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Marcos Trinca – O impacto da pandemia no varejo e como as tecnologias ajudaram a transformação digital

Por Marcos Trinca
O distanciamento social imposto no mundo devido ao coronavírus forçou os consumidores a se afastarem dos pontos de venda (PDV) e, naturalmente, os canais digitais se fortaleceram muito como opções para o varejo. Além das lojas online tradicionais, diversas ferramentas digitais tiveram grande crescimento e se consolidaram como recursos importantes de venda. O comportamento do consumidor mudou e isso fez com que aumentasse as compras por meio da tecnologia.
Se pararmos para fazer uma breve análise do cenário atual, sem o uso da inovação e da eficiência das ferramentas tecnológicas, muitas empresas teriam fechado as portas. Acredito que o maior legado dessa pandemia para o varejo é que os empresários perceberam que sem a digitalização não existe segurança no business. A crise gerada pelo coronavírus acelerou a evolução dos formatos de consumo.
Um exemplo é o WhatsApp, serviço de mensagens instantâneas, que virou obrigatório para o atendimento direto entre vendedores e clientes. As lives stores se tornaram uma opção para solucionar o problema da impessoalidade das vendas online. A Realidade Aumentada (AR) levou os produtos diretamente para casa das pessoas, de maneira virtual e holográfica, gerando a aproximação entre consumidor e o bem de consumo. Já o conceito de Social Commerce entrou forte com o lançamento das lojas diretamente dentro das redes sociais, tecnologia que foi alavancada pelo Facebook e Instagram durante a pandemia.
As empresas utilizaram esses canais e tomaram as medidas necessárias para que as vendas pudessem continuar acontecendo. Muitas delas conseguiram bons resultados, melhores até do que aqueles registrados em 2019. A impessoalidade da venda online e a falta de proximidade do consumidor com o produto, que não consegue “pegar” o que está sendo oferecido, levaram ao desenvolvimento dessas novas soluções digitais, que estão sendo cada vez mais adotadas pelas empresas. Com as live stores, por exemplo, existe a possibilidade dos vendedores entrarem diretamente em contato com os clientes em suas casas, por meio do uso das ferramentas interativas para envio de perguntas e dúvidas, e também de compra direta. Já a vantagem da experiência de AR no e-commerce é que possibilita a “materialização” do produto em tamanho real, de modo realista, permitindo que o cliente enxergue com detalhes pela câmera do celular.
É natural que a tecnologia acompanhe o comportamento das pessoas, pois se adapta às necessidades humanas, mas também agrega novas coisas que, até então, eram desconhecidas para os consumidores, exercendo uma influência no desejo de consumo. Com a mudança do comportamento, a tecnologia evolui junto no sentido de resolver novos problemas para alcançar o consumidor e, ao mesmo tempo, essa transformação digital cria soluções para que as pessoas alterem seu jeito de consumir. É um ciclo!
Em um futuro próximo, prevejo que diversos itens materializados de forma holográfica na casa das pessoas se tornem comuns, seja um par de tênis, televisão, lava-louças, sofá, um carro, produtos de beleza ou mesmo a planta em 3D do sonhado apartamento. Telas virtuais flutuarão sobre os objetos, nas quais os consumidores poderão conversar com vendedores ao vivo, em tempo real, e aprender sobre aquele produto em sua frente. As pessoas já estão fazendo uso dessa tecnologia hoje por meio de seus celulares, e a realidade aumentada continua evoluindo para ser adotada no cotidiano por meio de óculos especiais que tornarão estas experiências ainda mais fáceis, sem atrito, totalmente integradas ao dia a dia.
Vale ficar atento, pois de acordo com os movimentos bilionários sendo realizados pelas big techs, fundos de venture capital e M&As, somado aos incríveis resultados alcançados pelas empresas que já estão fazendo uso da tecnologia em seu estágio atual, fica evidente que este será provavelmente o melhor recurso para aproximar os produtos e serviços aos consumidores de uma maneira digital, realista, fisicamente distante, ao mesmo tempo pessoal e personalizada.
*Marcos Trinca é head e sócio da More Than Real, empresa que desenvolve soluções de realidade aumentada
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Estamos preparados para 2027? 3 sinais de que sua empresa está atrasada na corrida da IA

*Por Anselmo Albuquerque
Recentemente, mergulhei no projeto AI-2027 (https://ai-2027.com), uma simulação detalhada do futuro da inteligência artificial nos próximos meses. O estudo foi elaborado por Daniel Kokotajlo, pesquisador da Open Philanthropy especializado em cenários de longo prazo e riscos existenciais ligados à IA, e conta com uma introdução escrita por Scott Alexander, autor do blog Astral Codex Ten e uma das vozes mais influentes na análise crítica de tendências tecnológicas e filosóficas contemporâneas, não é um exercício de ficção. É um alerta racional e estratégico.
Trata-se de uma narrativa construída mês a mês, com projeções realistas sobre como a IA pode evoluir, colidir com estruturas sociais e impactar decisões políticas, econômicas e até existenciais. Mas o ponto que mais me chamou atenção não foi o “quando”. Foi o “como”.
Três sinais que merecem nossa atenção agora
1. IA criando IA: o gatilho da aceleração cognitiva
Quando uma IA for capaz de desenvolver ou melhorar outras IAs, entraremos num novo ciclo evolutivo, onde a velocidade do avanço tecnológico deixará qualquer modelo de planejamento humano obsoleto. Esse é o ponto de virada. O que era linear se torna exponencial.
2. Cibersegurança como novo campo de batalha
As primeiras aplicações geopolíticas da superinteligência podem surgir no subsolo invisível dos ataques cibernéticos. Países, empresas e organizações estarão vulneráveis não a tanques, mas a códigos. Quem não entender isso, vai continuar investindo em estratégias do século XX para enfrentar desafios do XXI.
3. Linguagem opaca entre máquinas: o risco do neuralese*
Imagine duas IAs conversando em uma linguagem que nem os engenheiros que as criaram conseguem entender. Sem transparência, perdemos o alinhamento. E sem alinhamento, entregamos poder a uma caixa-preta que decide por nós sem sabermos como ou por quê.
2027 pode parecer longe. Mas em termos de desenvolvimento de IA, é quase amanhã. Só para você ter uma ideia, a OpenAI já realizou mais de 20 atualizações significativas no ChatGPT desde 2022. Isso inclui novos modelos (como GPT-4 e GPT-4-turbo), capacidades multimodais (voz, visão, código), uma loja de GPTs personalizados e interfaces mais integradas ao cotidiano das empresas e pessoas.
E aqui vem o ponto-chave: diferente de outras “transformações digitais” pelas quais empresas passaram nos últimos anos, muitas das quais sequer mudaram o chip da alta liderança, a IA exige uma mudança estrutural de visão, de linguagem e de prioridade.
Estamos falando de algo muito mais estratégico do que trocar um sistema de ERP. Quantas empresas passaram anos decidindo qual ERP implantar, levaram outros tantos para implementar, e hoje usam menos de 10 por cento da sua capacidade? Com a IA, essa abordagem incremental simplesmente não vai funcionar.
A pergunta real é: você está na prática compreendendo que isso vai muito além de um ChatGPT? Você já colocou esse tema entre as 3 prioridades estratégicas da sua empresa para os próximos 24 meses?
Se você é líder, empreendedor ou profissional de marketing ou comunicação, este é o momento de pensar e agir com uma velocidade e profundidade que talvez você nunca tenha considerado antes. Pensar como arquiteto do futuro, com os pés no presente, mas os olhos firmes na linha de colisão entre humanos e inteligências artificiais.
Referências:
AI 2027: https://ai-2027.com
OpenAI ChatGPT Updates: https://openai.com/blog/
chatgpt-updates
*Neuralese é um termo usado no cenário AI-2027 para descrever uma linguagem interna que IAs podem desenvolver ao se comunicarem entre si, potencialmente indecifrável para humanos. Essa opacidade pode dificultar a supervisão e o alinhamento com valores humanos, tornando a IA uma caixa-preta.
*Anselmo Albuquerque – CEO da Lean Agency, publicitário com mais de 20 anos de experiência no mercado de comunicação. Reconhecido como referência no tema de Inteligência Artificial.
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“Branding de legado: o que Alfred Nobel ainda ensina sobre reputação e propósito”

*David V. Bydlowski
Quando falamos em branding pessoal ou reputação de marca, a história de Alfred Nobel continua sendo um dos exemplos mais potentes, e talvez mais incômodos, de como memória e legado são construídos. O químico sueco, celebrado hoje como patrono do Prêmio Nobel, foi também o inventor da dinamite, descoberta que o tornou milionário no século XIX. Porém com a fortuna veio a culpa e a reputação sobre uma descoberta cujo impacto se estendeu a cenários de guerra.
O ponto de virada aconteceu por acidente. Após a morte de seu irmão, um jornal francês publicou, por engano, o obituário de Alfred Nobel. O título era devastador: “O mercador da morte está morto”. Naquele instante, Nobel teve um choque de reputação: percebeu que seria lembrado não como um cientista brilhante, mas como alguém associado à destruição.
Esse episódio ecoa fortemente no presente, pois foi com essa manchete que Nobel decidiu transformar o significado do seu nome, criando a nobre instituição pela qual hoje é lembrado. Trazendo ao universo digital dos dias atuais, percebe-se que não é mais apenas a imprensa que molda a narrativa, mas milhares de interações diárias. Se você não cuida da sua história, o público a escreve por você e nem sempre da maneira mais justa.
O obituário digital
Vivemos em um tempo em que a reputação não é construída apenas por campanhas sofisticadas ou slogans bem pensados, mas por rastros cotidianos: curtidas, posts, vídeos, comentários soltos, tweets deletados. Cada fragmento é uma peça que compõe o que se poderia chamar de “obituário digital”. Uma biografia coletiva e permanente, formada por aquilo que o mercado, os consumidores e os algoritmos interpretam e guardam sobre você ou sua marca.
A lição de Alfred Nobel é clara: branding não é só imagem. É herança. Reposicionar é mais que comunicar
Em vez de tentar apagar a associação com a destruição, Nobel escolheu outra estratégia: destinou 94% de sua fortuna à criação do Prêmio Nobel, uma instituição dedicada a reconhecer avanços da humanidade. Nem usou sua fortuna para tentar pagar jornalistas para escrever sobre sua história sob outra ótica. Criou propósito.
Esse gesto é um paralelo direto com as empresas que, hoje, ultrapassam o território do marketing de produto e constroem reputações ancoradas em ESG, impacto social e coerência narrativa de longo prazo. Não se trata de cosmética, mas de estrutura.
Para quem trabalha com comunicação, a reflexão é inevitável: SEO, redes sociais, vídeos e campanhas não são apenas ferramentas de performance. São instrumentos de memória. O que se publica hoje pode aparecer amanhã em um pitch, em uma negociação de M&A ou na decisão final de um consumidor.
O que a publicidade tem a ver com isso?
Tudo. Muitas marcas ainda operam sob a lógica do branding de ocasião, a resposta rápida à tendência, à crise ou ao algoritmo. Mas branding de oportunidade não sustenta branding de legado. E a consequência é clara: As empresas que constroem com intencionalidade, colhem os frutos por gerações.
Alfred Nobel nos lembra que reputação é menos sobre o que você vende e mais sobre o que você deixa. Cabe às marcas e às pessoas decidir se sua história será esquecível ou transformadora.
Em tempo: Nobel morreu em 10 de dezembro de 1896, em San Remo, na Itália. E hoje poucas pessoas sabem que ele foi também o criador da dinamite.
*David V. Bydlowski – Fundador e principal executivo da Rosh Digital, agência com foco em inovação digital e inteligência artificial.








