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Do cancelamento ao cibercrime – saiba como proteger seu evento

Por Ricardo Minc
A indústria do entretenimento tem uma gama de seguros específicos ainda pouco explorados no Brasil. Do cancelamento ao cibercrime, passando por intempéries climáticas, no show de artistas e celebridades, danos aos visitantes, riscos de imagens da marca, como também alavancar promoção ou bônus contratual, as oportunidades são diversas.
Longe de ser mais um custo, o seguro para eventos é estratégico, é a forma mais barata de aumentar seu patrimônio para garantir contratos com importantes players – e com o avanço global das marcas vemos, a cada dia, mais exigências contratuais relacionadas aos seguros. Uma pequena empresa com uma boa apólice de seguro pode garantir contratos milionários com grandes marcas.
Atualmente, o tema atrai grande interesse, mas nem sempre foi assim. No passado, seguro era um “palavrão”, considerado quase sem relevância e, quando era contratado, deixava-se para os 42 do segundo tempo. Com a pandemia declarada em 2020, muitos eventos, show e festivais cancelados não tinham seguro contratado exatamente devido à prática de aquisição mais perto da data de realização do evento.
Aliás, as seguradoras brasileiras, ao contrário das suas matrizes internacionais, escaparam das perdas pelo único e simples motivo de que, no Brasil, não existia cultura de compra de seguro de cancelamento. O prejuízo, nesses casos, ficou para as empresas.
Obviamente, depois da pandemia, com a realização de eventos híbridos e a retomada dos presenciais, o cenário mudou. As empresas começam a entender a importância de garantir antecipadamente os diversos tipos de proteção, se possível já no lançamento do evento, uma vez que a subscrição e aceitação do risco está muito criteriosa.
Mas, além do seguro de cancelamento por epidemia – que já existia antes da covid – quais são, atualmente, os tipos de seguro disponíveis para proteger o mercado do entretenimento?
Entre as principais opções, há o seguro de cancelamento de eventos por motivos fora do controle do promotor/organizador, como indisponibilidade do local, problemas com acesso, ameaças terroristas, greves e mobilizações sociais, problemas técnicos, alagamentos, vendavais, raios, enchentes, fechamentos de aeroportos, doença ou acidentes como a celebridade, artista, palestrante, entre outros.
Há seguro de vida e de celebridade, para garantir os investimentos das marcas caso a celebridade sofra algum acidente, adoeça ou se envolva em situação de credibilidade de imagem, impendido de seguir com suas atividades. Há ainda seguros de responsabilidade e despesas médicas aos visitantes e/ou aos trabalhadores na montagem do evento; seguro dos equipamentos de som, áudio, vídeo, câmeras; seguro de propriedades do local do evento.
Há também opção de proteção contra ataques cibernéticos, que tem sido cada vez mais comuns devido à vasta coleta de dados para a realização de eventos, e cobre multas relativas à LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados, danos a terceiros, pagamentos de resgates e lucros cessantes ou a impossibilidade de realizar ou concluir o evento por causa de ataques.
Outros exemplos são os seguros de viagem para equipes e participantes e até mesmo os que cobrem riscos relacionados à mídia, como calúnia, difamação, violação de marcas, patentes, acusação de plágio, entre outros.
Uma opção ainda pouco conhecida, mas que deve começar a sofrer alta na procura, é a proteção relativa às intempéries climáticas. Enquanto a pandemia impôs aos eventos uma parada forçada, as mudanças climáticas podem oferecer problemas maiores de longo prazo para eventos ao ar livre, os verões estão ficando mais quentes, as tempestades são mais fatais e as janelas para receber reuniões de pessoas ao ar livre estão diminuindo.
Enfim, as opções de proteção para o mercado de eventos são vastas, o que precisa ser sempre lembrado é sobre a importância de se antecipar aos riscos e evitar perdas financeiras, com a escolha do tipo de proteção necessária logo no lançamento do evento.
O mercado segurador brasileiro, além de passar por uma série de mudanças, não é competitivo. Por isto, na hora de contratar, é importante que a empresa busque o corretor com mais experiência, que seja de confiança, tenha recursos para obter boas taxas e converse com ele o mais rápido possível.
Ricardo Minc é sócio-diretor e corretor de seguros na Affinité
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A COP30 e o rótulo como instrumento de política pública: O papel das marcas nessa construção

*Valmir Rodrigues
Enquanto o mundo comenta os avanços e o que poderia ter sido melhor na COP30, milhões de pequenos produtores e povos indígenas seguem invisíveis nas embalagens – e também no dinheiro que circula pelas cadeias de consumo. No fim, não são governos nem organismos internacionais que definem o ritmo de uma transição justa, mas o cidadão comum, que exerce poder diariamente por meio de suas escolhas de compra.
Quando o assunto é clima, o imaginário coletivo se volta quase sempre ao petróleo e às florestas. No entanto, quem realmente mexe o ponteiro, todos os dias, é o sistema de consumo, começando pelo alimento, responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. Cada vez que alguém enche o carrinho no supermercado, decide não apenas o que vai comer, mas quais produtores, territórios e modelos de negócio vai financiar.
O documento final da COP30, em Belém, aponta para um mundo em transição: triplicação do financiamento para adaptação, reforço da justiça climática e maior centralidade da Amazônia no debate. É um passo relevante. Mas permanece sem resposta a pergunta essencial: como essa ambição chega ao prato do consumidor e, sobretudo, às mãos de quem produz o que está nesse prato?
No Brasil, essa questão ganha nome e endereço. Segundo o Censo Agropecuário, cerca de 3,9 milhões de estabelecimentos de agricultura familiar representam 77% de todas as propriedades agrícolas do país e respondem por grande parte da comida consumida diariamente. Ao lado deles, as Terras Indígenas ocupam aproximadamente 13% do território nacional e concentram algumas das áreas mais bem preservadas do país. As imagens de satélite mostram isso de forma inequívoca: onde há terra indígena demarcada, a floresta permanece; onde não há, a pressão avança rapidamente.
São justamente esses grupos – pequenos produtores e povos indígenas – que figuram nos discursos da COP30, mas continuam à margem das principais decisões e quase ausentes das embalagens, dos rótulos e do fluxo econômico das cadeias de consumo.
Fora das salas de negociação, as pesquisas mostram que metade ou mais dos consumidores já aceita pagar um valor maior por produtos considerados sustentáveis, e que itens com alegações ambientais e sociais crescem mais em vendas do que concorrentes “neutros” na mesma gôndola. Não falta boa vontade do consumidor; falta transparência, linguagem acessível e modelos de negócio que garantam que esse valor adicional chegue à base da cadeia – às famílias agricultoras e às comunidades indígenas que o Pacote de Belém promete proteger.
É nesse ponto que surge o grande desafio, mas também uma enorme oportunidade para a indústria de alimentos e para as marcas de forma geral: transformar o Pacote de Belém em produtos e embalagens capazes de falar a linguagem do consumidor e criar uma ponte direta com quem produz. Isso significa abandonar o “green talk” genérico e adotar informações que conectem o público ao território de origem, apresentem propriedades, cooperativas, comunidades e terras indígenas, e expliquem de maneira simples como cada escolha contribui para manter a floresta em pé ou fortalecer um pequeno produtor. Também significa incorporar indicadores claros de justiça na cadeia, mostrando de forma objetiva qual parcela
do valor pago chega ao campo e substituindo selos abstratos por transparência concreta e compreensível.
A embalagem pode se tornar, mais do que um recurso de marketing, uma ferramenta de política pública. Ela pode aproximar produção e consumo quando fizer sentido, especialmente em alimentos frescos, onde transporte e cadeia fria têm grande peso nas emissões, ajudar a reduzir desperdício ao oferecer informações claras sobre porções, conservação e uso integral, e mostrar, com números simples e histórias reais, como aquela compra financia territórios e modos de produção específicos, e não apenas uma marca
distante da realidade do campo.
Depois da COP30, a disputa não se limita ao texto de documentos internacionais, mas se estende à confiança na ponta da cadeia. As marcas que conseguirem demonstrar, com dados acessíveis e linguagem clara, que transformam a vontade do consumidor em renda e proteção para pequenos produtores e povos indígenas vão sair na frente.
Algumas já dão os primeiros passos: utilizam QR codes que mostram a fazenda, a cooperativa ou o território de origem; simplificam embalagens para contar histórias concretas em vez de slogans genéricos; e testam modelos nos quais uma parcela do preço é vinculada diretamente a projetos em comunidades rurais. A maioria, porém, ainda permanece no slide da COP, distante da gôndola.
No fim, a pergunta central não é se o Pacote de Belém foi ambicioso o suficiente. A verdadeira questão, para o Brasil e para o mundo, é outra: o pacote que o consumidor leva para casa continuará mudo sobre quem produz, quanto recebe e que impacto gera, ou finalmente passará a contar a verdade que uma transição justa exige?
*Valmir Rodrigues – Fundador da My Trusted Source (MyTS) .
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Imersão além do jargão: o que as marcas precisam entender agora

*Alexis Anastasiou
Nos últimos anos, palavras como “imersivo”, “360°” e “cenografia imersiva” se tornaram quase um clichê no mercado de brand experience. Conceitos originalmente associados a projetos de alta complexidade criativa passaram a ser usados para qualquer evento com LED ou projeção. O resultado é previsível: quando tudo é imersivo, nada realmente é.
Mas existe uma confusão central nesse debate. Imersão não é estética, é propósito.
É a capacidade de tirar o público do óbvio, deslocando percepção, criando significado e permitindo que ele experimente uma realidade que só existe naquele encontro. Sem narrativa consistente, sem transformação sensorial e sem um território simbólico claro, o que resta não passa de decoração tecnológica.
A boa notícia é que o próprio público já percebeu isso. Ele não se deixa impressionar apenas por estímulos visuais. Ele busca vivência, não vitrines. E o mercado começa a reconhecer que o rótulo “imersivo” só faz sentido quando a ideia encontra um suporte capaz de levar a história adiante.
Por isso, a discussão agora vai além do “como deixar bonito” e entra no “como criar presença”. É nesse ponto que iniciativas permanentes de produção tecnológica, como laboratórios de artes imersivas e espaços dedicados à pesquisa de formatos, vêm provocando uma mudança real no setor. Ao permitir testar, iterar e produzir storytelling com menos desperdício e mais profundidade, esses modelos deslocam o foco de um espetáculo de superfície para uma mídia que dialoga com tempo, memória e subjetividade.
Algumas experiências recentes em projetos culturais e lançamentos de marca já mostram os efeitos dessa virada: o público deixa de ser plateia para se tornar protagonista; a revelação de um produto deixa de ser um truque para virar jornada; a cenografia deixa de ser cenário e passa a ser narrativa.
Imersão, portanto, não é um efeito especial: é uma gramática.
Se o mercado estiver realmente disposto a estudá-la, deixaremos de confundir novidade com inovação e começaremos a entregar experiências que têm algo a dizer. As marcas que se anteciparem a essa maturidade terão, inevitavelmente, vantagem competitiva, porque a memória não se forma apenas pela imagem, mas pelo sentido que ela carrega.
E, no fim das contas, é isso que fica: a história. A tecnologia só importa quando ajuda a contá-la.
Alexis Anastasiou – Diretor e fundador do Visualfarm Gymnasium








