Conecte-se com a LIVE MARKETING

Artigos

Ideias a preço de banana e vice-versa

Publicado

em

*Marco Sinatura

Imagine-se diante de uma parede branca em uma galeria minimalista. No centro, uma banana presa com fita adesiva. Você ri. Depois pensa: “Isso vale milhões?”. No caso de Maurizio Cattelan, valeu US$ 6,2 milhões. A provocação não está apenas na banana — ela está na pergunta: como atribuímos valor ao que não podemos medir objetivamente?.

Para além do valor do debate e da reflexão que a obra Comedian propõe (parte inerente da arte), quero me ater aqui a paralelos que me ocorrem toda vez que temos a dificuldade de lidar com o valor de um conceito. Esse desconforto com o intangível ecoa também no mundo da publicidade, uma indústria onde o principal produto é a criatividade. Mas, diferentemente da arte, a publicidade tem um papel claro: impactar comportamentos, transformar negócios e gerar resultados. Ainda assim, enfrentamos o mesmo dilema de como precificar ideias e reconhecer adequadamente o trabalho criativo.

Mercantilização da Criatividade: Um Problema de Modelo?

A publicidade é, essencialmente, um negócio de ideias. Mas ao contrário da creator economy ou do mercado de arte, onde indivíduos criam valor diretamente para seus públicos, a publicidade opera em um modelo estrutural de intermediação. Isso frequentemente reduz o valor criativo a métricas operacionais: horas trabalhadas, entregáveis produzidos, ferramentas utilizadas.

Por mais que a técnica e as horas investidas sejam parte do processo, o valor de uma ideia reside em sua capacidade de transformar, não na quantidade de tempo ou esforço necessário para concebê-la. Em “O Ato Criativo”, Rick Rubin aborda como processo criativo não é linear — ele nasce da combinação de experiência, sensibilidade e contextos que vão muito além do que pode ser medido.

Essa desconexão entre o que vendemos e como cobramos é uma das maiores armadilhas da publicidade moderna.

A Creator Economy e a Fragmentação do Valor Criativo

Enquanto as agências ainda lutam para se adaptar a modelos que valorizem ideias de forma justa, o mundo da creator economy vem mostrando como a criatividade pode ser monetizada de forma descentralizada e adaptada ao impacto gerado. Criadores independentes são remunerados pela quantidade de views e engajamento que geram nas plataformas, cobram por assinatura, vendem direitos autorais de conteúdos ou até registram suas criações como NFTs. Talvez o valor remunerado esteja longe de ser o ideal e justo, mas o modelo reflete o mundo mais dinâmico e fluído no qual a criatividade é processada, produzida e consumida atualmente.

Essa economia emergente traz lições importantes para a publicidade:

  • Criadores são remunerados diretamente pelo valor percebido de seu trabalho, não por horas ou entregáveis.

  • Modelos de remuneração baseados em royalties ou recorrência reconhecem o impacto prolongado de criações bem-sucedidas.

  • As plataformas oferecem dados claros sobre engajamento, permitindo uma relação mais transparente entre valor e remuneração.

Success Fee e os Limites do Curto Prazo

Para tentar corrigir o descompasso entre valor e remuneração, algumas agências adotaram modelos de success fee, atrelando pagamentos aos resultados gerados. Embora a ideia pareça promissora, ela frequentemente se limita a métricas de curto prazo, como vendas ou pontos de consideração de marca.

Estudos, no entanto, mostram que o maior impacto de uma construção de marca só se percebe em ciclos longos, atingindo picos de retorno após 4 a 12 anos. Enquanto o mundo da publicidade corre para colher frutos imediatos, estamos ignorando árvores que poderiam render safras muito mais robustas no futuro.

Talvez a solução esteja em modelos híbridos, que combinem ganhos imediatos com royalties a longo prazo, oferecendo maior equilíbrio para agências e seus criadores.

O Futuro: Criatividade Tokenizada?

Assim como a creator economy nas plataformas sociais e a popularização dos NFTs trouxeram novos caminhos para a remuneração de profissionais criativos, a publicidade também poderia se beneficiar de ferramentas mais transparentes, escaláveis e descentralizadas. Imagine registrar o conceito de uma campanha, uma nova jornada de compra ou até as variações de um teste A/B como um ativo digital, com royalties automáticos pagos a cada vez que ele for veiculado, consumido, reutilizado ou adaptado.

Esse modelo seria uma revolução para o ecossistema, podendo criar a percepção de um mercado mais justo e, ao mesmo tempo, descentralizado. No entanto, também apresenta possíveis desafios, como a complexidade regulatória de contratos descentralizados, a dificuldade em garantir a originalidade das ideias e potenciais barreiras tecnológicas e de adoção pelas empresas. Lembremos que boa parte da defasagem que temos enquanto mercado no Brasil, vem da nossa dificuldade de incorporar tecnologia de forma eficiente e realmente transformadora no nosso negócio. Cantamos aos 4 ventos sobre a importância da Transformação Digital para nossos clientes, mas nosso espeto segue sendo de pau.

Marcas poderiam ter contratos mais transparentes com criadores, e agências poderiam finalmente monetizar a longevidade de suas ideias, sem se prender a métricas de curto prazo ou contratos restritivos sobre horas e quantidade de entregáveis apenas.

 

Bananas, Criatividade e o Futuro da Publicidade

Enquanto você reflete sobre o preço absurdo de uma banana em Manhattan, pense no valor das ideias que nascem dentro das agências ou da sua própria empresa. Estamos presos a um modelo ultrapassado, onde a criatividade é tratada como commodity, ou estamos prontos para um futuro onde ideias — como as bananas de Cattelan ou os conteúdos dos criadores — serão tratadas como os ativos de valor a partir do impacto que causam ao longo do tempo?

A publicidade não precisa ser arte, já superamos essa discussão, mas a criatividade de maneira ampla precisa ser remunerada com a justiça de quem entende seu verdadeiro impacto. Afinal, boas ideias podem até superar o risco de apodrecer na parede ou em um ppt, mas um ecossistema que seja capaz de gerar sistematicamente boas ideias orientadas a impactos reais (sejam eles quais forem), passam por uma lógica que fomenta e incentiva a criatividade.

Aí sim, talvez a gente passe a vibrar e ser remunerado para além de premiações e contratos de horas de trabalho, e acelere ideias que contribuam para transformar negócios, culturas e, por que não, o mundo.

*Marco Sinatura – Chief Strategy & Innovation Officer na iD\TBWA

Continue lendo

Artigos

O futuro falou alto no Digitalks 2025 e as marcas precisam ouvir

Publicado

em

*Claudio Santos e Daniel Rosa

O Digitalks 2025 deixou claro que o mercado de comunicação vive um momento decisivo. Entre tecnologia, cultura pop, criatividade e profundos ajustes no comportamento do consumidor, algumas tendências se destacaram pela força com que estão moldando e acelerando a transformação do setor. Cinco tendências, um mesmo recado.
De IA a Sonic Branding, passando pela força da Globo, pela reinvenção criativa do SBT e pelas colaborações culturais do porte de Stranger Things.

1. IA como infraestrutura, não mais como ferramenta

O painel de Pyr Marcondes foi categórico: a inteligência artificial deixou de ser acessório e passou a ser o motor central dos novos modelos de negócio.
Segundo ele, startups e empresas que não forem AI-first se tornarão obsoletas em meses, não em anos. A visão é incômoda, mas necessária: enquanto as Big Techs continuam investindo pesado em grandes modelos de linguagem, a verdadeira revolução está acontecendo nas aplicações específicas, nas microtarefas que resolvem dores reais e aceleram produtividade. O Digitalks mostrou que IA já não é diferencial competitivo. É requisito básico para existir no mercado.

2. Sonic Signature: o som como identidade de marca

A apresentação da Mastercard trouxe um conceito que ainda é pouco explorado no Brasil: a força das marcas sonoras. Em um ambiente saturado de informação visual, a Sonic Signature, um conjunto de sete notas que representa a marca globalmente e reforça uma tendência: criar vínculos emocionais usando estímulos que fogem do óbvio.

O funil de compra deixou de ser linear; o contato com a marca é fragmentado e disperso. Nesse contexto, símbolos auditivos tornam-se âncoras de memória. A era do Quantum Marketing aposta menos em dados brutos e mais em conexões sensoriais. A Mastercard entendeu isso antes da maioria e essa tendência deixou claro que outras marcas precisam seguir o exemplo.

3. Globo: a força de um ecossistema crossmedia e transgeracional

A fala de Gabriela Sicito, da GloboAds, reforçou um ponto que muitos players digitais tentam ignorar: a Globo ainda é e continuará sendo o maior ecossistema de comunicação do país. Com alcance de 98% da população brasileira, o grupo combina TV aberta, streaming e plataformas digitais com uma naturalidade que poucas empresas no mundo conseguem replicar.

A TV Globo mantém enorme força entre o público 40+, enquanto o Globoplay reúne jovens abaixo dos 30. Publicidade segmentada por cidade ou estado, ações de performance local e indicadores robustos completam a equação. Se há uma tendência consolidada, é esta: o futuro não será apenas digital; será crossmedia, transgeracional e guiado por dados.

4. SBT e o retorno da criatividade que prende e não apenas que atrai

No painel do SBT, uma ideia simples ressoou com força: mesmerization captura o olhar; criatividade mantém a atenção. Não basta gerar cliques, é preciso gerar conversa.

O resgate das câmeras escondidas exemplifica essa tese. O case global da Menina Fantasma, que ultrapassou 300 milhões de views, mostrou que formatos clássicos podem renascer quando reinterpretados para novas gerações. Hoje, versões imersivas aparecem em eventos como a CCXP, mostrando que entretenimento bem construído continua sendo uma das linguagens mais eficientes para marcas.A tendência é clara: o conteúdo que vence é o que combina engenharia do olhar com inteligência narrativa.

5. Stranger Things + Valda: nostalgia como estratégia de marca

O painel sobre marcas e entretenimento apresentou um dos cases mais simbólicos do evento: a collab Valda + Stranger Things. A força da ação não veio apenas da visibilidade, mas da conexão genuína. Ambos os universos carregam estética e memória afetiva dos anos 80 e foi exatamente essa sintonia que gerou relevância.

Mas o debate trouxe também um alerta importante: viralizar é fácil; manter relevância é difícil. A verdadeira tendência aqui não é a nostalgia em si, mas a capacidade de transformá-la em continuidade de narrativa, algo que poucas marcas conseguem sustentar.

O futuro da comunicação será híbrido, sensorial, inteligente e profundamente cultural. E, se o Digitalks antecipou alguma coisa, é que quem não acompanhar esse movimento ficará para trás — mais rápido do que imagina.

*Claudio Santos – Presidente do Next Group

*Daniel Rosa – CEO do Digitalks Indie Summit

Continue lendo

Artigos

O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

Publicado

em

*Vinicius Martinez

Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.

Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.

Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.

A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.

O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.

Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.

O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.

Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.

*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK

Continue lendo