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Alexis Pagliarini

1992 – 2024 – 2030 – 2050

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Por Alexis Pagliarini

Não, você não está perante uma mensagem secreta, em código. Se você assistiu à série 3 Body Problem (Netflix – esperando ansiosamente a 2ª temporada), sossegue: esta não é uma mensagem alienígena. São datas. Mas não são datas quaisquer. São momentos de extrema importância para o mundo e, particularmente, para o Brasil. O ano de 1992 marca a realização da primeira grande conferência das Nações Unidas com foco no Meio Ambiente. O evento foi realizado no Rio e ficou conhecido como Rio-92 ou Eco-92.

Eu morava no Rio nessa época e me lembro da grande mobilização gerada. As mensagens predominantes ainda eram um tanto quanto naive, do tipo Salvem as Baleias ou Salve o Mico Dourado. Não que o movimento para salvar uma espécie da extinção não seja importante, mas hoje nós precisamos gritar Salvemos o Planeta!  De qualquer maneira, o evento foi um marco na conscientização e mobilização em torno das armadilhas que a humanidade estava criando para si própria. Foi um evento importante, que reuniu delegações de 175 países, com relevantes tratados assinados, como as convenções da Biodiversidade, das Mudanças Climáticas e da Desertificação.

Pois bem, 1992 foi o início de um importante movimento. Porém, chegamos agora a 2024 e temos mais preocupações do que conquistas a destacar. Há, sim, uma mobilização importante, mas tudo ainda num ritmo lento, inadequado à urgência, que vem crescendo com o passar dos anos. Estamos vivendo momentos angustiantes, com as mudanças climáticas mostrando seus efeitos devastadores. Vale a pena agora trazer à luz a terceira data-chave deste artigo: 2030. Na verdade, deveríamos tê-la precedido com 2015. Foi quando foi realizada a COP 21, momento em que foi firmado o Acordo de Paris, que marcou o compromisso de 195 países em aplicar medidas para evitar um aquecimento global que supere 1,5°C, em relação ao início da era industrial. É um compromisso que tem como deadlines (um termo em inglês que ganha contornos macabros) 2030 e 2050, a última data do título deste texto. 2030 é a data-limite para uma série de metas, expressas nos 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris. São objetivos que vão muito além das ameaças das mudanças climáticas. Tratam também da fome, da desigualdade e de outros temas que são fundamentais para uma sociedade mais responsável, mais inclusiva e justa. E 2050 é a data estabelecida para chegarmos à condição de Net Zero Carbon, ou seja: carbono neutro. Significa alcançarmos uma condição em que o carbono emitido pelas operações humanas seja compensado integralmente, chegando a um equilíbrio ideal.

Para que tudo isso aconteça, o mundo está numa corrida. Mas é uma corrida desigual. Para alguns países, essa corrida é de velocidade rápida, para outros, é uma maratona a passos lentos. Alguns parecem nem ter dado a largada… O fato é que o Brasil é um corredor com chance de alcançar o pódio dessa competição. Poucos países têm a condição do Brasil de bater metas nas questões ambientais. Temos a maior cobertura vegetal do planeta e uma matriz energética exemplar, chegando a quase 50% de fontes renováveis, enquanto a média internacional não supera 15%. Mas essa não é uma corrida individual, é um revezamento, e precisamos da participação de toda a sociedade, passando o bastão de mão em mão para aproveitarmos esse diferencial competitivo. Enquanto que para alguns países as datas expostas no título deste artigo (principalmente as últimas) podem ser angustiantes, para o Brasil podem ser uma oportunidade de ouro. Mas o relógio não para e a janela de oportunidade não estará aberta para sempre. É preciso uma conjunção de esforços do governo, das empresas e da sociedade para que consigamos estabelecer outras datas, que marquem uma nova era de sustentabilidade, prosperidade e justiça social no Brasil.

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Alexis Pagliarini

Eventos corporativos em tempos de polarização: neutralidade ou posicionamento?

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Por Alexis Pagliarini

Vivemos uma era de polarização crescente. O debate público, no Brasil e em muitos outros países, tem se dividido em campos opostos, quase irreconciliáveis. E essa dinâmica não fica restrita à política. Ela invade o consumo, a cultura, a comunicação e, inevitavelmente, o universo dos eventos corporativos.

Quem organiza ou patrocina um evento sabe: não se trata apenas de logística, conteúdo ou experiência. Um evento é, acima de tudo, um espaço de representação de valores. Ele comunica — mesmo quando não pretende.

De acordo com o estudo anual Edelman Trust Barometer, as empresas seguem sendo as únicas instituições que ultrapassam o patamar de confiança de 60%. Confiamos mais nelas do que em governos, ONGs ou mídia. Mas essa confiança vem acompanhada de uma expectativa clara: não basta oferecer bons produtos ou serviços, espera-se das empresas (e, portanto, também dos seus eventos) uma postura propositiva, ética e responsável diante do mundo.

E aqui surge a encruzilhada: deve um evento corporativo manter neutralidade em temas sensíveis ou assumir posições claras?

A neutralidade pode parecer uma escolha segura. Em um ambiente polarizado, evitar discussões delicadas pode parecer a melhor forma de não gerar desconforto. No entanto, em muitos casos, a neutralidade é percebida como omissão. Participantes, principalmente os mais jovens, buscam coerência e coragem. Um evento que ignora temas urgentes — como diversidade, inclusão, sustentabilidade ou inovação social — corre o risco de parecer irrelevante.

Por outro lado, assumir posições implica riscos. Eventos que trazem para a pauta discussões sobre equidade de gênero, direitos humanos ou mudanças climáticas podem atrair críticas, boicotes ou acusações de “politização”. O movimento “anti-woke”, que cresce em diversos países, é um reflexo dessa resistência.

O caminho possível não está em escolher entre o silêncio e o ativismo desmedido, mas em construir autenticidade. Um evento precisa refletir a identidade, o propósito e a cultura da organização que o realiza. Se esses valores forem claros e consistentes, o posicionamento deixa de ser apenas um risco e passa a ser uma oportunidade de conexão genuína com o público.

Eventos coerentes com a prática das empresas que os promovem resistem melhor às críticas. Podem até perder a adesão de alguns, mas ganham legitimidade junto a quem valoriza atitudes alinhadas a princípios sólidos. E legitimidade é um ativo cada vez mais valioso em tempos de desconfiança.

No fim, a questão não é se um evento corporativo deve ou não se posicionar, mas como deve fazê-lo. A resposta está na capacidade de navegar a polarização sem abrir mão da sua bússola ética.

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Alexis Pagliarini

COP30: Momentos de tensão

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Por Alexis Pagliarini

Este é o terceiro artigo sobre a COP30 que escrevo por aqui. Desde o primeiro, já alertava sobre o risco iminente de colapso estrutural da cidade de Belém para receber um evento dessa magnitude. O que vemos agora é que a realização da COP30 em Belém, marcada para novembro de 2025, enfrenta um risco real — não pelas pautas climáticas, mas por uma crise humanamente previsível: a falta de hospedagem acessível e estruturada na cidade-sede. O que deveria ser uma oportunidade histórica para o Brasil se transformar em cenário de controvérsia por números: enquanto a expectativa é reunir cerca de 50 a 45 mil participantes, Belém dispõe de apenas cerca de 18 000 leitos formais.

O que já é um gargalo logístico transforma-se em crise quando se observa os valores praticados: hospedagens sendo oferecidas a até US$ 700 por diária — 10 a 15 vezes acima do preço normal — ou chegando a cifras surreais como R$ 100 000 por noite ou imóveis por R$ 2 milhões no período. Em uma comparação que beira o absurdo, uma acomodação passou de cerca de US$ 11 para US$ 9 320 por dia.

Diante desse colapso, o alarmante veio à tona com uma reunião de emergência realizada pela ONU em julho de 2025, quando delegações — sobretudo dos países em desenvolvimento — expressaram indignação e alertaram para possíveis cortes ou boicotes à conferência, se não houvesse resposta rápida. Alguns chegaram a pedir formalmente a transferência da COP30 para outra sede.

O governo brasileiro, confrontado com essa situação, se mobilizou. Firmou acordos com hotéis, articulou o uso de navios de cruzeiro com cerca de 6 mil leitos, ampliou alternativas como escolas, motéis, igrejas e a temida “Vila COP”, e manifestou o compromisso de apresentar um plano de mitigação até 11 de agosto.

Apesar disso, os efeitos permanecem preocupantes: consultas à nova plataforma de reservas mostram valores entre US$ 360 e US$ 4 400 por noite, além de quase 2 000 pessoas em lista de espera. O temor de exclusão de países e da sociedade civil cresce: se apenas os setores mais ricos conseguirem garantir hospedagem, a COP30 corre o risco de se tornar um evento elitizado, prejudicando sua legitimidade e o protagonismo brasileiro na agenda ambiental global.

Esse contexto é ainda mais delicado dado o cenário político internacional — com os Estados Unidos retirando-se do Acordo de Paris —, o que torna essencial que o Brasil conduza a COP30 de maneira simbólica e eficaz. Se falhar em garantir acesso equitativo, pode implicar em retrocessos diplomáticos e ambientais, perdendo uma oportunidade decisiva de reafirmar sua liderança e compromisso climático.

Em síntese, a COP30 já enfrenta um adversário real antes mesmo de começar: a incapacidade logística de oferecer hospedagem digna e acessível. Se os riscos — desde desertores até críticas globais — não forem contidos, o evento pode falhar em sua intenção mais básica: ser uma plataforma inclusiva para o futuro climático.

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