Artigos
Como premiar os colaboradores de forma econômica e inteligente?

Jansen Moreira
Pela nossa experiência, o uso de premiações é uma excelente estratégia para mudar o comportamento das pessoas e engajar os colaboradores nas metas da empresa. Por isso, esse tipo de ação tem atraído cada vez mais organizações em busca de um desempenho melhor de seus times.
Apesar disso, para essa estratégia deslanchar de vez, ainda existem alguns mitos que precisam ser desconstruídos em algumas empresas. Muitos gestores partem da premissa de que, para ter um resultado efetivo, é necessário contar obrigatoriamente com recompensas grandiosas como carros, oferta de viagens internacionais e quantias significativas em dinheiro, etc.. Contudo, os dados nos mostram que esta premissa não é necessariamente verdadeira.
Estudo realizado pela Incentive Research Foundation (IRF), em 2020, nos Estados Unidos, traz algumas conclusões interessantes sobre as preferências de premiações dos funcionários das empresas. O item mais citado entre as premiações preferidas é um dia de folga. Além de completamente fora do radar quando se pensa em campanhas, muitas vezes esse é um custo que pode ser pouco representativo para a empresa. Logo em seguida, vem gift cards de comida/produtos. Outra conclusão interessante é sobre os itens que se observa uma grande preferência dos funcionários, mas são pouco utilizados pelas empresas. Dentre esses itens, os maiores destaques são: pontos que podem ser acumulados para serem gastos onde quiser e pagamento de alguma experiência especial (uma refeição fora com a família, por exemplo).
A pesquisa evidencia claramente que premiações simples são capazes de engajar todo um time de vendas. Entretanto, muitas empresas dificultam esta ação no meio do caminho. Recentemente, me deparei com uma situação, a qual um grande player do mercado brasileiro idealizou uma ação para o Dia das Mães. A iniciativa visava conceder uma caixa de bombom para os vendedores que mandassem as “melhores fotos” com suas mães. Parecia ser algo tranquilo, mas acabou se complicando ao longo do tempo. Ao longo da campanha, houve uma logística onde foram necessários cinco dias para liberação da verba de compra. Depois, foi preciso comprar as caixas de bombom em uma loja de conveniência, com gastos aproximado de R$ 45, além de R$ 8 de estacionamento. Nos correios, os envios para quatro estados distintos totalizaram R$ 146, com tempo de entrega de 14 dias. Toda essa peregrinação mostra o quanto o barato pode sair caro em algumas situações, além de não surtir o efeito esperado. Neste exemplo, cada caixa de bombom custou aproximadamente R$ 60.
Por isso, quando o assunto é campanhas de incentivo de vendas, existem inúmeras possibilidades das empresas se organizarem de uma forma econômica e inteligente. Um exemplo é a Motorola, que idealizou uma ativação com os vendedores dos canais varejistas. Independente das metas alcançadas, a marca disponibilizou, por SMS, vouchers aos profissionais para resgatarem “casquinhas de sorvete” em uma grande rede fast food presente em todo o país, para o vendedor que se cadastrar na plataforma. Dessa forma, conseguiu trazer mais rapidamente atenção e engajamento nas campanhas abertas pela empresa, com um gasto médio para a ativação por usuário de R$ 3, atingindo uma parcela enorme dos profissionais
Chama a atenção o conceito de premiação utilizado pela empresa de telefonia. Afinal, dar R$ 3 de recompensa para cada profissional traria um sentimento negativo para a equipe, mas uma casquinha de sorvete com o mesmo valor agrega um desejo lúdico. Esse tom criativo de reconhecimento, portanto, é muito mais efetivo do que uma premiação convencional. Afinal, quem quer ser o único do time sem a casquinha?
Histórias como essas nos ajudam a perceber o quanto ainda temos marcas distantes da ponta da cadeia, incapazes de executar ações teoricamente simples. Por outro lado, felizmente, já há indústrias que começam a ter um olhar mais humanizado para os vendedores, sendo capazes de compreender suas necessidades e o quanto as micro recompensas podem ser eficientes em algumas ativações.
Seja com dias de folga, casquinhas de sorvete, ingressos para assistir uma peça teatral ou vouchers em apps de delivery, as micro recompensas são uma alternativa plausível para certas campanhas de incentivo. Os mimos que muitas vezes julgamos serem básicos, podem ser essenciais para aproximar as grandes empresas dos seus colaboradores, sejam eles internos ou externos (dos canais de venda, por exemplo), criando um sentimento de pertencimento e aproximação com a marca.
Jansen Moreira é CEO e fundador da Incentive.me, startup de tecnologia para gestão de campanhas de incentivo de vendas.
Artigos
Retail media network: o varejo como protagonista da publicidade digital no Brasil

*Paulo Moratore
O mercado brasileiro de Retail Media – redes de publicidade apoiadas em ativos de varejistas – vive um boom de crescimento. O mercado alcançou o número de R$ 3,8 bilhões o ano passado, um salto de 42,3% sobre 2023 – avançando em um ritmo que é o dobro da média global, de 20,3%. Ainda que represente cerca de 0,6% do mercado mundial, hoje o Brasil tem a maior taxa de expansão do mundo na categoria.
E esse movimento tem acontecido justamente porque varejistas e a indústria estão abraçando essa tendência com velocidade – tanto é que a expectativa é que esse canal de mídia encerre 2025 com um crescimento significativo em relação a 2024. Isso demonstra que o varejo nacional está decidido a se tornar protagonista na publicidade digital, surfando na “terceira onda” da mídia online – como as redes retail media têm sido chamadas. Em outras palavras, há um consenso crescente de que varejistas se tornarão potências publicitárias, com papel central na conexão entre marcas e consumidores.
Ao menos 64% das grandes marcas brasileiras já trabalham com retail media, de acordo com a pesquisa Retail Media Insights, de 2024. Do lado dos varejistas, 55% afirmam já operar sua própria rede de mídia – de supermercados a farmácias e marketplaces, diversos segmentos estão criando estruturas para monetizar suas audiências.
O poder de segmentação do Varejo
Por trás da ascensão das redes retail media está um ativo valioso do varejista: os dados primários (first-party data) de seus consumidores. Diferentemente de outros veículos, o varejo detém informações ricas sobre o comportamento de compra – histórico de transações, itens visualizados, frequência de visitas, preferências e até dados de programas de fidelidade. Essas informações permitem uma segmentação extremamente precisa do público. Varejistas podem alavancar os insights de compra de seus clientes para oferecer soluções de publicidade hiper segmentadas, atingindo o consumidor certo com a mensagem certa e no momento mais oportuno.
Essa capacidade de segmentação baseada em dados próprios ganha importância estratégica num contexto de maior restrição ao uso de cookies de terceiros e demanda por privacidade. Os varejistas, atuando como “donos da audiência”, conseguem entregar para as marcas audiências qualificadas e intencionadas, algo difícil de encontrar em outras mídias na mesma escala.
Por exemplo, uma rede de farmácias pode segmentar anúncios de vitaminas apenas para clientes que compraram produtos de saúde recentemente, ou um supermercado online pode promover alimentos orgânicos para consumidores que buscam por itens fitness. O uso inteligente do histórico de compras, buscas e perfil demográfico torna os anúncios muito mais relevantes para o consumidor, elevando as vendas e a fidelização à marca. Estudos destacam que o retail media oferece justamente essa possibilidade de personalização em massa, combinando alcance com conteúdo sob medida para cada cliente.
Além disso, a qualidade dos dados do varejo permite métricas de desempenho mais robustas. Como as redes retail media operam dentro dos sistemas do próprio varejista, é possível atribuir diretamente o resultado de uma campanha às vendas realizadas, fechando o ciclo completo da mensuração. Essa atribuição “closed loop” – em que se consegue conectar a impressão do anúncio à transação no caixa – é um grande diferencial. A riqueza dos dados de compra e a capacidade de atribuir o retorno sobre o investimento diretamente tornam o retail media uma estratégia muito valorizada pelas marcas.
Para os anunciantes, isso significa que investir no canal do varejo não é um salto no escuro: ao contrário, os resultados em vendas podem ser comprovados com rapidez e precisão, facilitando a justificativa do investimento e o otimização de campanhas em tempo quase real.
Integração entre digital e offline: impacto direto no PDV
Um aspecto importante das redes retail media é a integração entre os mundos online e offline. Alguns dos maiores varejistas operando no Brasil contam com uma base enorme de clientes tanto no online, quanto no offline. Isso permite que essas empresas façam uma combinação única de canais para engajar o consumidor em múltiplos pontos de contato durante sua jornada de compra.
Outro exemplo: um cliente pode ser impactado por um banner de produto no aplicativo móvel do supermercado e, ao visitar a loja física, se deparar com uma oferta personalizada em uma tela digital na gôndola ou perto do caixa. Essa sinergia on–offline leva a mensagem publicitária até a “última milha” do processo de decisão, literalmente quando o consumidor está com o produto em mãos. Não à toa, especialistas veem a retail media como uma maneira de influenciar a escolha do consumidor no instante crítico da compra – um potencial antes restrito a materiais de PDV tradicionais.
Dentro das lojas, a mídia digital in-store vem ganhando espaço como extensão das redes de varejo. Telas inteligentes, totens interativos, painéis eletrônicos de prateleira (ESLs) e até monitores no carrinho de compras se tornam inventário publicitário. Varejistas podem posicionar estrategicamente essas telas próximas aos checkouts ou corredores de alta circulação para estimular compras de última hora.
É lógico que, do ponto de vista operacional, a integração entre o online e offline exige um esforço tecnológico de mensuração: unificando os dois meios. Isso ainda tem sido um desafio para os varejistas, cuja solução tem sido a personalização por meio de campanhas de fidelidade cada vez mais aprimoradas. Mesmo que ainda haja questões tecnológicas, a direção é clara: o futuro da mídia de varejo está em oferecer uma experiência omnichannel coesa, onde pouco importa se a interação aconteceu no mundo virtual ou no mundo físico – ambos os ambientes se complementam para engajar o consumidor e gerar resultado para as marcas.
Mudança de paradigma: de canal de vendas a canal de mídia
O surgimento das Retail Media Networks representa uma mudança de paradigma na forma como se enxerga o papel do varejo no mix de marketing. Historicamente, varejistas eram vistos apenas como canais de distribuição e pontos de venda, enquanto a construção de marca e a publicidade ficavam a cargo de veículos de mídia tradicionais, ou mais recentemente das plataformas digitais. Com a virada para retail media, essa separação se desfaz: o varejo agora é também um veículo de comunicação de massa, passando a concorrer por budgets publicitários que antes iriam para outros meios.
Na prática, grandes redes de varejo tornaram-se verdadeiros publishers, monetizando seus websites, aplicativos e lojas assim como um portal de notícias vive de anúncios ou uma emissora de TV vende espaço comercial.
Para as marcas anunciantes, isso representa uma reconfiguração das estratégias. Uma parte do investimento que antes era destinada a ações de trade marketing no ponto de venda físico migra para ações de mídia nas propriedades digitais do varejista. Outra parcela, que iria para mídia de massa genérica, pode agora ser alocada de forma mais focalizada via retail media, atingindo exatamente o shopper no “momento da verdade” da compra.
Essa convergência faz com que marketing e trade se unam, exigindo que gestores pensem de forma integrada: vender e comunicar viraram facetas de uma mesma jornada do consumidor. Como resultado, grandes anunciantes globais já estão reorganizando times e orçamento para contemplar esse novo pilar. Há quem chame esse movimento de “mediafication” do varejo – ou seja, o varejo deixando de ser apenas distribuição e se tornando também mídia.
Se antes os supermercados, farmácias e lojas de departamento eram apenas palco para as estratégias de outras mídias, agora eles têm holofotes próprios. Esse modelo redefine não só fluxos de investimento, mas também exige novas abordagens de todos os players do mercado. Marcas precisam ser mais data-driven e orientadas a performance, agências precisam incorporar novos conhecimentos e habilidades, e os varejistas assumem responsabilidades de media companies, zelando pela experiência do consumidor também em termos de conteúdo e relevância de anúncios.
O ecossistema de publicidade se expande e se complexifica – porém, no centro dessa transformação, há uma lógica clara: quem estiver mais próximo do consumidor na jornada de compra ganha voz e valor no jogo da mídia. O varejo, com suas plataformas próprias, provou estar no lugar certo e na hora certa para capitalizar essa dinâmica. Resta às demais peças do mercado se adaptarem a esse novo paradigma, integrando o retail media em suas estratégias para não ficarem para trás nessa evolução que, ao que tudo indica, veio para ficar.
*Paulo Moratore – Head da unidade de negócios Retail Experience da Selbetti Tecnologia
Artigos
SEO não morreu, mas mudou de nome, agora é AEO

Sabe aquele ditado “nada se cria, tudo se transforma”? Quando se trata de estratégias de SEO, deveria ser “nada morre, tudo muda”. Afinal, já ouvimos diversas vezes ao longo dos últimos anos que a estratégia de “Search Engineering Optimization” havia desaparecido, mas ela continua evoluindo.
Mais maduro, técnico e competitivo, o SEO está passando por uma verdadeira revolução. Não porque perdeu relevância, mas pelo novo comportamento das pessoas no digital. Quando a forma de procurar informação muda, a maneira como oferecemos a resposta ou a solução para as pessoas também precisa se transformar.
Diante deste cenário, o nome da vez é AEO, também conhecido como “Answer Engine Optimization”. A lógica por trás desse novo conceito é simples. Se antes o foco estava em otimizar o conteúdo para buscadores como o Google, a partir de agora começamos a pensar em como otimizar respostas para ChatGPT, Gemini, Claude e outras IAs Generativas.
Essa mudança de comportamento faz sentido. Segundo uma pesquisa global realizada pelo Google em parceria com a Ipsos, o Brasil está acima da média mundial no uso de Inteligência Artificial Generativa. O levantamento ainda mostra que 54% dos brasileiros declararam ter utilizado ferramentas desse tipo em 2024, enquanto a média global foi de 48%. Além disso, 65% dos entrevistados no país afirmaram confiar no potencial da tecnologia, índice superior aos 57% registrados globalmente.
Os buscadores estão dando espaço para respostas conversacionais. E cada vez mais gente prefere perguntar diretamente a um assistente de IA a digitar palavras soltas no Google. O potencial é gigante, mas não podemos esquecer que o AEO não é só uma sigla nova.
É uma mudança de mentalidade. Em vez de pensar em palavras-chave e backlinks, é preciso entender a pergunta completa que a pessoa irá fazer, analisar o contexto e reconhecer a intenção de quem busca. Essa estratégia exige um conteúdo mais claro e profundo sobre as necessidades do seu público.
Ao mesmo tempo, o AEO está longe de ser uma ciência exata, pois os próprios modelos de IA variam nas respostas.
Um estudo interessante perguntou 100 vezes ao ChatGPT qual seria o melhor software de suporte. O resultado apontou Zendesk em 94% das respostas, mas Freshworks, Zoho e Intercom também surgiram com frequência. Ou seja, não existe um domínio claro nesse novo ranking, tudo vai depender do tom, da abordagem e do contexto da pergunta.
Mesmo assim, o mercado já está se mexendo. Entre 2023 e 2025, o número de negócios que têm “IA”, “Inteligência Artificial” ou termos semelhantes no nome cresceu 857%, saltando de 142 novos CNPJs para 1.209. Os dados são do estudo “CNPJs do Brasil”, da BigDataCorp, divulgado na Época Negócios.
Existem diversas startups investindo pesado nisso. Inclusive, algumas tentando decifrar os algoritmos dos LLMs para ajudar empresas a posicionar melhor seus conteúdos nessas plataformas. Algumas delas são HubSpot, Cognizo, Otterly, e a lista não para de crescer.
Será que o SEO vai perder espaço? Talvez. Quem sabe, ele se reinventa de novo. O importante é entender que o comportamento digital está em transformação. E, com ele, as formas de se comunicar, de ser útil e de gerar valor.
Não estou dizendo que devemos abandonar o SEO tradicional. No entanto, pode ser a hora de ampliar o olhar e considerar novas possibilidades. Como queremos aparecer e, principalmente, otimizar as respostas da IA em um mundo cada vez mais conversacional.
Afinal, ser encontrado continua sendo algo importante.
Mas, daqui para frente, ser relevante na resposta talvez seja ainda mais.