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Marketing de emboscada: Quais são os limites da propaganda?

*Douglas Miquelof
O Marketing de Emboscada é uma tradução literal para o termo ‘Ambush Marketing’, conceito de marketing defendido pelo americano Jerry C. Welsh, que foi executivo da American Express entre as décadas de 1970 e 1980 e, desde então, é proprietário de uma consultoria, com sede em Nova York. O Marketing de Emboscada é uma estratégia que consiste na associação de uma empresa e sua marca ou produto/serviço, a um determinado evento para se promover sem a devida autorização organizacional.
A consistência principal deste conceito é cunhada para classificar ações de marcas concorrentes que cercam e driblam de forma criativa e inovadora os patrocínios de grandes eventos esportivos, de entretenimento e culturais, sem que as mesmas sejam patrocinadores dos mesmos, muitas vezes desafiando marcas que são do mesmo
segmento e estão presentes com grandes investimentos nestes espetáculos de público e de mídia.
Como sabemos, patrocinadores da Fórmula 1, Nascar, NBA, NFL, Campeonatos de futebol, Rock in Rio, Lollapalooza, entre outros, investem pesado para ter sua marca em exposição e realizar ações de ativação com o uso da chancela ser a marca oficial destes eventos. Às vésperas da Copa do Mundo no Qatar e de outros tantos eventos similares aos citados acima, o termo marketing de emboscada ressurge e apoia várias discussões sobre
diversos aspectos, que muitas vezes exacerbam a criatividade e inovação, sendo bem percebida pelas pessoas e consumidores, mas que também pode passar do ponto, criando verdadeiras rupturas éticas, legais e anticoncorrencial, que em gírias atuais, podem levar ao “cancelamento” da marca.
Neste cenário, ao utilizar estratégias de marketing de emboscada, uma marca deve se atentar para vários pontos. Entre eles, a necessidade de um plano bem estruturado, com uma análise SWOT bem construída, incluindo gestão de branding safety, já que muitas vezes as ações andarão no limiar da esfera jurídica, por exemplo. Além disso, o impacto da comunicação e ações geradas deverão promover uma reação positiva na opinião pública, seja a marca uma pequena loja do varejo de bairro até uma mega indústria fabricante de bens de consumo.
Existem dois tipos de marketing de emboscada: por associação com a principal estratégia das marcas não patrocinadoras de se apropriar de algum elemento que faça referência da sua marca ao evento e o marketing de emboscada por intrusão, onde as marcas concorrentes das patrocinadoras oficiais fazem uma ação promocional/publicitária na porta do evento ou até mesmo dentro dele através de convidados e influenciadores.
São vários os exemplos de marketing de emboscada. Entre um dos mais famosos está o caso das Olimpíadas de 1996 em Atlanta. A Reebok era a patrocinadora do evento. Para ganhar destaque, a concorrente Nike fez uma ação de publicidade OOH por toda a cidade, que acabou aparecendo em várias fotos de jornais, reportagens na TV, etc.
Adicionalmente, confeccionou tênis de ouro para o atleta Michael Johnson, recordista detentor do recorde mundial dos 200 metros rasos entre 1996 e 2008 e ex-detentor dos recordes mundiais dos 400 metros rasos, que ganhou comentários em vários veículos de comunicação e da opinião pública, visto que Johnson levou, também, duas medalhas de ouro no mesmo evento, nas provas de 200 e 400 metros.
Assim, o marketing de emboscada, apesar de estratégico para marcas, deve ser avaliado caso a caso. É comum, e inteligente, que marcas e empresas se utilizem dos temas e eventos mais comentados do momento para “surfar na onda”, mas é preciso cautela e uma boa equipe de posicionamento para avaliar as possibilidades e precauções.
*Douglas Miquelof – Diretor de negócios e inovação da Compasso Coolab.
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O produto virou ferramenta, o valor está no símbolo

*Vinicius Martinez
Durante anos, o mercado girou em torno do produto. O mundo mudou, e o consumidor mudou com ele. Hoje, o que define o desejo não é mais o que você vende, mas o que você representa, com quem você é conectado. O produto sozinho perdeu força e espaço para o símbolo, o que ele comunica, a comunidade que ele cria e o sentimento de pertencimento que ele desperta.
Agora é a conexão dos 4Cs: consumidor, custo, conveniência e comunicação. O poder saiu da prateleira e foi para o feed. O produto deixou de ser o fim e se tornou o meio de diálogo, de status, de identidade.
Campanhas social first cresceram justamente porque falam de gente, não de coisas. Elas criam comunidade, convidam o público para dentro e transformam consumidores em porta-vozes culturais. E quando a audiência vive a marca, o consumo acontece naturalmente. A nova influência é viva, espontânea e criativa.
A geração Z e os millennials não querem mais assistir a anúncios. Eles querem fazer parte da história. Os creators viraram marcas e as marcas viraram plataformas. Hoje o desafio diário é buscar profundidade de comunidade, posicionando narrativa e transmitindo propósito.
O mercado de comunicação vive uma fase de evolução e aprendizados diários. As fronteiras entre agência, consultoria, house e creator estão desaparecendo, integrando e tornando mais colaborativo o conteúdo final das entregas. Os players de mercado que entenderam isso estão se fundindo, se reestruturando e criando modelos híbridos, capazes de entregar estratégia, cultura e negócio na mesma mesa.
Não é sobre ser “de trade”, “digital” ou “publicidade”. É sobre resolver o problema real do cliente, com criatividade como ferramenta, dados como base e alinhamento estratégico de dentro para fora. O desafio está justamente em entregar campanhas de sucesso para um cenário 360 com o consumidor final.
O Brasil como laboratório cultural – O Brasil entende essa virada como poucos. Aqui, um drop vira conversa, um lançamento vira meme, uma collab bem feita vira comportamento social. Da febre do Labubu ao lifestyle de On, Lululemon e Yalo, o público busca símbolos que traduzam quem ele é ou quem gostaria de ser. O consumo automaticamente se adapta para uma forma de expressão, um reflexo de identidade. Por isso, não vendemos mais produto, vendemos símbolos que conectam pessoas e criam cultura.
Enfim, o produto é só o passaporte. O que vale é o que vem depois: a conversa, a experiência, o pertencimento. E quando o produto deixa de ser mercadoria e vira símbolo, ele ultrapassa o mercado e entra na vida das pessoas. A nova economia é movida por cultura, não por catálogo.
*Vinicius Martinez – Sócio-diretor da influência, agência do Grupo HÜK
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Agências independentes na contramão: autonomia em tempos de transformação

*Juliene Nigro
A Inteligência Artificial não está apenas transformando a operação das agências: está provocando um reposicionamento estrutural no mercado global. Durante a edição deste ano do Web Summit Lisboa, líderes como Tiffany Rolfe, diretora global de criação da R/GA, e Ajaz Ahmed, fundador da AKQA (agora Studio One), reforçaram um movimento que já vinha ganhando força: a volta das agências independentes ao centro do mercado
Após anos dentro das holdings, os executivos deixaram claro que estruturas hipercomplexas não acompanham mais o ritmo da tecnologia.
Por décadas, grandes grupos justificaram sua relevância por meio da economia de escala. Isso não se sustenta mais. A criatividade, agora com a IA, não prospera sob camadas de aprovação, processos engessados e medo, por parte dos colaboradores, de reestruturações constantes.
Com a IA, a automação e os novos fluxos, escala passou a ser definida pela qualidade das ideias, e pela capacidade tecnológica de amplificá-las. Não pelo tamanho da equipe.
Vivemos em um momento paradoxal: por um lado, há uma forte tendência de consolidação no setor de agências, fusões, aquisições, holdings cada vez maiores. Por outro, surgem vozes que afirmam que o crescimento não deve sacrificar a agilidade, a criatividade e a capacidade de adaptação.
A independência, nesse sentido, emerge como uma alternativa estratégica: não se trata apenas de “ser pequeno”, mas de ser livre para reinventar o próprio modelo de negócio.
Claro, o movimento não é isento de riscos. Manter-se independente exige disciplina financeira, governança sólida e visão clara para gerir o fundo de inovação. Há também a pressão por resultados novíssimos, não apenas para clientes, mas para investidores. E, mais ainda, existe o desafio cultural: mudar o mindset interno para operar sob novas regras de contratação, remuneração e performance.
O debate no palco do Web Summit Lisboa, neste ano, foi um manifesto. Um manifesto de que, na era da IA e da inovação contínua, as agências precisam mais do que tamanho: precisam de autonomia para decidir, testar e transformar.
Enquanto tantas apostam na consolidação, outras vão na contramão, acreditando que a verdadeira vantagem competitiva se constrói com liberdade, cultura ágil e visão de longo prazo.
É um movimento ousado, arriscado, mas cheio de significado: porque mostra que, para algumas agências, a independência não é apenas uma condição de mercado; é, sobretudo, uma estratégia de sobrevivência e relevância no futuro da criatividade.
* Juliene Nigro – Vice-presidente de operações da Mootag








