Alexis Pagliarini
7 pontos para tornar seu evento mais criativo e sustentável

Por Alexis Pagliarini
Imagino que você já esteja planejando seus eventos sob os critérios ESG, não? Se você ainda não incluiu o respeito socioambiental e ético no check-list do seu evento, cuidado! Isso pode ser alvo de críticas ou de coisa pior. Eventos são vitrines. Devemos demonstrar claramente nossa preocupação com as melhores práticas, de forma a encantar e engajar nossos convidados. Recomendo sempre que os princípios ESG sejam considerados, desde a escolha do espaço. Pra facilitar, divido neste texto 7 dicas para você usar a criatividade com consciência e tornar seu evento mais sustentável. Vamos lá!
Os eventos presenciais voltaram com tudo. Isso é muito bom, mas tem o efeito colateral de provocar mais deslocamentos de participantes e, consequentemente, mais emissão de CO2. Veja o que você pode colocar em prática para mitigar essa pegada de carbono: 1- oriente seus convidados a usar transporte público. 2- se o transporte público não for boa opção para o local do seu evento, procure as plataformas de transporte por App e tente motivar o uso de carros compartilhados. Com um pouco de tecnologia, dá até para identificar o trajeto dos convidados e criar um sistema de carona com os próprios veículos dos participantes. Já é um início de networking, não? 3- para eventos de maior público, procure viabilizar traslados gratuitos, via ônibus patrocinados, por exemplo. 4- faça a compensação de CO2 do seu evento e dê ao seu convidado a possibilidade de ele também compensar sua pegada de carbono – existem ferramentas amigáveis para isso.
Existem diversas ONGs que oferecem brindes com uma pegada sustentável e social. Prefira esse tipo de brinde.
Elimine a famigerada garrafa plástica descartável para servir água a seus convidados. Prefira copos de papel e água de galão. Ou presenteie os convidados com squeezes, que poderão ser abastecidos nos galões. Embalagens plásticas descartáveis são grandes vilãs do meio ambiente. Para palestrantes, pense em garrafas e copos de vidro. Em evento recente, vi o uso de lindas garrafas, de formato criativo, para servir água a palestrantes – um efeito cenográfico interessante. Faça o mesmo com os copinhos de café. Dê preferência ao papel, que se degrada facilmente no meio ambiente.
Repense a cenografia do seu evento. Substitua por imagens projetadas. Há também soluções de uso de materiais cujo resíduo é aproveitado para confecção de bonecas, por exemplo. Há ainda projetos que se utilizam de materiais reciclados e reaproveitáveis. Quanto menos resíduo, melhor.
Se o seu evento prevê palestras ou workshops, pense numa temática que envolva os princípios ESG. Lembre-se: os eventos podem ser propagadores de ideias e tendências.
Adote a diversidade entre todos os públicos envolvidos no evento. Desde seu staff até palestrantes. Pense em usar PcDs para recepção e mesmo para outras funções. Existe a Galera do Click, por exemplo, que oferece serviço fotográfico por profissionais com síndrome de Down. Procure a equidade entre homens e mulheres, inclusive no casting de palestrantes. Busque também a participação de pessoas pretas, que representam mais de 10% da população brasileira. Prepare-se para receber bem a todos, independentemente da sua idade, aparência física, identidade sexual, etc…
Alimentos e bebidas devem ser objeto de um bom planejamento. É comum presenciarmos grande desperdício em coffee breaks, almoços, jantares e coquetéis de eventos. Procure dimensionar com precisão. Alimentos não tocados podem ser doados para instituição (alimentos secos e consumidos rapidamente). Privilegie alimentos da estação e que sejam adquiridos na região, evitando transportes de longas distâncias.
Bem, estas foram apenas 7 dicas para alinhar seu evento às melhores práticas socioambientais. É claro que há muito mais pontos a serem observados. O importante é ter a consciência da importância da adoção de princípios ESG no seu evento.
Alexis Pagliarini
Eventos corporativos em tempos de polarização: neutralidade ou posicionamento?

Por Alexis Pagliarini
Vivemos uma era de polarização crescente. O debate público, no Brasil e em muitos outros países, tem se dividido em campos opostos, quase irreconciliáveis. E essa dinâmica não fica restrita à política. Ela invade o consumo, a cultura, a comunicação e, inevitavelmente, o universo dos eventos corporativos.
Quem organiza ou patrocina um evento sabe: não se trata apenas de logística, conteúdo ou experiência. Um evento é, acima de tudo, um espaço de representação de valores. Ele comunica — mesmo quando não pretende.
De acordo com o estudo anual Edelman Trust Barometer, as empresas seguem sendo as únicas instituições que ultrapassam o patamar de confiança de 60%. Confiamos mais nelas do que em governos, ONGs ou mídia. Mas essa confiança vem acompanhada de uma expectativa clara: não basta oferecer bons produtos ou serviços, espera-se das empresas (e, portanto, também dos seus eventos) uma postura propositiva, ética e responsável diante do mundo.
E aqui surge a encruzilhada: deve um evento corporativo manter neutralidade em temas sensíveis ou assumir posições claras?
A neutralidade pode parecer uma escolha segura. Em um ambiente polarizado, evitar discussões delicadas pode parecer a melhor forma de não gerar desconforto. No entanto, em muitos casos, a neutralidade é percebida como omissão. Participantes, principalmente os mais jovens, buscam coerência e coragem. Um evento que ignora temas urgentes — como diversidade, inclusão, sustentabilidade ou inovação social — corre o risco de parecer irrelevante.
Por outro lado, assumir posições implica riscos. Eventos que trazem para a pauta discussões sobre equidade de gênero, direitos humanos ou mudanças climáticas podem atrair críticas, boicotes ou acusações de “politização”. O movimento “anti-woke”, que cresce em diversos países, é um reflexo dessa resistência.
O caminho possível não está em escolher entre o silêncio e o ativismo desmedido, mas em construir autenticidade. Um evento precisa refletir a identidade, o propósito e a cultura da organização que o realiza. Se esses valores forem claros e consistentes, o posicionamento deixa de ser apenas um risco e passa a ser uma oportunidade de conexão genuína com o público.
Eventos coerentes com a prática das empresas que os promovem resistem melhor às críticas. Podem até perder a adesão de alguns, mas ganham legitimidade junto a quem valoriza atitudes alinhadas a princípios sólidos. E legitimidade é um ativo cada vez mais valioso em tempos de desconfiança.
No fim, a questão não é se um evento corporativo deve ou não se posicionar, mas como deve fazê-lo. A resposta está na capacidade de navegar a polarização sem abrir mão da sua bússola ética.
Alexis Pagliarini
COP30: Momentos de tensão

Por Alexis Pagliarini
Este é o terceiro artigo sobre a COP30 que escrevo por aqui. Desde o primeiro, já alertava sobre o risco iminente de colapso estrutural da cidade de Belém para receber um evento dessa magnitude. O que vemos agora é que a realização da COP30 em Belém, marcada para novembro de 2025, enfrenta um risco real — não pelas pautas climáticas, mas por uma crise humanamente previsível: a falta de hospedagem acessível e estruturada na cidade-sede. O que deveria ser uma oportunidade histórica para o Brasil se transformar em cenário de controvérsia por números: enquanto a expectativa é reunir cerca de 50 a 45 mil participantes, Belém dispõe de apenas cerca de 18 000 leitos formais.
O que já é um gargalo logístico transforma-se em crise quando se observa os valores praticados: hospedagens sendo oferecidas a até US$ 700 por diária — 10 a 15 vezes acima do preço normal — ou chegando a cifras surreais como R$ 100 000 por noite ou imóveis por R$ 2 milhões no período. Em uma comparação que beira o absurdo, uma acomodação passou de cerca de US$ 11 para US$ 9 320 por dia.
Diante desse colapso, o alarmante veio à tona com uma reunião de emergência realizada pela ONU em julho de 2025, quando delegações — sobretudo dos países em desenvolvimento — expressaram indignação e alertaram para possíveis cortes ou boicotes à conferência, se não houvesse resposta rápida. Alguns chegaram a pedir formalmente a transferência da COP30 para outra sede.
O governo brasileiro, confrontado com essa situação, se mobilizou. Firmou acordos com hotéis, articulou o uso de navios de cruzeiro com cerca de 6 mil leitos, ampliou alternativas como escolas, motéis, igrejas e a temida “Vila COP”, e manifestou o compromisso de apresentar um plano de mitigação até 11 de agosto.
Apesar disso, os efeitos permanecem preocupantes: consultas à nova plataforma de reservas mostram valores entre US$ 360 e US$ 4 400 por noite, além de quase 2 000 pessoas em lista de espera. O temor de exclusão de países e da sociedade civil cresce: se apenas os setores mais ricos conseguirem garantir hospedagem, a COP30 corre o risco de se tornar um evento elitizado, prejudicando sua legitimidade e o protagonismo brasileiro na agenda ambiental global.
Esse contexto é ainda mais delicado dado o cenário político internacional — com os Estados Unidos retirando-se do Acordo de Paris —, o que torna essencial que o Brasil conduza a COP30 de maneira simbólica e eficaz. Se falhar em garantir acesso equitativo, pode implicar em retrocessos diplomáticos e ambientais, perdendo uma oportunidade decisiva de reafirmar sua liderança e compromisso climático.
Em síntese, a COP30 já enfrenta um adversário real antes mesmo de começar: a incapacidade logística de oferecer hospedagem digna e acessível. Se os riscos — desde desertores até críticas globais — não forem contidos, o evento pode falhar em sua intenção mais básica: ser uma plataforma inclusiva para o futuro climático.