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Satisfação do cliente no centro: como o user thinking vem transformando o setor logístico

*Caio Reina
As estratégias com foco na experiência do usuário (UX) estão cada vez mais em alta entre as empresas e a personalização tem sido o foco da maior parte das ações nesse sentido. De acordo com uma pesquisa realizada pela Track.co no ano passado, mais de 60% das organizações estão investindo em áreas ou ações relacionadas à UX.
Usando tecnologias avançadas para moldar experiências únicas, esse conceito vem se estendendo também ao setor logístico. A abordagem centrada no cliente possibilita colocar as necessidades e expectativas dos usuários no centro das decisões operacionais, buscando desenvolver soluções que sejam tanto personalizadas quanto eficazes.
O conceito de user thinking tem tudo a ver com isso. Com raízes no campo do design, o método tem sido cada vez mais utilizado nesse processo, pois se dedica a compreender de forma mais profunda os comportamentos e desejos dos usuários. Isso permite criar serviços que vão além da resolução de problemas operacionais, buscando também aprimorar a experiência do cliente.
Uma mudança nas estratégias de planejamento
A implementação do user thinking na logística representa uma mudança significativa na forma como as empresas abordam o planejamento e a execução de suas operações. Ao priorizar a experiência do usuário, a logística pode, ao mesmo tempo, se afastar do foco em eficiência e custos para considerar a satisfação do cliente como principal métrica a ser perseguida.
Dessa forma, para que o negócio continue sustentável, é essencial coletar e analisar feedbacks, oferecer modalidades variadas de entrega, ter dados históricos consistentes e, para isso, investir em tecnologia. A mensuração do sucesso e o acompanhamento contínuo da satisfação do cliente também exigem uma abordagem proativa, flexível e a constante capacitação de equipes.
A implementação do user thinking na logística não está apenas mudando a maneira como as empresas operam, está também moldando as expectativas dos consumidores. Os clientes agora esperam experiências personalizadas, envolventes e, acima de tudo, convenientes.
E as empresas que já entenderam e abraçaram essa mudança estão liderando a nova era da logística, onde a inovação contínua é o principal indicador de sucesso. Neste cenário, a próxima fronteira será a integração de tecnologias como inteligência artificial e análise preditiva para antecipar ainda mais as necessidades dos clientes.
*Caio Reina – CEO e fundador da RoutEasy
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O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

*Vinicius Martinez
Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.
Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.
Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.
A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.
O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.
Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.
O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.
Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.
*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK
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Agências independentes na contramão: autonomia em tempos de transformação

*Juliene Nigro
A Inteligência Artificial não está apenas transformando a operação das agências: está provocando um reposicionamento estrutural no mercado global. Durante a edição deste ano do Web Summit Lisboa, líderes como Tiffany Rolfe, diretora global de criação da R/GA, e Ajaz Ahmed, fundador da AKQA (agora Studio One), reforçaram um movimento que já vinha ganhando força: a volta das agências independentes ao centro do mercado
Após anos dentro das holdings, os executivos deixaram claro que estruturas hipercomplexas não acompanham mais o ritmo da tecnologia.
Por décadas, grandes grupos justificaram sua relevância por meio da economia de escala. Isso não se sustenta mais. A criatividade, agora com a IA, não prospera sob camadas de aprovação, processos engessados e medo, por parte dos colaboradores, de reestruturações constantes.
Com a IA, a automação e os novos fluxos, escala passou a ser definida pela qualidade das ideias, e pela capacidade tecnológica de amplificá-las. Não pelo tamanho da equipe.
Vivemos em um momento paradoxal: por um lado, há uma forte tendência de consolidação no setor de agências, fusões, aquisições, holdings cada vez maiores. Por outro, surgem vozes que afirmam que o crescimento não deve sacrificar a agilidade, a criatividade e a capacidade de adaptação.
A independência, nesse sentido, emerge como uma alternativa estratégica: não se trata apenas de “ser pequeno”, mas de ser livre para reinventar o próprio modelo de negócio.
Claro, o movimento não é isento de riscos. Manter-se independente exige disciplina financeira, governança sólida e visão clara para gerir o fundo de inovação. Há também a pressão por resultados novíssimos, não apenas para clientes, mas para investidores. E, mais ainda, existe o desafio cultural: mudar o mindset interno para operar sob novas regras de contratação, remuneração e performance.
O debate no palco do Web Summit Lisboa, neste ano, foi um manifesto. Um manifesto de que, na era da IA e da inovação contínua, as agências precisam mais do que tamanho: precisam de autonomia para decidir, testar e transformar.
Enquanto tantas apostam na consolidação, outras vão na contramão, acreditando que a verdadeira vantagem competitiva se constrói com liberdade, cultura ágil e visão de longo prazo.
É um movimento ousado, arriscado, mas cheio de significado: porque mostra que, para algumas agências, a independência não é apenas uma condição de mercado; é, sobretudo, uma estratégia de sobrevivência e relevância no futuro da criatividade.
* Juliene Nigro – Vice-presidente de operações da Mootag








