Alexis Pagliarini
A jornada em busca do carbono zero nos eventos

Consciente da importância do alinhamento às melhores práticas, a indústria de eventos se mobiliza internacionalmente. Um movimento importante é a iniciativa Net Carbon Events, que ambiciona alcançar a condição Carbono Zero até, no máximo, 2050. Lançada em agosto de 2021, a iniciativa conta com a adesão de mais de 400 organizações, de 55 países, incluindo 275 operadores de eventos. As adesões continuam e, provavelmente, no momento de leitura deste texto, o número de adesões esteja ainda mais expressivo. A UBRAFE (União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios), em adesão às iniciativas da UFI (The Global Association of the Exhibition Industry), participante ativa da iniciativa Net Zero Carbon, lidera a mobilização no Brasil.
A iniciativa Net Carbon Events arregimenta internacionalmente signatários do seu Net Zero Carbon Pledge, ou seja o comprometimento formal, mediante assinatura, de empresas e instituições no compromisso pela busca da condição de Carbono Zero até 2050.
São quatro as ações previstas no pledge (compromisso):
– Antes do final de 2023, publicar o plano da organização para alcançar a condição de Carbono Zero até 2050 (no máximo), estando em linha com o objetivo do Acordo de Paris de reduzir a emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa) em 50% até 2030.
– Colaborar com parceiros, fornecedores e clientes para efetivar mudanças em toda a cadeia.
– Medir e monitorar os Escopos 1, 2 e 3 de emissões de gases de efeito estufa, de acordo com as melhores práticas da indústria.
– Reportar o progresso de suas ações a cada dois anos (no mínimo)
Uma mudança sistêmica é exigida para se alcançar a meta de eventos carbono zero. É preciso considerar a grande quantidade de stakeholders envolvidos, resultando numa cadeia extensa e complexa. É preciso que todos estejam imbuídos e engajados na mesma causa. Os eventos deverão ser planejados, desde sua concepção até execução, levando em conta as novas variáveis alinhadas ao objetivo net zero.
Engajamento brasileiro vai além da neutralização de carbono
O Brasil tem características próprias que exigem uma customização da visão internacional. Começando pela questão energética: o Brasil conta com uma matriz invejável, com quase a metade da sua energia advinda de fontes renováveis. No campo da eletricidade, então, mais de 90% da energia utilizada é gerada por fontes renováveis (dados de 2022 e 2023). Isso porque o nosso país apostou nas hidrelétricas e, depois, no etanol – com o Proálcool – e mais recentemente nas eólicas e solares, criando uma matriz inigualável. Isso sem levar em conta o potencial da biomassa e do hidrogênio verde.
Sendo assim, enquanto a questão da energia é um ponto crucial para os países da Europa, América do Norte e Ásia, para o Brasil este não é um ponto de tanta relevância. É claro que o fato de contarmos com energia limpa não nos exime de responsabilidade de buscar maior eficiência no uso desse recurso. Já a questão dos resíduos é de extrema importância para nós, brasileiros. O Brasil ainda usa os famigerados aterros sanitários para descartar a maior parte do seu lixo. Apenas 4% dos resíduos são reciclados por aqui. É aí, portanto que a indústria brasileira de eventos deve centrar esforços. É preciso buscar soluções que apliquem o princípio dos 3 R’s: Reduzir, Reutilizar, Reciclar.
Os eventos devem ser projetados com estes 3 R’s em perspectiva. Repensar materiais, projetos, insumos e processos de forma a minimizar ao máximo a quantidade de materiais durante a montagem e buscar reutilização e reciclagem do lixo gerado. Outros pontos merecem atenção especial no Brasil. Mas isso é assunto para outros artigos.
Alexis Pagliarini
ESG 2.0: Eventos mais conscientes, estratégicos e alinhados com o futuro

Por Alexis Pagliarini
Muito se fala em ESG no mundo corporativo, e cada vez mais também no setor de eventos. Mas, no atual momento de amadurecimento do tema, não basta mais dizer que se preocupa com sustentabilidade ou que fez uma ação pontual de responsabilidade social. A nova fase, que chamamos de ESG 2.0, exige que esses princípios estejam incorporados ao próprio DNA do evento — desde o planejamento até a desmontagem.
ESG 2.0 aplicado a eventos: o que muda na prática
A diferença entre ESG 1.0 e 2.0 é essencialmente a profundidade e a intencionalidade. Se na fase inicial falávamos em “ações ESG”, agora falamos em eventos pensados com lógica ESG desde a origem. Isso envolve:
1. Meio Ambiente: da pegada de carbono ao fim do resíduo
2. Social: inclusão real, dentro e fora dos palcos
3. Governança: respeito, contratos e transparência
Do evento ao legado
Eventos são, por natureza, efêmeros. Mas um evento bem planejado com critérios ESG 2.0 deixa um legado duradouro. Seja por gerar impacto positivo na comunidade, inspirar mudanças em marcas participantes ou educar o público, o evento torna-se um agente de transformação.
Conclusão
Incorporar ESG 2.0 à organização de eventos não é mais uma questão de escolha, mas de atualização e responsabilidade. Empresas, marcas e organizadores que realmente desejam se destacar e se manter relevantes precisam ir além do discurso. Precisam integrar o ESG à espinha dorsal de cada evento, entendendo que fazer o certo não é apenas ético — é estratégico.
Alexis Pagliarini
Contagem regressiva para a COP30

A COP30 será o maior evento diplomático sediado pelo Brasil desde a Rio+20, realizada em 2012. Espera-se que a conferência reúna mais de 60 mil visitantes de aproximadamente 190 países, incluindo chefes de Estado, diplomatas, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil. A Rio+20, oficialmente conhecida como Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também contou com a participação de milhares de representantes de diversos países, consolidando-se como um marco nas discussões globais sobre sustentabilidade.
Eu morava no Rio em 1992 e visitei a Rio+20. Apesar do grande número de visitantes, o Rio tinha estrutura para acolher um evento dessas dimensões e tudo ocorreu com certa tranquilidade, apesar dos “jeitinhos” adotados. Com Belém, porém, é diferente. A cidade tem uma estrutura insuficiente para receber um evento dessa magnitude. E ainda tem o agravante do perfil de boa parte do público participante: Chefes de Estado e delegações oficiais, além de representantes da ONU e de organismos multilaterais. Não é um público que se hospeda em qualquer lugar.
Somente agora, dias atrás, foi definido o quarteto que comandará a organização do evento: Embaixador André Corrêa do Lago, designado presidente da COP30; Valter Correia, secretário extraordinário para a COP30; Ana Toni, CEO da COP30, e Dan Iochpe, “Champion” de alto nível para o clima da COP30. É um time de respeito, mas os desafios são imensos. Para fazer frente a esse desafio, o governo brasileiro, em parceria com autoridades estaduais e municipais, está investindo aproximadamente R$ 4,7 bilhões em cerca de 30 obras estruturantes nos setores de mobilidade, saneamento e desenvolvimento urbano.
Esses investimentos visam não apenas atender às demandas temporárias da conferência, mas também deixar um legado duradouro para a população local. Entre as principais iniciativas, destaca-se a construção da Avenida Liberdade, uma rodovia de 13,2 km que atravessa áreas protegidas da Amazônia. Embora projetada para melhorar a mobilidade urbana, essa obra tem sido alvo de críticas devido ao impacto ambiental associado ao desmatamento necessário para sua implementação. Nem o local principal de realização do evento foi totalmente definido ainda. Imagina você, que está acostumado a organizar eventos de grande porte, se encontrar a 8 meses de um evento dessas dimensões com tanto ainda por definir. É de perder o sono. A gente sabe que, no fim, tudo se ajeita. Foi assim com a Copa de 2014 e as Olimpíadas, em 2016. Mas podia ser menos arriscado, não?