Naty Sanches
O impacto das novas decisões de atualizações da Meta

Por Naty Sanches
O ano de 2025 começou com diversas atualizações significativas, e uma das mais comentadas e delicadas são as mudanças implementadas pela Meta. A adaptação dos gigantes da tecnologia às demandas de mercado e ao contexto político e social é constante, mas, quando as mudanças impactam diretamente a maneira como nos relacionamos com as informações, o efeito pode ser ainda mais profundo. Caso ainda não tenha se atualizado sobre o tema, este artigo pode ajudar a se aprofundar na questão.
1. Fim da checagem de fatos
Desde 2016, a Meta contou com a colaboração de mais de 80 organizações ao redor do mundo para checagem de fatos, cobrindo mais de 60 idiomas. Entre os parceiros estavam agências de notícias renomadas, como Reuters, France Presse e Associated Press. O trabalho era realizado por jornalistas e especialistas em cerca de 115 países, que verificavam a veracidade das informações que circulavam nas redes sociais e ofereciam contexto para os usuários.
No Brasil, a empresa mantinha parceria com cinco organizações de checagem, responsáveis por analisar conteúdos publicados no Instagram e no Facebook, incluindo vídeos, imagens, links e textos. O objetivo era combater a desinformação e fornecer dados confiáveis para os usuários.
No entanto, a Meta decidiu encerrar esse programa e, por enquanto, a mudança vale apenas para os Estados Unidos — conforme resposta da empresa a questionamentos da Advocacia-Geral da União (AGU). Ainda assim, a decisão preocupa os brasileiros, que estão entre os maiores consumidores das redes sociais da empresa.
Com o fim da checagem de fatos, a Meta passou a adotar a política das “Notas de Comunidade”. Agora, apenas usuários previamente cadastrados podem contestar informações que circulam na plataforma. A ideia da empresa é reduzir os excessos de moderação, aplicando punições mais severas, como restrições de conta, apenas em casos denunciados e analisados como graves.
A decisão foi mal recebida pela maioria dos brasileiros. Segundo uma pesquisa da Broadminded, da Sherlock Communications, divulgada pelo jornal O Globo, 41% dos brasileiros são contra essa mudança — um índice maior do que em outros países da América Latina, como Argentina (28%), México (31%), Colômbia (35%), Chile (30%) e Peru (26%).
A preocupação principal é que a retirada da checagem profissional pode facilitar a disseminação de desinformação. Antes, especialistas verificavam e contextualizavam conteúdos suspeitos. Com as “Notas de Comunidade”, esse processo fica mais restrito aos usuários, o que pode reduzir a eficácia da moderação e impactar a confiabilidade das informações que circulam nas plataformas.
2. Fim dos filtros
Filtros criados por usuários já não existem mais na plataforma. Mas calma! Ainda vai dar para usar os filtros criados pela Meta. A big tech vai derrubar apenas os filtros de Realidade Aumentada (RA) criados por terceiros.
“Ao concluir uma avaliação completa, decidimos encerrar a plataforma de ferramentas e conteúdo de terceiros do Meta Spark”, anunciou a gigante da tecnologia em um comunicado. A empresa esclareceu que os conteúdos publicados antes da mudança, incluindo Reels e Stories feitos com filtros de terceiros, não serão removidos do Instagram.
A eliminação de filtros criados por terceiros pode ser vista como uma tentativa de aumentar o controle sobre a experiência do usuário, mas também limita a criatividade e a inovação que surgem desses projetos independentes.
3. Fim dos destaques
Há rumores que os destaques também serão descontinuados. Os dos stories no Instagram passarão por mudanças. A plataforma revelou que os círculos, que antes ficavam acima da grade de fotos no perfil, serão movidos para uma aba exclusiva. Segundo o Instagram, essa nova seção terá um ícone de coração arredondado e permitirá que as pessoas acessem os stories organizados em miniaturas verticais, categorizadas por temas.
Segundo Adam Mosseri, chefe do Instagram, o objetivo é simplificar a experiência do usuário. A mudança nos destaques pode ser uma resposta à sobrecarga de informações.
Essa reorganização tem o potencial de tornar a plataforma mais acessível e eficiente, mas depende da aceitação do público. Eu, particularmente, gosto da organização atual dos destaques, é uma possibilidade de contar sobre você ou sobre a marca de uma forma mais dinâmica. Vamos acompanhar!
4. Personalização de conteúdo político
Os usuários no Brasil não poderão mudar suas configurações para ver mais conteúdo político de contas que não seguem no Instagram e no Threads durante o período eleitoral. A possibilidade de ajustar essa configuração será restaurada na conclusão desse período.
A Meta voltou a recomendar publicações políticas, o que pode intensificar as ”bolhas informacionais” e a polarização.
Com a alteração da política contra o discurso de ódio nas plataformas Meta (Instagram, Facebook e Theads), algo chocante aconteceu! Está permitindo que orientação sexual e gênero sejam associados a doenças mentais.
5. Regulamentação e responsabilidade
Com todas essas mudanças anunciadas e começando a ser praticadas, governos e organizações estão pressionando a Meta para garantir que as mudanças respeitem as leis nacionais e protejam os direitos dos usuários.
Atualmente, as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros mediante uma decisão judicial. No Brasil, o Projeto de Lei das Fake News, que previa uma maior responsabilização das plataformas por conteúdos prejudiciais e exigia mais transparência na moderação, continua estagnado no Congresso. O debate sobre o assunto também está sendo discutido no Supremo Tribunal Federal (STF).
É claro que, mais do que nunca, os profissionais de comunicação, marketing e direito digital terão um papel fundamental em compreender essas novas dinâmicas e auxiliar na construção de uma internet mais segura, transparente e acessível para todos. O que está em jogo não são apenas as atualizações das plataformas e sim, como a sociedade interage com as informações no ambiente digital, um tema que, sem dúvida, continuará a ser muito debatido.
Naty Sanches
Todo mundo é mídia? Quando os colaboradores se tornam o maior ativo de Live Marketing das marcas

*por Naty Sanches
Quem conta a história da sua empresa hoje: um comercial na TV, uma nota na imprensa ou o post de um colaborador no LinkedIn? Na economia da atenção, a resposta é simples: todos. A comunicação corporativa deixou de ser uma narrativa controlada por poucos canais oficiais e passou a ser um ecossistema vivo, construído diariamente por quem faz parte da organização.
Se antes a reputação estava restrita ao que saía em jornais e campanhas publicitárias, hoje ela também nasce (e se transforma) na timeline de cada funcionário. Uma foto espontânea da equipe nos Stories, um Reels celebrando uma conquista ou um comentário no LinkedIn sobre o clima interno carregam tanto poder de influência quanto qualquer conteúdo produzido pela área de marketing. A marca, nesse cenário, não é mais apenas institucional: ela é co-criada por seus colaboradores.
O conceito de funcionários-influenciadores não é mais tendência, é realidade. A pesquisadora Carol Terra, autora do recém-lançado livro “De funcionários a influenciadores: Por que ter programas de funcionários influencers vale a pena”, sintetiza bem esse fenômeno. Segundo ela, quando a marca reconhece seus profissionais como porta-vozes e oferece as condições certas para que comuniquem de forma alinhada à cultura da empresa, consegue transformar a experiência individual em reputação coletiva.
Isso porque, eles comunicam autenticidade, conhecimento de bastidores e vivência cultural da empresa e é justamente essa autenticidade, difícil de replicar em campanhas tradicionais, que dá força ao conteúdo gerado pelos funcionários.
E os números confirmam. Segundo pesquisa da Wifi Talents, posts compartilhados por colaboradores recebem até oito vezes mais engajamento do que os das redes sociais oficiais das empresas. O motivo? O público enxerga esses conteúdos como mais genuínos e confiáveis. Em um momento em que a confiança vale mais do que o alcance, apoiar a comunicação de quem já está “dentro de casa” pode gerar resultados expressivos, sem depender apenas de campanhas milionárias.
No Brasil, O Itaú criou os Itubers, grupo de funcionários que compartilham os bastidores do banco e já somam mais de 145 mil seguidores no Instagram. A iniciativa humaniza a instituição e aproxima o público de uma marca que, muitas vezes, poderia parecer distante. Nestlé, PepsiCo e Unilever: estruturaram programas formais de microinfluenciadores internos, treinando colaboradores com entre 10 mil e 50 mil seguidores para atuarem como embaixadores digitais. Além de fortalecer a reputação, essas empresas criaram uma rede de porta-vozes autênticos, capazes de dialogar com diferentes públicos de forma descentralizada.
O resultado vai além da imagem: empresas que investem em programas assim conseguem reduzir turnover em até 28% e cortar em 50% os custos por contratação, segundo levantamentos do setor.
Esses exemplos reforçam uma mensagem importante para o mercado de Live Marketing: a força de influência está dentro de casa. Mais do que contratar grandes nomes para campanhas pontuais, é possível engajar consumidores por meio das vozes autênticas de quem vive a cultura da marca no dia a dia.
Especializada em experiências de marca, a disciplina tem um terreno fértil para se beneficiar desse movimento. Eventos, ativações e campanhas que já contam com alto potencial de engajamento ganham ainda mais força quando compartilhados pelos colaboradores.
É um efeito cascata: da experiência presencial para a digital, da narrativa oficial para as micro-narrativas espontâneas.
Naty Sanches
Visibilidade não é confiança! Criadores UGC como estratégia digital para marcas que desejam desenvolver conversas mais sinceras

*Por Naty Sanches
No mercado digital, números viraram fetiche. Seguidores, curtidas e visualizações são tratados como sinônimo de sucesso. Só que essa lógica já derrubou muita marca em crises de reputação ao apostar em influenciadores apenas pelo alcance e não pelo alinhamento de valores. Afinal, quando a métrica é fake, a crise é real.
A boa notícia é que existe um caminho mais sustentável e ele passa pelo UGC (User Generated Content), ou, em bom português, o Conteúdo Gerado pelo Usuário. Diferente de influenciadores que constroem suas carreiras em torno da visibilidade, criadores UGC são pessoas comuns que produzem resenhas, reviews e experiências espontâneas sobre marcas e produtos. Essa simplicidade é justamente o que gera confiança.
De acordo com a Influencer Marketing Factory, 79% dos consumidores afirmam que criadores UGC impactam mais suas decisões de compra do que postagens de grandes influenciadores. Outros 84% consideram esse tipo de conteúdo “extremamente útil” para decidir o que comprar. Em um cenário saturado por campanhas ensaiadas e cortes virais, a autenticidade virou o ativo mais raro e mais valorizado.
Não à toa, marcas como a GoPro e a Sallve já fazem disso pilar estratégico. A primeira incentiva clientes a produzirem vídeos com suas câmeras, transformando consumidores em promotores. A segunda construiu sua base digital a partir de depoimentos reais de usuários sobre produtos. Nos dois casos, o UGC não apenas gerou engajamento: fortaleceu uma comunidade e consolidou reputação.
Esse movimento vai além das gigantes. A ferramenta TikTok Shop se tornou terreno fértil para pequenos e médios negócios crescerem com apoio de criadores UGC. Segundo pesquisa do portal Whop em 2024, 60% dos consumidores percebem esse formato como mais autêntico que qualquer outro. O resultado? 83% se dizem mais propensos a comprar de marcas que apostam em UGC, e 72% seguem ativamente empresas que utilizam essa estratégia.
Enquanto influenciadores de grande porte ainda são importantes para visibilidade, os criadores UGC oferecem algo que, no longo prazo, é ainda mais valioso: credibilidade. E é essa combinação que constrói campanhas robustas, capazes de gerar alcance sem abrir mão da confiança.
Porque no fim do dia, reputação é mais difícil de comprar do que cliques. A lógica do “quanto mais seguidores, melhor” já provou suas falhas: pode render resultados imediatos, mas também coloca marcas na mira de crises que custam caro em imagem e confiança. O UGC surge como contrapeso, lembrando que marketing não é só sobre falar mais alto, mas sobre ser ouvido com atenção e autenticidade.
Aplicar essa visão na prática exige um olhar mais cuidadoso para a escolha dos criadores: não basta analisar alcance, é preciso avaliar se os valores deles se alinham à identidade da marca. Também é essencial incentivar que os conteúdos produzidos mantenham a naturalidade e a espontaneidade características desse formato, em vez de engessá-los em roteiros publicitários. E, sobretudo, é estratégico combinar forças, usar grandes influenciadores para dar visibilidade e criadores UGC para gerar proximidade. Assim, a marca constrói narrativas complementares, capazes de engajar diferentes públicos e fortalecer sua reputação.
Investir nessa experiência do usuário não significa apenas “ter mais gente falando da marca”. Significa estimular uma comunidade engajada que valida, compartilha e multiplica experiências reais, gerando maior identificação com a audiência. Nesse movimento, a prioridade deixa de ser o número de seguidores, que é o que leva muitas marcas a caírem no erro ao escolher um embaixador ou influenciador, e passa a ser o relacionamento com o consumidor.

			






