Alexis Pagliarini
Eventos: otimismo com responsabilidade
Por Alexis Pagliarini
Tive acesso ao resultado da pesquisa realizada internacionalmente pela divisão de Meetings & Events da American Express, que retrata um otimismo generalizado, em todo o mundo, quanto à retomada consistente de eventos presenciais. O estudo chama-se 2023 Global Meetings and Events Forecast e envolve as principais regiões mundiais.
Na América do Norte, 65% dos respondentes esperam crescimento do investimento em eventos em 2023, contra apenas 17% prevendo queda e 19% com expectativa de repetir a situação de 2022. O resultado é bastante semelhante ao encontrado na Europa, com 66% dos respondentes prevendo crescimento, e na Asia, com um percentual de 67% de otimistas. Só é um pouco menor na América Latina, com 63% esperando crescimento. Interessante observar que a previsão dos eventos com presença física de público é dominante em todas as regiões, com destaque para a América do Norte, onde se esperam que 90% dos eventos sejam presenciais, ainda que parte deles híbridos. O percentual se repete na América Latina, mas cai um pouco nas demais regiões (Europa: 86%; Asia: 84%). E é interessante notar que essa retomada vem muito mais sustentável e inclusiva.
Quatro entre cinco dos respondentes (80%) afirmaram que levam em conta as questões de sustentabilidade ao planejar seus eventos. Destes, 76% já adotam uma estratégia de sustentabilidade como regra. O mesmo acontece com as questões relacionadas a DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão). Nada menos de 87% dos respondentes disseram que sua empresa busca ativamente a incorporação de uma política de DE&I, também nos eventos.
Isso gera novas demandas dos fornecedores e locais de eventos, que são, cada vez mais, escolhidos em função da capacidade de atender aos pré-requisitos dessa política. Os espaços escolhidos, por exemplo, precisam apresentar acessibilidade total a PCDs (Pessoas com Deficiência). Os resultados da pesquisa realizada no Brasil pelo Think Tank ESG – CBIE, coordenado por mim, em parceria com a EventoÚnico, envolvendo gestores de eventos de empresas, corroboram essa percepção internacional.
A pesquisa, realizada em meados de 2022, mostrou gestores dispostos a levar os critérios ESG em consideração no planejamento dos seus eventos. 84% dos respondentes afirmaram que mantém as questões de sustentabilidade, responsabilidade social e de governança no radar, na hora de organizar os eventos, sendo que para 16% deles, a adesão de fornecedores e espaços aos critérios ESG já é mandatório.
Temos certeza de que, ao realizarmos nova pesquisa este ano, o número deve ser significativamente maior. A conclusão disso se resume no seguinte: 2023 será um ano muito bom para a indústria de eventos, mas as demandas por sustentabilidade, DE&I e mais responsabilidade em todas as ações serão mais rigorosas, tirando competitividade daqueles que não se alinharem.
Alexis Pagliarini
Eventos mais sustentáveis em 2025
Por Alexis Pagliarini
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode dar a falsa impressão de que o negacionismo da crise climática e o desprezo às causas sociais podem atrapalhar a evolução do capitalismo consciente e da aplicação dos princípios ESG. De fato, é sabido que Trump – e seus simpatizantes – veem as questões ambientais, sociais e mesmo de governança com um viés de certa negação. Tanto é que, no seu mandato anterior, Trump negou-se a ratificar a participação dos EUA no Acordo de Paris, desdenhando as metas de redução de emissão de carbono.
Pela importância dos EUA, alguns podem temer um retrocesso nos processos de alinhamento ESG. No âmbito das empresas, porém, o tema ESG já está bastante maduro, com a incorporação efetiva de uma agenda mais sustentável na administração de negócios. Até porque, comprovadamente, empresas com maior maturidade ESG estão lucrando mais, conquistando a simpatia do mercado, garantindo melhor reputação e consequente longevidade. O mundo empresarial nem sempre leva em conta uma posição governamental, estabelecendo agenda própria, com pragmatismo e foco na eficiência.
Há de se considerar ainda o efeito Geração Z, que se mostra muito mais crítica à atitude das empresas em relação ao respeito socioambiental e governança ética. Os jovens preferem até ganhar um pouco menos, mas trabalhar em empresas respeitosas e mais sensíveis. O mesmo se passa na escolha de produtos: muitos preferem comprar itens produzidos por empresas conscientes.
Pensando especificamente nos eventos, é notável como a pauta ESG está mais presente. As empresas conscientes querem realizar seus eventos em locais que demonstrem um alinhamento aos critérios ESG, além de exigir das agências organizadoras e demais fornecedores um planejamento em compliance com as melhores práticas. As primeiras pedras já foram tocadas e o efeito dominó é inevitável: todos os stakeholders deverão ser, mais dia, menos dia, cobrados por um alinhamento ESG. Ano que vem é o ano da COP 30, a ser sediada no Brasil. Espera-se que a pauta ambiental esteja mais presente em todos os setores da economia. E os eventos não ficarão de fora. Preparemo-nos todos para efetivar eventos mais sustentáveis em 2025!
Alexis Pagliarini
A avalanche IA
É sempre assim: toda inovação disruptiva tem um primeiro momento de ceticismo ou uma reserva cuidadosa. Será que é pra valer mesmo? Lembra-se do metaverso? Ou antes mesmo: a Second Life. Lembra? Parecia que iríamos viver mais num universo paralelo, virtual, do que na nossa vida real, cheia de desafios.
O tempo passou e hoje mal falamos de metaverso, muito menos de Second Life. Embora seus recursos estejam sendo aplicados aqui e ali. E aí veio a tal da Inteligência Artificial. Parecia mais um roteiro de ficção: bilhões/ trilhões de dados sendo manipulados para gerar outros dados, a serviço de quem os comandam. Que louco! Será que vai pegar? Antes mesmo de terminar a pergunta, vemos uma avalanche de utilizações baseadas em inteligência artificial. E não para: todos os dias vemos novas e surpreendentes utilizações. Outro dia, numa reunião online, os primeiros a entrar foram assistentes virtuais, que acompanham a reunião para dar um suporte posterior aos usuários de carne e osso, lembrando os principais pontos discutidos, fornecendo alternativas de follow-up.
Eu passei a usar a IA Generativa para pesquisas, textos e imagens e às vezes me sinto meio que “roubando no jogo”. Posso considerar que um texto gerado por mim com o auxilio da IA é mesmo de minha autoria? Sim, é! Primeiro, porque sem um prompt muito bem formatado, não sai coisa boa. Segundo, porque a ideia do tema, o julgamento e a responsabilidade do material gerado são meus. Por via das dúvidas, tenho acrescentado a informação de que houve auxílio de ferramenta de IA para o material gerado (seja texto ou imagem). Uma coisa é certa: IA veio para ficar e vem mudando drasticamente estruturas dentro de empresas early adopters.
Com essa constatação, dois grandes pontos afloram de forma inescapável: 1- Isso tudo será bom ou ruim para as pessoas? Quando digo pessoas, penso nas pessoas físicas, naqueles que perderão seu emprego, substituídos por máquinas. 2- A questão ética. Os dados e as imagens não são gerados do nada, eles são fruto de uma manipulação de bilhões de outros dados, coletados de diversas fontes, muitas vezes sem autorização. Não à toa, os grandes veículos de comunicação estão reivindicando remuneração pelo uso de suas matérias, arduamente desenvolvidas para um fim específico de informar pessoas com credibilidade.
Responder à primeira pergunta não é fácil, mas podemos resgatar a história e constatar que os empregos perdidos pela inovação são substituídos por outros decorrentes da própria inovação. Assim, é previsível que tenhamos novas funções, tais como CPO (Chief Prompt Officer), especializados na formatação de prompts. Ou estrategistas de IA, que identificam oportunidades de uso de IA para diversas soluções. Ou ainda o analista de conteúdo IA, que deverá checar a pertinência e a veracidade das informações geradas por IA. Ouvi uma vez, de um palestrante no Cannes Lions: “Você não será substituído por uma máquina, mas por alguém que saiba lidar com elas melhor do que você”. É isso!
Já a resposta para a segunda pergunta é mais complicada. A IA não gera resultados totalmente idênticos aos coletados. Ela leva em conta os dados, mesclando-os de forma inteligente para formatar novas respostas. Sendo assim, é difícil identificar quais dados foram utilizados na geração de um novo conteúdo ou uma nova solução. Daí a dificuldade de se questionar a autoria da nova informação gerada. De qualquer maneira, o que esperamos é que a IA seja utilizada para o bem e melhore a vida das pessoas.