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Débora Tenca

Quantos anos tem sua ideia?

Publicado

em

Por Debora Tenca

Estamos em março, mês da Mulher. E eu optei por não escrever sobre as dores e agruras das profissionais em nosso mercado – principalmente na área de criação publicitária. Por que? Não precisamos mais levantar esta bandeira? Muito pelo contrário, ainda vivemos tempos difíceis e o “glass ceiling” é uma verdade triste e presente.

Tomei esta decisão ao ver que, nos últimos dias, muitas profissionais competentes e aguerridas já dividiram suas histórias inspiradoras incentivando a quebra deste teto de vidro. Então decidi abordar um preconceito que se cruza e exacerba outras formas de discriminação relacionadas a sexo, raça e deficiência: o etarismo. Também conhecido como ageísmo, este padrão é definido pela OMS* como um comportamento ligado aos estereótipos (o que pensamos), preconceito (quando sentimos) e discriminação (como agimos) com base na idade, tanto em relação aos outros como a nós mesmos.

Depois dos 4 anos, crianças tornam-se conscientes dos estereótipos de idade em suas culturas. A partir daí, internalizam e usam esses padrões para orientar seus sentimentos e comportamentos em relação aos outros e, também, no entendimento de si mesmas, o que pode resultar em preconceito de idade autodirigido.

Cuidado! Etarismo não se limita ao preconceito contra pessoas mais velhas.

Em um primeiro momento, praticamente todos que já ouviram falar sobre ageísmo ligam esta discriminação a pessoas com mais idade. Mas ele vai além. Para entendermos a extensão deste comportamento, elenco abaixo alguns exemplos práticos: – quantas vezes vimos a boa ideia de um estagiário ser massacrada simplesmente porque ele é novo na profissão? – comportamento paternalista em relação a pessoas mais jovens também pode ser considerado etarismo e isso acontece muito durante a formação acadêmica. – quando você ou alguém que você conhece não se manifesta em uma reunião, não expõe seus pensamentos em uma conversa ou não tem coragem de colaborar com um insight ousado em um brainstorm, isso pode ser ageísmo autodirigido.

Analise bem. O que aconteceu para calar uma boa ideia? Será que não foi aquela voz interna dizendo: “uma pessoa da minha idade não pode ser assim, pensar aquilo ou fazer isso”? Com comportamentos tão enraizados, a pergunta que fica é: por quanto tempo em nossas carreiras temos a liberdade de expressão ungida por uma suposta adequação etária que é subjacente ao nosso setor? Esta é uma forma triste de reduzir nosso potencial produtivo, bloqueando a imaginação e engessando o que deve ser livre, sempre.

Boas ideias devem ser analisadas por seu impacto, inovação e adequação ao público e não pelo volume de cabelos brancos da criativa ou pelos poucos fios de barba de um criativo. Desafiar pressupostos e atitudes é o primeiro passo para prosperar em todas as idades e é fundamental também para as comunidades explorarem o potencial de todos os seus membros.

Além de políticas e leis de proteção dos direitos humanos, é importante manter sempre atividades educativas que podem aumentar a empatia, dissipando equívocos sobre diferentes faixas etárias e reduzindo o preconceito. Mas olhando especificamente para o nosso mercado, mais uma vez se prova que grupos diversificados, inclusivos e intergeracionais são uma excelente aposta das lideranças. Invista nisso.

Uma boa ideia não tem idade. Ela emociona, comunica, vende e encanta. Ideias inovadoras e surpreendentes que falam ao coração do público e respondem aos objetivos de comunicação são priceless porque são ageless. *quer saber mais sobre o tema?

Visite a página da OMS https://www.who.int/healthtopics/ageism#tab=tab_1

 

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Débora Tenca

Revenge, uma força propulsora de experiências

Publicado

em

Por Debora Tenca

Depois de um isolamento longo e forçado com a pandemia, a proximidade da morte e a vivência da perda de muitas pessoas queridas, cresce a busca por revenge experiences. Afinal, após este período convivendo com uma realidade brutal, uma onda de comportamento indulgente eleva a muitas potências a conhecida máxima do “eu mereço”. Isso resulta em experiências extravagantes e intensas em busca de algo mágico, surreal, bizarro ou de outro mundo, algo que possa despertar admiração ou até mesmo um pouco de medo.

Em tempos difíceis, as pessoas anseiam por uma sensação de encantamento, isso se comprova em um relatório de tendências da Wunderman Thompson Intelligence, onde dados mostram que: 61% das pessoas nos EUA e no Reino Unido concordam que “a vida parece menos emocionante do que costumava ser” e 73% dizem que “só querem sentir alguma coisa, se sentir vivos”.

Viagens, jantares, academias, ativações de marca e muitas outras experiências que estão em alta podem ser compreendidas como revenge experiences, veja o que acha dos exemplos abaixo:

– na academia de luxo, Les Cinq Gym, você se aproximar de cada aparelho para malhar e a pulseira eletrônica revela sua face, sua sequência personalizada de exercícios, seus avanços nas últimas semanas e os desafios a vencer. Quem trabalha na academia recebe você falando seu primeiro nome e sabendo previamente suas preferências, das frutas aos temas favoritos para conversar. Ao entrar no banheiro e olhar para cima, você vê pastilhas nas paredes que são de ouro 24 quilate e toma banho em duchas posicionadas e ambientadas para lhe oferecer “a sensação de se estar numa cachoeira”.

– por outro lado, o desejo de redescobrir o encantamento também pode levar as pessoas a explorar emoções mais sombrias. Isso se reflete, por exemplo, em uma onda de suspense distópico que está encantando os espectadores de The Last of Us da HBO e da co-produção alemã The Swarm. No extremo dessa tendência de experiências intensas, em suas férias você pode visitar a Ucrânia, tanto para conhecer Chernobyl como para visitar cidades atacadas pelos russos.

Bacchanalia, um restaurante inaugurado em Londres em dezembro de 2022, foi descrito como “uma terra de fantasia de escapismo operístico”, com mármore do chão ao teto, mesas espelhadas e taças de vinho de Murano, lá os garçons vestidos com togas servem aos clientes sob estátuas gigantescas de leões alados, unicórnios e deuses gregos.

– atrás deste mesmo restaurante, um novo clube privado somente para sócios foi inaugurado em abril deste ano. No Apollo’s Muse, a estética luxuosa do espaço é o que se pode chamar de uma aula magistral em design “mais é mais”. O clube também abriga uma coleção de valor inestimável de antiguidades greco-romanas dos séculos I e II d.C. rivalizando com alguns dos melhores museus e galerias de arte do mundo.

– a Visit Sweden está aproveitando o crescente interesse pelo sobrenatural em sua campanha Spellbound by Sweden apresentando Kiln – uma arrepiante áudio-história criada pelo renomado escritor de terror John Ajvide Lindqvist. A aterrorizante áudio-aventura foi projetada para ser ouvida e vivida durante os passeios dos turistas pela natureza sueca, dando vida às criaturas mitológicas tradicionais da floresta.

– assim como no multiverso, uma nova estética onírica canaliza o escapismo e o absurdo para transportar os clientes a reinos imaginários também no varejo. Nessa linha, uma espetacular colaboração entre a Louis Vuitton e a genial Yayoi Kusama inundou as lojas da marca em todo o mundo com réplicas físicas, virtuais e até robóticas da própria artista e suas famosas obras com bolinhas, tudo em dimensões exageradamente maiores do que o tamanho real.

O que une todas essas tendências é a ânsia de fascínio, encantamento e experiências intensas que, talvez, nos ajudem a transcender a nós mesmos. Claro que aqui existem oportunidades para as marcas reencantarem o mundo com produtos, ambientes, espaços e campanhas que tiram as pessoas de um mal-estar antigo e elevam o seu sentido de ser, desenvolvendo espaços que nos transportam para longe e nos levam a uma aventura.

Estamos vendo um aumento nas revenge experiences impulsionadas por uma sede pelo incomum, por autenticidade e, enquanto escrevo isso, penso o quanto o comportamento humano nos faz retornar a antigos padrões e repetir a história. Veja as semelhanças entre este cenário de busca estridente de liberdade e novas vivências com os loucos anos 20, pós-primeira guerra e pós-pandemia de gripe espanhola. Talvez este seja um paralelo que ilumine o caminho que está sendo trilhado para se vingar da tristeza dos últimos anos enquanto se dança, ri e experimenta tudo o que é inusitado, tanto o possível como também o que parece impossível.

Links para conhecer um pouco mais

Les Cinq Gym – https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2023/05/malhacao-em-clima-de-clube-mimos-e-ouro-no-banheiro-conheca-a-academia-de-luxo-que-custa-r-3-mil-por-mes.ghtml

Viagens para a Ucrânia

https://www.cvc.com.br/dicas-de-viagem/inspiracoes/historia-e-cultura/chernobyl-como-visitar/

https://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2022/08/10/empresa-de-turismo-da-ucrania-vende-pacotes-para-visitar-locais-destruidos-durante-a-guerra.ghtml

Bacchanalia e Apollo’s Muse

https://bacchanalia.co.uk

https://www.countryandtownhouse.com/culture/apollos-muse-new-members-club/

Visit Sweden

https://visitsweden.com/spellbound-by-sweden/

Louis Vuitton & Yayoi Kusama

https://northsix.com/works/LouisVuittonxKusama

https://www.famouscampaigns.com/2023/01/louis-vuitton-goes-dotty-on-a-global-scale-with-yayoi-kusama/

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Débora Tenca

Influenciar ou não influenciar? Eis a questão

Publicado

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Por Debora Tenca

Desde o final de fevereiro, o termo “desinfluenciadores” entrou na moda e no radar dos estudiosos de comunicação com o início das postagens sob a #deinfluencing no TikTok.

Alguns analistas não apostaram no crescimento da tendência já que, por mais de uma década, a mídia social carregou consigo a promessa implícita de que, com uma combinação de sorte e postagens incessantes, um usuário sem conexões, sem experiência e, às vezes, sem nenhuma habilidade perceptível pode se tornar rico e famoso sendo um influencer.

Mas o fato é que a hashtag que tinha menos de 250 milhões de visualizações apresenta hoje mais de 520 milhões. Uma das melhores explicações para esta tendência é que existe um movimento de busca da autenticidade que, aliás, não é novo e impulsiona o crescimento de redes como o próprio TikTok e o BeReal – por exemplo – ao contrário dos filtros, imagens maravilhosas e discurso perfeito que definem o Instagram. Até por isso, o Instagram é a plataforma em que os produtores de conteúdo mais fazem parcerias comerciais até o momento.

Mas os desinfluenciadores querem mesmo que você consuma menos?

Esta turma busca chamar a atenção nas redes “mandando a real” ou apenas apontando a sua própria visão “do contra” sobre algum ponto. Existem diferentes abordagens entre os desinfluenciadores mas como discurso-base a maior parte do grupo segue o princípio do “não endosso” aplicando-o de diferentes maneiras:

– avaliando produtos e sugerindo alternativas mais baratas ou melhores;

– dando conselhos de como encontrar a felicidade genuína, longe de uma realidade fabricada;

– ou condenando completamente o consumismo.

A questão é: tudo isso é realmente autêntico? Podemos acreditar que quando um desinfluenciador está criticando um novo produto e indicando um concorrente mais barato, ele não está simplesmente buscando uma nova forma de venda? Será que aqueles que falam contra o consumismo exagerado não estão deixando a porta aberta para oferecer a você, amanhã, uma consultoria financeira?

Pode ser que sim, ou não. Afinal, do outro lado pode haver alguém que realmente está sendo genuíno e compartilhando sua opinião de maneira sincera como apontam diversas discussões na internet onde ex-influenciadores lamentam suas vidas como profissionais de marketing de marca e procuram uma ocupação para suas personas I.R.L.

Análises, matérias e também vlog e postagens*, apontam que o sonho de ser influencer vem com muitos custos. A mídia social deixou todo o seu público mais ansioso e também anda levando os criadores de conteúdo ao limite e burnout.

Mas o que isso significa para as marcas?

Os consumidores estão procurando desesperadamente por autenticidade e senso de comunidade. Então, o caminho é entregar isso a eles. Reavaliando os relacionamentos das marcas com seus clientes, esquecendo um pouco a receita atual do influenciador (“eu amo isso e você precisa deste produto!”) e buscando emoção genuína através de criadores e conteúdos mais focados. Esta pode ser a hora certa para retirar essa narrativa de vendas desgastada e impulsionar a paixão e a criação de uma comunidade inspiradora nas redes sociais.

* Você pode saber mais acessando:

hBps://www.nyFmes.com/2021/06/08/style/creator-burnout-social-media.html hBps://www.vox.com/the-goods/23064266/dan-howell-michelle-phan-youtuber-brain

 

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