Artigos
Datas comemorativas: como a simplicidade pode gerar resultados surpreendentes

*Daniela Helena Sanzone
Seja na Semana Santa, no Dia das Mães, nas Festas Juninas, as datas comemorativas representam oportunidades valiosas para o varejo e as marcas se conectarem com seu público. É o momento ideal para explorar a criatividade, fortalecer valores da empresa e estreitar laços com os clientes, gerando engajamento. Quando bem realizadas, essas ações vão muito além do aumento nas vendas: elas constroem conexões estreitas e transformam consumidores em verdadeiros embaixadores da marca.
O live marketing oferece um amplo repertório de estratégias para ampliar a visibilidade das marcas e de seus portfólios. Desde celebrações e campanhas publicitárias que capturam o espírito dos dados até ativações no ponto de venda – como distribuição de brindes e lançamentos de edições limitadas – e experiências digitais interativas, as possibilidades são inúmeras.
Para que uma ação de live marketing tenha impacto real, é essencial que varejistas e marcas se posicionem de maneira autêntica e estratégica. O segredo está em compreender o contexto e a relevância dos dados para os consumidores e traduzir esse entendimento em experiências memoráveis.
Quando menos é mais
Experiências mostram que, muitas vezes, ações simples e criativas, de fácil execução, mas que despertam emoções e boas lembranças, podem gerar resultados surpreendentes.
Envie uma caixa surpresa para clientes VIP, com produtos exclusivos ou vouchers temáticos, ou personalize o ponto de venda e o ambiente corporativo com elementos alusivos à celebração são estratégias eficazes e acessíveis para fortalecer o vínculo com o público.
Outras iniciativas de envolvimento desafios temáticos ou quiz shows com prêmios, que reforçam a cultura da marca ou empresa de forma lúdica e envolvente. Além disso, experiências digitais interativas, como jogos personalizados ou campanhas de conteúdo geradas pelo usuário, ampliam o alcance da ação e estimulam o engajamento.
Transformar um simples brinde ou ação interna em algo que realmente impacte as pessoas é um passo essencial para consolidar a confiança do consumidor. Uma ativação bem planejada não apenas fortalece a relação com o público, mas também insira a marca na história de seus clientes – e, consequentemente, no imaginário das futuras gerações.
* Daniela Helena Sanzone – Sócia-diretora da agência Joia
Artigos
O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

*Vinicius Martinez
Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.
Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.
Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.
A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.
O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.
Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.
O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.
Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.
*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK
Artigos
Agências independentes na contramão: autonomia em tempos de transformação

*Juliene Nigro
A Inteligência Artificial não está apenas transformando a operação das agências: está provocando um reposicionamento estrutural no mercado global. Durante a edição deste ano do Web Summit Lisboa, líderes como Tiffany Rolfe, diretora global de criação da R/GA, e Ajaz Ahmed, fundador da AKQA (agora Studio One), reforçaram um movimento que já vinha ganhando força: a volta das agências independentes ao centro do mercado
Após anos dentro das holdings, os executivos deixaram claro que estruturas hipercomplexas não acompanham mais o ritmo da tecnologia.
Por décadas, grandes grupos justificaram sua relevância por meio da economia de escala. Isso não se sustenta mais. A criatividade, agora com a IA, não prospera sob camadas de aprovação, processos engessados e medo, por parte dos colaboradores, de reestruturações constantes.
Com a IA, a automação e os novos fluxos, escala passou a ser definida pela qualidade das ideias, e pela capacidade tecnológica de amplificá-las. Não pelo tamanho da equipe.
Vivemos em um momento paradoxal: por um lado, há uma forte tendência de consolidação no setor de agências, fusões, aquisições, holdings cada vez maiores. Por outro, surgem vozes que afirmam que o crescimento não deve sacrificar a agilidade, a criatividade e a capacidade de adaptação.
A independência, nesse sentido, emerge como uma alternativa estratégica: não se trata apenas de “ser pequeno”, mas de ser livre para reinventar o próprio modelo de negócio.
Claro, o movimento não é isento de riscos. Manter-se independente exige disciplina financeira, governança sólida e visão clara para gerir o fundo de inovação. Há também a pressão por resultados novíssimos, não apenas para clientes, mas para investidores. E, mais ainda, existe o desafio cultural: mudar o mindset interno para operar sob novas regras de contratação, remuneração e performance.
O debate no palco do Web Summit Lisboa, neste ano, foi um manifesto. Um manifesto de que, na era da IA e da inovação contínua, as agências precisam mais do que tamanho: precisam de autonomia para decidir, testar e transformar.
Enquanto tantas apostam na consolidação, outras vão na contramão, acreditando que a verdadeira vantagem competitiva se constrói com liberdade, cultura ágil e visão de longo prazo.
É um movimento ousado, arriscado, mas cheio de significado: porque mostra que, para algumas agências, a independência não é apenas uma condição de mercado; é, sobretudo, uma estratégia de sobrevivência e relevância no futuro da criatividade.
* Juliene Nigro – Vice-presidente de operações da Mootag








