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Seis ações de marketing de recompensa que podem alavancar o engajamento dos colaboradores

*Eduardo Jacob
Um sinal de perigo para qualquer empresa é uma equipe desmotivada. Não há como esperar que pessoas insatisfeitas entreguem bons resultados, o que torna uma obrigação dos líderes da companhia pensar em soluções que criem uma ambiente corporativo prazeroso e ao mesmo tempo produtivo. Uma delas tem se mostrado extremamente eficiente para diversos segmentos: o marketing de recompensas. Geralmente, programas com esse viés são pensados para atrair consumidores, mas também podem se aplicar muito bem aos funcionários de uma organização.
A solução envolve o ato de reconhecer o trabalhador de alguma forma que vai além do seu pagamento mensal. Existem várias maneiras de recompensar o colaborador; prêmios e brindes são as mais conhecidas e queridas; experiências também são cada vez mais utilizadas, como viagens, festas e eventos de integração; e até mesmo o desenvolvimento na carreira é oferecido aos membros da equipe, a exemplo de workshops especiais, treinamentos específicos ou bolsas de estudo.
Portanto, estamos falando de ações de valorização legítima do time. A consequência disso não tem como ser outra a não ser um maior engajamento. Para esclarecer esse processo na prática, destaco alguns exemplos de como o marketing de recompensas aplicado ao ambiente interno das companhias se reflete no dia a dia da corporação:
Produtividade
De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Oxford em parceria com a multinacional de telecomunicações BT, os trabalhadores são 13% mais produtivos quando estão felizes. A felicidade é realmente um fator que influencia na produtividade, porém não acredito que incentivar um ambiente competitivo de reconhecimentos individuais financeiros seja um estímulo. Acredito que um canal de reconhecimento público declarado por um colega de trabalho, acompanhado de uma recompensa em forma de mimo, ao mesmo tempo que reforça a cultura da colaboração, também gera felicidade. Trata-se de um reconhecimento legítimo entre pessoas que estão compartilhando a mesma missão.
Cumprimento de metas
Com um escritório mais produtivo, os resultados automaticamente se tornam mais positivos. O esforço e o comportamento de superação diária passam a ser parte da rotina do colaborador e dos times autônomos, sem a necessidade de um comando imperativo. Dessa maneira, as metas, que inicialmente seriam empresariais, transformam-se em objetivos pessoais e dos times.
Bem-estar no ambiente de trabalho
Funcionários felizes indicam um ambiente de trabalho mais harmonioso, que funciona tanto em termos corporativos como para a realização pessoal de cada colaborador. Obviamente, quem é reconhecido não guarda o sentimento de felicidade para si, dividindo essa sensação com o resto do time e com a família. Esse processo não só contagia o coletivo da empresa com um bem-estar, onde os integrantes da equipe torcem uns pelos outros e vêem o sucesso da organização como fruto de um movimento feito em grupo.
Incentivo à qualificação
Segundo um relatório do O.C. Tunner Institute, 79% das pessoas que se demitem do emprego citam a falta de valorização como um dos principais motivos de sua decisão. Com isso, é possível concluir que o reconhecimento garante a retenção de talentos, além do desenvolvimento constante deles. O marketing de recompensas faz justamente com que o colaborador entenda que ele está impactando positivamente a vida daquele negócio.
Quando um funcionário percebe a sua relevância para que a empresa cumpra com sua missão, ele passa a buscar um patamar de qualificação mais elevado. Nesse sentido, as recompensas de aprimoramento na carreira, seja um curso livre ou uma bolsa de mestrado, ganham ainda mais significado.
Imagem positiva da empresa no mercado
Quanto mais uma equipe é qualificada, mais os líderes ficam satisfeitos. A sinergia hierárquica dentro de uma empresa e a constância de resultados positivos são rapidamente captadas pelo mercado, atraindo novos talentos que buscam descobrir qual é a “fórmula mágica” de uma organização que possui um time feliz, produtivo e talentoso. De fato, essa fórmula não existe, porém não há como negar que o reconhecimento agregado a uma recompensa com significado funciona como um estímulo básico para os colaboradores, que culmina em movimentos relevantes de alinhamento empresarial e fortalecimento da cultura organizacional.
Foco organizacional
Apesar da possibilidade dos gestores trazerem simplicidade aos programas de recompensas, isso não significa que essa ação requisitou uma estratégia rasa. Mesmo uma pequena solução, que permite o reconhecimento de um colaborador, por outro colaborador invertendo a lógica de reconhecimento de cima para baixo (Empresa – Colaborador), requer um planejamento estruturado dos aspectos da cultura que a companhia quer fortalecer.
Se uma companhia possui uma cultura forte, todo o seu modus operandi se torna mais organizado, desde o fluxo interno até o relacionamento com clientes. Portanto, melhorar a rotina dos colaboradores é muito mais do que promover um dia a dia de trabalho menos estressante e feliz. O engajamento dos trabalhadores move tudo o que cerca uma corporação.
*Eduardo Jacob – Fundador e CEO da Minu, martech que atua no marketing de incentivo.
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Autenticidade vs. Artificialidade no branding: o desafio das marcas na era da IA

*Amanda Paribello Mantovani
Você sente que está falando com marcas ou com máquinas? Em 2025, essa dúvida tornou-se rotina para consumidores cada vez mais atentos — e impacientes. No universo saturado por mensagens automatizadas, a autenticidade deixou de ser um diferencial e passou a ser uma questão de sobrevivência para as marcas.
A popularização da inteligência artificial no marketing trouxe ganhos evidentes: eficiência operacional, personalização em escala e agilidade na produção de conteúdo. Segundo dados da Salesforce, 68% dos líderes de marketing globais já utilizam IA generativa em suas campanhas. No entanto, apenas pouco mais da metade acredita que está usando essa tecnologia de forma realmente criativa e autêntica. O resultado disso é um aumento de campanhas genéricas, diálogos frios e experiências impessoais, que acabam distanciando as marcas de seus públicos.
O público, cada vez mais consciente e crítico, reconhece rapidamente discursos vazios ou desalinhados com a prática. De acordo com o Edelman Trust Barometer 2024, 71% dos consumidores abandonam marcas que soam artificiais ou descoladas da realidade. A confiança, hoje, não nasce de promessas, mas da coerência entre o que a marca diz e o que ela realmente entrega. E não há algoritmo capaz de sustentar essa consistência sem propósito.
É nesse cenário que ganha força o conceito de branding híbrido, no qual a tecnologia é usada como aliada — e não como substituta — do toque humano. A IA pode ser poderosa para gerar insights, antecipar comportamentos e personalizar jornadas, mas o conteúdo precisa continuar sendo construído com emoção, empatia e senso de comunidade. A tecnologia deve liberar tempo das equipes para que elas pensem estrategicamente e criem com mais profundidade, e não apenas acelerar a produção de mensagens automáticas.
Para manter a autenticidade em tempos digitais, algumas práticas têm se mostrado eficazes. A primeira delas é a transparência: consumidores querem saber quando estão interagindo com uma máquina e quando existe envolvimento humano real. A clareza nesse processo aumenta a confiança e fortalece o vínculo com a marca. Outra prática essencial é manter consistência no tom de voz. A identidade precisa ser preservada em todos os pontos de contato, mesmo com o uso de ferramentas automatizadas. Além disso, é cada vez mais relevante incluir o consumidor como parte ativa da narrativa, escutando suas opiniões e cocriando experiências em tempo real.
O mercado também começa a priorizar parcerias com influenciadores autênticos e comunidades reais. Em vez de apostar apenas em grandes celebridades, marcas têm investido em microinfluenciadores que possuem forte identificação com nichos específicos. A lógica é simples: confiança e relevância pesam mais do que alcance bruto. A personalização, nesse novo cenário, só faz sentido quando está a serviço de experiências que gerem pertencimento e conexão genuína.
A era da inteligência artificial não representa o fim da autenticidade — ao contrário, ela a coloca à prova. Marcas que conseguirem equilibrar eficiência tecnológica com humanidade verdadeira vão liderar o movimento de reconexão com as pessoas. Porque, no fim das contas, o público não quer perfeição. Quer verdade.
*Amanda Paribello Mantovani – Especialista em marketing e eventos, atua no desenvolvimento de estratégias criativas para fortalecer marcas, engajar públicos e potencializar resultados.
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Retail media network: o varejo como protagonista da publicidade digital no Brasil

*Paulo Moratore
O mercado brasileiro de Retail Media – redes de publicidade apoiadas em ativos de varejistas – vive um boom de crescimento. O mercado alcançou o número de R$ 3,8 bilhões o ano passado, um salto de 42,3% sobre 2023 – avançando em um ritmo que é o dobro da média global, de 20,3%. Ainda que represente cerca de 0,6% do mercado mundial, hoje o Brasil tem a maior taxa de expansão do mundo na categoria.
E esse movimento tem acontecido justamente porque varejistas e a indústria estão abraçando essa tendência com velocidade – tanto é que a expectativa é que esse canal de mídia encerre 2025 com um crescimento significativo em relação a 2024. Isso demonstra que o varejo nacional está decidido a se tornar protagonista na publicidade digital, surfando na “terceira onda” da mídia online – como as redes retail media têm sido chamadas. Em outras palavras, há um consenso crescente de que varejistas se tornarão potências publicitárias, com papel central na conexão entre marcas e consumidores.
Ao menos 64% das grandes marcas brasileiras já trabalham com retail media, de acordo com a pesquisa Retail Media Insights, de 2024. Do lado dos varejistas, 55% afirmam já operar sua própria rede de mídia – de supermercados a farmácias e marketplaces, diversos segmentos estão criando estruturas para monetizar suas audiências.
O poder de segmentação do Varejo
Por trás da ascensão das redes retail media está um ativo valioso do varejista: os dados primários (first-party data) de seus consumidores. Diferentemente de outros veículos, o varejo detém informações ricas sobre o comportamento de compra – histórico de transações, itens visualizados, frequência de visitas, preferências e até dados de programas de fidelidade. Essas informações permitem uma segmentação extremamente precisa do público. Varejistas podem alavancar os insights de compra de seus clientes para oferecer soluções de publicidade hiper segmentadas, atingindo o consumidor certo com a mensagem certa e no momento mais oportuno.
Essa capacidade de segmentação baseada em dados próprios ganha importância estratégica num contexto de maior restrição ao uso de cookies de terceiros e demanda por privacidade. Os varejistas, atuando como “donos da audiência”, conseguem entregar para as marcas audiências qualificadas e intencionadas, algo difícil de encontrar em outras mídias na mesma escala.
Por exemplo, uma rede de farmácias pode segmentar anúncios de vitaminas apenas para clientes que compraram produtos de saúde recentemente, ou um supermercado online pode promover alimentos orgânicos para consumidores que buscam por itens fitness. O uso inteligente do histórico de compras, buscas e perfil demográfico torna os anúncios muito mais relevantes para o consumidor, elevando as vendas e a fidelização à marca. Estudos destacam que o retail media oferece justamente essa possibilidade de personalização em massa, combinando alcance com conteúdo sob medida para cada cliente.
Além disso, a qualidade dos dados do varejo permite métricas de desempenho mais robustas. Como as redes retail media operam dentro dos sistemas do próprio varejista, é possível atribuir diretamente o resultado de uma campanha às vendas realizadas, fechando o ciclo completo da mensuração. Essa atribuição “closed loop” – em que se consegue conectar a impressão do anúncio à transação no caixa – é um grande diferencial. A riqueza dos dados de compra e a capacidade de atribuir o retorno sobre o investimento diretamente tornam o retail media uma estratégia muito valorizada pelas marcas.
Para os anunciantes, isso significa que investir no canal do varejo não é um salto no escuro: ao contrário, os resultados em vendas podem ser comprovados com rapidez e precisão, facilitando a justificativa do investimento e o otimização de campanhas em tempo quase real.
Integração entre digital e offline: impacto direto no PDV
Um aspecto importante das redes retail media é a integração entre os mundos online e offline. Alguns dos maiores varejistas operando no Brasil contam com uma base enorme de clientes tanto no online, quanto no offline. Isso permite que essas empresas façam uma combinação única de canais para engajar o consumidor em múltiplos pontos de contato durante sua jornada de compra.
Outro exemplo: um cliente pode ser impactado por um banner de produto no aplicativo móvel do supermercado e, ao visitar a loja física, se deparar com uma oferta personalizada em uma tela digital na gôndola ou perto do caixa. Essa sinergia on–offline leva a mensagem publicitária até a “última milha” do processo de decisão, literalmente quando o consumidor está com o produto em mãos. Não à toa, especialistas veem a retail media como uma maneira de influenciar a escolha do consumidor no instante crítico da compra – um potencial antes restrito a materiais de PDV tradicionais.
Dentro das lojas, a mídia digital in-store vem ganhando espaço como extensão das redes de varejo. Telas inteligentes, totens interativos, painéis eletrônicos de prateleira (ESLs) e até monitores no carrinho de compras se tornam inventário publicitário. Varejistas podem posicionar estrategicamente essas telas próximas aos checkouts ou corredores de alta circulação para estimular compras de última hora.
É lógico que, do ponto de vista operacional, a integração entre o online e offline exige um esforço tecnológico de mensuração: unificando os dois meios. Isso ainda tem sido um desafio para os varejistas, cuja solução tem sido a personalização por meio de campanhas de fidelidade cada vez mais aprimoradas. Mesmo que ainda haja questões tecnológicas, a direção é clara: o futuro da mídia de varejo está em oferecer uma experiência omnichannel coesa, onde pouco importa se a interação aconteceu no mundo virtual ou no mundo físico – ambos os ambientes se complementam para engajar o consumidor e gerar resultado para as marcas.
Mudança de paradigma: de canal de vendas a canal de mídia
O surgimento das Retail Media Networks representa uma mudança de paradigma na forma como se enxerga o papel do varejo no mix de marketing. Historicamente, varejistas eram vistos apenas como canais de distribuição e pontos de venda, enquanto a construção de marca e a publicidade ficavam a cargo de veículos de mídia tradicionais, ou mais recentemente das plataformas digitais. Com a virada para retail media, essa separação se desfaz: o varejo agora é também um veículo de comunicação de massa, passando a concorrer por budgets publicitários que antes iriam para outros meios.
Na prática, grandes redes de varejo tornaram-se verdadeiros publishers, monetizando seus websites, aplicativos e lojas assim como um portal de notícias vive de anúncios ou uma emissora de TV vende espaço comercial.
Para as marcas anunciantes, isso representa uma reconfiguração das estratégias. Uma parte do investimento que antes era destinada a ações de trade marketing no ponto de venda físico migra para ações de mídia nas propriedades digitais do varejista. Outra parcela, que iria para mídia de massa genérica, pode agora ser alocada de forma mais focalizada via retail media, atingindo exatamente o shopper no “momento da verdade” da compra.
Essa convergência faz com que marketing e trade se unam, exigindo que gestores pensem de forma integrada: vender e comunicar viraram facetas de uma mesma jornada do consumidor. Como resultado, grandes anunciantes globais já estão reorganizando times e orçamento para contemplar esse novo pilar. Há quem chame esse movimento de “mediafication” do varejo – ou seja, o varejo deixando de ser apenas distribuição e se tornando também mídia.
Se antes os supermercados, farmácias e lojas de departamento eram apenas palco para as estratégias de outras mídias, agora eles têm holofotes próprios. Esse modelo redefine não só fluxos de investimento, mas também exige novas abordagens de todos os players do mercado. Marcas precisam ser mais data-driven e orientadas a performance, agências precisam incorporar novos conhecimentos e habilidades, e os varejistas assumem responsabilidades de media companies, zelando pela experiência do consumidor também em termos de conteúdo e relevância de anúncios.
O ecossistema de publicidade se expande e se complexifica – porém, no centro dessa transformação, há uma lógica clara: quem estiver mais próximo do consumidor na jornada de compra ganha voz e valor no jogo da mídia. O varejo, com suas plataformas próprias, provou estar no lugar certo e na hora certa para capitalizar essa dinâmica. Resta às demais peças do mercado se adaptarem a esse novo paradigma, integrando o retail media em suas estratégias para não ficarem para trás nessa evolução que, ao que tudo indica, veio para ficar.
*Paulo Moratore – Head da unidade de negócios Retail Experience da Selbetti Tecnologia