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O impacto do Rock in Rio no marketing de relacionamento: lições para incentivo, fidelização e promoções

*Herbert Froes
O Rock in Rio, junto com outros grandes festivais, traz em seu modelo de negócios oportunidades para criação de estratégias de incentivo e fidelização. Essas experiências têm o poder de criar conexões duradouras com o público ao promover acesso exclusivo, interações personalizadas e parcerias com marcas de destaque.
Ao proporcionar momentos únicos e de alto valor emocional, os festivais ajudam a transformar consumidores em defensores leais, mostrando que entretenimento pode ser uma poderosa ferramenta de engajamento e retenção de clientes.
Desde os primeiros agrupamentos sociais, a música tem sido usada para expressar e moldar emoções. Isso foi visto em movimentos como o jazz em Nova Orleans, o reggae na Jamaica, a ascensão do punk rock em Londres e, mais recentemente, o fenômeno global do rap e do trap. Em cada uma dessas épocas, os fãs buscam experiências únicas e intensas com seus artistas favoritos. E onde há essa conexão emocional, surge uma oportunidade de mercado para marcas e eventos, que podem fidelizar e engajar esse público fiel.
As marcas têm investido cerca de R$5 bilhões em festivais no Brasil e a Associação Patrocínio Brasil (APBR) tem expectativa de um crescimento de 12% em 2024, chegando muito perto ao maior investimento, que é em esportes. Em 2022, festivais como o Rock in Rio geraram um impacto econômico de cerca de R$1,7 bilhão no Rio de Janeiro.
Além disso, projeções indicam que, com o aumento da popularidade de festivais como Lollapalooza e The Town, o retorno sobre investimentos em branding e marketing pode crescer até 20% nos próximos anos, consolidando esses eventos como plataformas essenciais para as marcas.
O grande desafio, então, é tomar as melhores decisões e entender como a identidade das marcas pode fisgar o público com um storytelling legítimo e verdadeiro. De acordo com a nova pesquisa da divisão de patrocínios da Live Nation UK, para 69% dos fãs, a experiência com a música ao vivo começa muito antes do evento em si. A jornada inicia nas fases de descoberta e planejamento, e se estende por semanas após o show, na etapa de reviver as emoções experienciadas durante o espetáculo.
Ao longo dos anos, marcas globais criam experiências impactantes. A Três Corações, por exemplo, trouxe a estação We Are Café para recarregar a energia dos fãs durante o festival em 2022. Já a Nestlé, no mesmo ano, desenvolveu o projeto para KitKat, com um espaço de Dance Challenge, onde o público participava de batalhas de dança. Quem não lembra do projeto de Doritos? Em 2019 e 2022, eles desenvolveram a plataforma “Doritos Rainbow” com ativações de inclusão LGBTQIA+, que promovia a diversidade através de espaços interativos.
Neste ambiente, repleto de muita diversidade musical para atrair novas gerações, é preciso se manter relevante e atraente ao longo do tempo. Por isso, as marcas têm olhado e aplicado, cada vez mais, experiências personalizadas, parcerias, programas de fidelidade, gamificação e engajamento digital, além de conteúdo e experiência no pós-evento.
Na última edição do Rock in Rio, por exemplo, a Natura proporcionou descontos exclusivos em produtos da linha Ekos para quem se cadastrou em sua plataforma durante o festival, com campanhas de e-mail marketing e redes sociais que trouxeram ofertas exclusivas, reforçando a conexão com os consumidores mesmo após o evento. Já a Heineken adotou uma estratégia semelhante de fidelização a longo prazo, em que o público participava ativamente do programa de sustentabilidade: depósito de latas de cerveja para reciclagem durante o evento, que gerava códigos para descontos em futuras compras e experiências exclusivas.
Festivais como o Rock in Rio são territórios para criação de estratégia de promoção, incentivo e fidelização, trazendo a oportunidade para marcas se conectarem com o público das mais variadas formas. Com a combinação de experiências personalizadas, engajamento contínuo e parcerias estratégicas, é necessário entender a importância e garantir a extensão dessa conexão para além do evento, transformando consumidores em fãs não apenas de artistas e bandas, mas também de marcas.
*Herbert Froes – Diretor de criação da Roda Trade
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Marcas são memórias: o poder da experiência na construção de reputações

*Pedro Cunha
Há uma verdade que vem ganhando força em meio ao barulho das redes, à velocidade das tendências e ao cansaço das promessas vazias: toda marca é uma experiência. E não estamos falando apenas de logotipo, produto na prateleira ou campanha bem produzida. Estamos falando de algo mais profundo: daquilo que fica.
Uma marca é tudo aquilo que nos marca. Um museu, uma banda, um restaurante, uma cidade, um professor, uma causa. Mas também um hospital público, uma prefeitura, um ministério, um governo. Sim — gestores públicos e lideranças políticas também são marcas, pois carregam símbolos, valores, discursos e atitudes que impactam diretamente na percepção e na confiança das pessoas. Ou deveriam.
O que você lembra quando pensa no seu boteco preferido? E quando pensa naquela livraria aconchegante, ou naquela praça da infância? Não é só o que oferecem, mas como nos fazem sentir. E isso vale tanto para um restaurante quanto para um projeto social, uma secretaria de educação ou um governador.
Vivemos tempos em que comunicar não basta. É preciso conectar. Não há mais espaço para relações rasas entre marcas e pessoas. Queremos ser tocados, lembrados, acolhidos. Queremos sentir que somos parte de algo maior. E é nesse ponto que o marketing de experiência deixa de ser um “plus” criativo e passa a ser uma estratégia vital.
E os números comprovam: segundo uma pesquisa da PwC, 73% das pessoas dizem que a experiência é um fator decisivo na hora de comprar ou se relacionar com uma marca. Outro dado, do estudo da Salesforce, mostra que 88% do público acredita que a experiência oferecida por uma empresa é tão importante quanto seus produtos ou serviços. E isso vale, cada vez mais, para o setor público. Cidades que entregam boas experiências geram pertencimento. Políticos que escutam e agem com empatia constroem capital simbólico e confiança. Governos que se comunicam bem e entregam políticas públicas com qualidade viram referência e reputação positiva — mesmo diante de orçamentos enxutos ou desafios estruturais.
Experiência é o que transforma um serviço em memória, uma campanha em conversa, uma presença digital em relação real. E isso vale para tudo:
Um equipamento cultural como o MASP ou o Museu de Arte do Rio não entrega apenas arte — entrega um jeito de pensar o tempo e o mundo.
Uma liderança pública não é reconhecida só por discursos, mas por como faz as pessoas se sentirem pertencentes e respeitadas.
Um espaço urbano como a Orla do Recife ou a Av. Paulista vai além da paisagem — é lugar de encontro, de vida pulsando, de história compartilhada.
Um hospital público pode construir uma marca poderosa se a experiência do usuário for marcada por dignidade, acolhimento e eficiência.
Nesse sentido, a lógica se inverte: não é a marca que entrega uma experiência. É a experiência que constrói a marca.
Isso também se reflete no mundo digital. Um perfil nas redes — seja de uma instituição, de uma influenciadora ou de um prefeito — é uma marca. Com tom, ritmo, estética, promessas. Uma marca que, todos os dias, está dizendo quem é, o que entrega e como se relaciona com o outro.
Se tudo comunica, então tudo importa. A música de fundo, o cheiro do ambiente, o tempo de resposta, a calçada acessível, o menu do site, a luz do espaço, o cuidado com as palavras. As pessoas não se lembram exatamente do que você disse, mas dificilmente esquecem como você as fez se sentir. É clichê — e é verdade.
Num mundo saturado de estímulos — segundo a Forbes, uma pessoa é impactada por cerca de 6 mil a 10 mil mensagens publicitárias por dia — a experiência virou o filtro da relevância. O que emociona, engaja. O que é verdadeiro, permanece. O que é bem vivido, é compartilhado.
Por isso, a grande pergunta que toda marca — seja de consumo, cultura, território ou gestão pública — deveria se fazer é: como estou fazendo as pessoas se sentirem? E mais do que isso: essa experiência é coerente com quem eu digo ser?
A resposta, muitas vezes, não está em grandes campanhas ou orçamentos milionários, mas em gestos simples, humanos e consistentes. Experiência é cuidado. É escuta. É entrega.
Marcar alguém — de forma positiva — é, talvez, o maior poder que uma marca pode ter.
E aí, qual é a experiência que a sua marca está deixando no mundo?
*Pedro Cunha – Jornalista com 12 anos de experiência em comunicação estratégica para governos e corporações.
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Longevidade e SXSW 2025: Entre a nostalgia e a solidão conectada

*Thiago Diniz
Em Austin, uma cidade vibrante no coração do Texas — estado que no imaginário coletivo é associado ao conservadorismo —, testemunhei um encontro de ideias que desafiam estereótipos. Enquanto o Texas permite o porte de armas sem licença, mas proíbe o aborto em quase todas as situações, milhares de pessoas se reuniram ali para discutir o futuro: cultura, tecnologia, publicidade, consumo e até mesmo o papel dos Estados Unidos como influenciador global.
No meio desse caldeirão de inovação, dois temas emergiram de forma transversal e me levaram a refletir ainda mais sobre a Longevidade: Solidão e Nostalgia. Paradoxalmente, essas questões, tão associadas ao envelhecimento, pareciam agora marcar profundamente a juventude.
É evidente que a Inteligência Artificial permeia quase todas as discussões, com seus desafios e oportunidades. Contudo, o que se destacou foi a necessidade de sobrevivência e convivência humana com as máquinas. As relações amorosas com IAs, antes ficção, são agora uma realidade consolidada. Em um dos painéis mais impactantes, a Dra. Jaime Banks, da Syracuse University, afirmou que, embora as IAs não sejam reais, os sentimentos humanos envolvidos nessas interações são — talvez mais intensos do que nunca.
A Nostalgia, por sua vez, não era apenas um elemento de design, como nas bikes elétricas que remetiam às nossas Monark BMX, mas também um eixo central na forma como os produtos estão sendo pensados. A sul-coreana Gaudio, por exemplo, apresentou um dispositivo inspirado nos CDs dos anos 90: um gadget físico que, ao ser conectado ao celular, permite ouvir músicas de um único artista, apenas uma vez. Para repetir a experiência, é necessário reconectar o aparelho, quase como uma agulha de LP Player. Essa volta ao passado carrega um significado profundo: a experiência efêmera de consumir música contrasta com a cultura do acesso ilimitado, recriando o valor da escassez e da espera.
Esse anseio pelo passado não pode ser reduzido a uma simples saudade. Ele reflete um incômodo existencial: a vida era melhor antes? E se sim, o que podemos fazer para que o presente seja igualmente significativo?
A geração que cresceu sem a mediação digital entre as relações humanas surge agora como um referencial. Ela experimentou o tempo de forma diferente — sem a aceleração algorítmica, sem a hiperconectividade constante, sem a ansiedade gerada pela validação instantânea. No SXSW, essa experiência ganhou nova relevância: talvez a busca contemporânea pela Nostalgia não seja apenas um desejo de resgatar objetos ou estéticas, mas um chamado para redescobrir formas mais autênticas de viver e se relacionar. A resposta para a Solidão e o desejo por pertencimento pode estar naqueles que viveram antes da era digital — e na maneira como construíram suas conexões, num tempo diferente.
*Thiago Diniz – Head de planejamento da Lean Agency