Alexis Pagliarini
Sem o “G” não há ESG

Nos últimos anos, tornou-se comum ver empresas declarando adesão aos princípios ESG. Sustentabilidade passou a fazer parte da narrativa institucional e muitos executivos citam a sigla com frequência em painéis, relatórios e apresentações corporativas. Mas, para além do discurso, é na prática cotidiana que se revela o verdadeiro compromisso — ou a sua ausência.
E entre os três pilares do ESG, é justamente o “G” de Governança que costuma receber menos atenção. Enquanto a pauta ambiental (E) e as ações sociais (S) ganham mais visibilidade, a governança — que diz respeito à ética, transparência, conformidade e responsabilidade nas relações — ainda é tratada por muitos como um item técnico ou burocrático. Isso é um erro estratégico e moral.
Governança é a base. Sem ela, os compromissos ambientais e sociais se tornam frágeis, oportunistas ou incoerentes. Um exemplo claro disso está na forma como algumas empresas, mesmo se dizendo “sustentáveis”, tratam seus fornecedores. É comum a imposição de prazos abusivos de pagamento — 120, 150 dias — que comprometem o fluxo de caixa de pequenos negócios e colocam em risco a sustentabilidade da cadeia produtiva. Essas práticas revelam uma lógica de curto prazo e lucro a qualquer custo, que vai na contramão dos princípios do Capitalismo Consciente, segundo o qual todos os stakeholders devem se beneficiar da atividade econômica, não apenas o contratante.
No setor de eventos, esse desafio se intensifica. A informalidade ainda predomina em muitos bastidores, com profissionais contratados sem registro formal, pagamentos por fora, jornadas exaustivas e ausência de condições mínimas de trabalho. Há, infelizmente, casos que se aproximam de regimes análogos à escravidão, especialmente na montagem e desmontagem de estruturas. A busca por redução de custos não pode ser usada como justificativa para negligência ética.
Além disso, vemos frequentemente práticas de concorrência desleal, favorecimento em processos de seleção de fornecedores, e, em casos mais graves, corrupção institucionalizada nos bastidores de grandes eventos. Não se trata apenas de “dar um jeitinho”. Trata-se de práticas que violam os fundamentos do ESG e perpetuam um modelo empresarial excludente, opressor e insustentável.
A verdadeira Governança exige:
Sem isso, qualquer ação “verde” ou “social” perde força. ESG não é um rótulo, é um sistema de valores que se traduz em decisões cotidianas — inclusive (e sobretudo) nas que ninguém está vendo.
É hora de o setor de eventos — e o meio empresarial como um todo — amadurecer sua compreensão sobre o “G”. Não avançaremos na construção de uma nova economia se continuarmos aceitando o velho modo de fazer negócios: informal, desigual e, muitas vezes, imoral.
Alexis Pagliarini
ESG em Eventos: Uma pesquisa

Nos dias 4 e 5 de junho deste ano aconteceu mais uma Feira EBS e o Congresso MICE Brasil. E eu estive lá mais uma vez, participando do conteúdo do congresso. O evento se propõe a fazer um update do setor conhecido pela sigla MICE (Meetings, Incentive, Conferences & Exhibitions). A nós, da ESG4, coube realizar uma pesquisa junto a hotéis e provedores de serviços de eventos para entender o nível de maturidade dos critérios ESG neste importante setor. A pesquisa foi realizada com o apoio do Grupo R1 e da EBS.
Feita a pesquisa previamente, aproveitamos o próprio evento para apresentar e discutir resultados num painel, moderado por mim, que contou com a presença de líderes do setor: Raffaelle Cecere, CEO do Grupo R1 e membro do conselho do SPC&VB; Paulo Ventura, Diretor do Expo Center Norte e presidente da UBRAFE; e Leandro Pimenta, CEO da tg.mob e host do podcast Narrativa Cast. Divido então com você os resultados da pesquisa, tendo como foco o setor de eventos.
Antes de mais nada, procurei traçar a evolução geral de ESG e identifico 3 estágios bem claros. O primeiro deles é o que eu chamo de Fase Inicial. Apesar do conceito ESG não ser tão novo, ele pegou tração há uns 5 anos, quando o setor financeiro e a sociedade, de uma maneira geral, começaram a cobrar uma atitude mais responsável e transparente por parte das empresas, em relação ao respeito socioambiental e a governança ética. Nesta fase inicial, que ainda é realidade para muitas empresas, vimos a sigla ganhar grande visibilidade e ter o seu momento hype, principalmente nos últimos 3 anos. Houve uma busca de entendimento dos princípios e critérios ESG, uma atitude reativa às demandaspontuais, ações sociais isoladas e uma curiosidade geral, com o despertar de umaatenção aos riscos de imagem.
Passada esta primeira fase, percebemos um momento de Transição. Esta fase de transição é marcada por uma movimentação das empresas mais conscientes na realização de diagnóstico para entender seu nível de engajamento e os gaps existentes. Nesta fase, os colaboradores são envolvidos, gerando discussões internas sobre possíveis ações concretas. São aplicadas ações pontuais de uso racional de água e energia e as empresas buscam uma primeira visão de DE&I (diversidade, equidade e inclusão) na sua estrutura de pessoal. E, finalmente, estamos alcançando uma fase mais madura, que eu chamo de ESG 2.0. Repito a ressalva de que esta fase de maior maturidade não é observada de uma maneira ampla entre as empresas, mas já é presente naquelas corporações mais suscetíveis ao escrutínio social e que precisam se apresentar ao mercado de forma mais consciente e responsável. ESG 2.0 é fase que marca a incorporação dos critérios ESG na gestão estratégica das empresas. É quando a empresa se preocupa em identificar o impacto nos ODS em todas as suas ações. É quando há gestão e monitoramento de água, energia, resíduos e CO2.
Nesta fase, busca-se a interação e engajamento de stakeholders para melhoria. Adotam-se programas de ações afirmativas para DE&I, procurando espelhar na empresa a diversidade presente no perfil Brasil. É quando começa a acontecer a adoção de métricas e a busca por certificações. E o que a pesquisa demonstrou é que, apesar do ruído gerado pelo governo dos EUA, desdenhando ESG, as empresas atribuem grande valor à aplicação dos seus critérios. Analisando a pesquisa, vemos que, para a maioria, o tema ESG já é fundamental e faz parte da estratégia. Para mais de 86% dos entrevistados do setor de eventos, é sensível o aumento de preocupação com ESG na organização de eventos. Os resultados da pesquisa nos fazem acreditar numa fase mais sólida e consistente das práticas ESG também nos eventos.
Alexis Pagliarini
ESG 2.0: Eventos mais conscientes, estratégicos e alinhados com o futuro

Por Alexis Pagliarini
Muito se fala em ESG no mundo corporativo, e cada vez mais também no setor de eventos. Mas, no atual momento de amadurecimento do tema, não basta mais dizer que se preocupa com sustentabilidade ou que fez uma ação pontual de responsabilidade social. A nova fase, que chamamos de ESG 2.0, exige que esses princípios estejam incorporados ao próprio DNA do evento — desde o planejamento até a desmontagem.
ESG 2.0 aplicado a eventos: o que muda na prática
A diferença entre ESG 1.0 e 2.0 é essencialmente a profundidade e a intencionalidade. Se na fase inicial falávamos em “ações ESG”, agora falamos em eventos pensados com lógica ESG desde a origem. Isso envolve:
1. Meio Ambiente: da pegada de carbono ao fim do resíduo
2. Social: inclusão real, dentro e fora dos palcos
3. Governança: respeito, contratos e transparência
Do evento ao legado
Eventos são, por natureza, efêmeros. Mas um evento bem planejado com critérios ESG 2.0 deixa um legado duradouro. Seja por gerar impacto positivo na comunidade, inspirar mudanças em marcas participantes ou educar o público, o evento torna-se um agente de transformação.
Conclusão
Incorporar ESG 2.0 à organização de eventos não é mais uma questão de escolha, mas de atualização e responsabilidade. Empresas, marcas e organizadores que realmente desejam se destacar e se manter relevantes precisam ir além do discurso. Precisam integrar o ESG à espinha dorsal de cada evento, entendendo que fazer o certo não é apenas ético — é estratégico.