede.

O governo brasileiro, confrontado com essa situação, se mobilizou. Firmou acordos com hotéis, articulou o uso de navios de cruzeiro com cerca de 6 mil leitos, ampliou alternativas como escolas, motéis, igrejas e a temida “Vila COP”, e manifestou o compromisso de apresentar um plano de mitigação até 11 de agosto.

Apesar disso, os efeitos permanecem preocupantes: consultas à nova plataforma de reservas mostram valores entre US$ 360 e US$ 4 400 por noite, além de quase 2 000 pessoas em lista de espera. O temor de exclusão de países e da sociedade civil cresce: se apenas os setores mais ricos conseguirem garantir hospedagem, a COP30 corre o risco de se tornar um evento elitizado, prejudicando sua legitimidade e o protagonismo brasileiro na agenda ambiental global.

Esse contexto é ainda mais delicado dado o cenário político internacional — com os Estados Unidos retirando-se do Acordo de Paris —, o que torna essencial que o Brasil conduza a COP30 de maneira simbólica e eficaz. Se falhar em garantir acesso equitativo, pode implicar em retrocessos diplomáticos e ambientais, perdendo uma oportunidade decisiva de reafirmar sua liderança e compromisso climático.

Em síntese, a COP30 já enfrenta um adversário real antes mesmo de começar: a incapacidade logística de oferecer hospedagem digna e acessível. Se os riscos — desde desertores até críticas globais — não forem contidos, o evento pode falhar em sua intenção mais básica: ser uma plataforma inclusiva para o futuro climático.

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Alexis Pagliarini

Sem o “G” não há ESG

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Nos últimos anos, tornou-se comum ver empresas declarando adesão aos princípios ESG. Sustentabilidade passou a fazer parte da narrativa institucional e muitos executivos citam a sigla com frequência em painéis, relatórios e apresentações corporativas. Mas, para além do discurso, é na prática cotidiana que se revela o verdadeiro compromisso — ou a sua ausência.

E entre os três pilares do ESG, é justamente o “G” de Governança que costuma receber menos atenção. Enquanto a pauta ambiental (E) e as ações sociais (S) ganham mais visibilidade, a governança — que diz respeito à ética, transparência, conformidade e responsabilidade nas relações — ainda é tratada por muitos como um item técnico ou burocrático. Isso é um erro estratégico e moral.

Governança é a base. Sem ela, os compromissos ambientais e sociais se tornam frágeis, oportunistas ou incoerentes. Um exemplo claro disso está na forma como algumas empresas, mesmo se dizendo “sustentáveis”, tratam seus fornecedores. É comum a imposição de prazos abusivos de pagamento — 120, 150 dias — que comprometem o fluxo de caixa de pequenos negócios e colocam em risco a sustentabilidade da cadeia produtiva. Essas práticas revelam uma lógica de curto prazo e lucro a qualquer custo, que vai na contramão dos princípios do Capitalismo Consciente, segundo o qual todos os stakeholders devem se beneficiar da atividade econômica, não apenas o contratante.

No setor de eventos, esse desafio se intensifica. A informalidade ainda predomina em muitos bastidores, com profissionais contratados sem registro formal, pagamentos por fora, jornadas exaustivas e ausência de condições mínimas de trabalho. Há, infelizmente, casos que se aproximam de regimes análogos à escravidão, especialmente na montagem e desmontagem de estruturas. A busca por redução de custos não pode ser usada como justificativa para negligência ética.

Além disso, vemos frequentemente práticas de concorrência desleal, favorecimento em processos de seleção de fornecedores, e, em casos mais graves, corrupção institucionalizada nos bastidores de grandes eventos. Não se trata apenas de “dar um jeitinho”. Trata-se de práticas que violam os fundamentos do ESG e perpetuam um modelo empresarial excludente, opressor e insustentável.

A verdadeira Governança exige:

Transparência nas relações comerciais;
Conformidade com as leis trabalhistas e fiscais;
Respeito aos direitos humanos e aos limites da dignidade no trabalho;
Processos concorrenciais justos e auditáveis;
Compromisso com a integridade, mesmo nos detalhes invisíveis ao público.

Sem isso, qualquer ação “verde” ou “social” perde força. ESG não é um rótulo, é um sistema de valores que se traduz em decisões cotidianas — inclusive (e sobretudo) nas que ninguém está vendo.

É hora de o setor de eventos — e o meio empresarial como um todo — amadurecer sua compreensão sobre o “G”. Não avançaremos na construção de uma nova economia se continuarmos aceitando o velho modo de fazer negócios: informal, desigual e, muitas vezes, imoral.

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